Fabricantes de peças veem mercado ainda ruim em 2015

A indústria de peças para motocicletas prevê uma piora do cenário neste e no próximo ano, de acordo com especialistas do setor. Fornecedores de montadoras e de itens para reposição estão sendo prejudicados pela desaceleração do consumo, devido ao cenário macroeconômico doméstico.
Em 2014, as vendas de peças para reposição, em uma situação melhor do que aquelas voltadas para as montadoras, devem crescer 2% ao invés dos 6% projetados pela Associação Nacional dos Fabricantes e Atacadistas de Motopeças (Anfamoto) no início do ano. O segmento de peças para montadoras não divulga dados.
"A dificuldade para obtenção de crédito nos bancos prejudica as vendas de motos, assim como os fornecedores das montadoras, enquanto o cenário econômico de incertezas diminui as compras dos consumidores, impactando os fornecedores de peças para o mercado de reposição", explica o presidente da Anfamoto, Orlando Leone, em entrevista ao DCI.
De acordo com ele, ainda não existem projeções para 2015, mas o cenário deve ser mais difícil do que o observado até o momento. "A perspectiva não é muito boa. No ano passado, pensávamos que o primeiro semestre de 2014 seria um problema, porém, com uma retomada após as eleições. Os resultados vistos na primeira metade deste ano, entretanto, nos forçaram a reavaliar o cenário e ficamos sem uma prospecção para 2015", salienta Leone.
O pessimismo ganha força com a expectativa de reajustes de preços das matérias-primas, como o aço, e a possibilidade de avanço do desemprego no País, de acordo com profissionais.
"O setor de reposição está um pouco melhor [em comparação com o das montadoras], visto que ao deixar de comprar motos novas os consumidores investem na manutenção das existentes", diz o supervisor administrativo da Jojafer, Luciano Cassiano. "Mas até ele já sente uma retração nas vendas", acrescenta.
A empresa diminuiu de 15 para 10 o número de funcionários com o objetivo de ajustar sua produção a atual demanda do mercado.
"Os consumidores finais estão adquirindo apenas o necessário em função do medo de comprar e não conseguir pagar. Notamos também um receio em relação ao desemprego", aponta Cassiano.
Ele também contou que teve de repassar para o preço final parte da alta de 14% registrada nos preços das matérias-primas.
A Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo), a produção de motos pode cair até 3% em 2014, para 1,625 milhão de unidades em comparação com o mesmo período do ano passado.
"O cenário ideal seria o varejo vender mais de seis mil unidades de motos por mês neste terceiro trimestre, mas os índices atuais de julho giram em torno de cinco mil unidades", explica o diretor executivo da Abraciclo, José Eduardo Alves de Gonçalves.
Diversificação
Para minimizar as perdas, indústrias estão apostando em nichos diferenciados, como é o caso da multinacional brasileira Sabó. A fabricante de sistemas de vedação e condução para automóveis, caminhões, tratores e motocicletas, está apostando mais no segmento de reposição de motopeças. "Sempre atendemos esse setor, mas agora estamos apostando nele com mais foco e força, afinal estamos falando de uma frota composta por mais de 20 milhões de motocicletas", conta o gerente de after market (reposição) da empresa, João Lucchesi.
Outra fabricante de peças para motos que decidiu reforçar a sua atuação neste mercado é a MTE - Thomson. "O mercado de motos é muito grande no Brasil e nós queremos atendê-lo com mais ênfase nos próximos anos", diz o gerente de marketing da MTE-Thomson, Alfredo Bastos.
O investimento da empresa na linha de peças para motos surge também como uma alternativa a retração registrada nas vendas de automóveis ao longo de 2014.
"É sempre importante buscar uma diversificação dos setores atendidos, para não depender de um em especial", afirma. "Apesar do cenário difícil, apostamos em um crescimento das vendas em 2015 devido a essa entrada com mais força no setor", diz o gerente de marketing da MTE-Thomson.