Monday, June 24, 2013

Canon estabelece projeto de longo prazo para AL

É um fim de tarde agradável em Kyoto, na região centro-sul do Japão. Capital do país até 1868, quando o governo foi transferido para Edo, atual Tóquio, a cidade é o centro de uma prática milenar: a preparação de gueixas, ou "geiko", como são conhecidas no país. Pela tradição, moças na faixa dos 15 anos ligam-se a uma casa de gueixas ("okya"), onde passam por um treinamento árduo. Tanto que de cada 80 garotas que se inscrevem por ano, 60 desistem no primeiro ano de estudos. Nessa tarde, uma geiko e uma aprendiz ("maiko") dançam e servem os convidados no restaurante Sa-A-Mi, localizado no parque Maruyama. Com gestos delicados e precisos, revelam com sutileza a beleza de sua arte.
Precisão também é uma exigência associada a outro ícone do Japão - a fotografia. E como ocorre no preparo das gueixas, essa é uma atividade que tem deixado muita gente pelo caminho. Nos últimos anos, grupos como Kodak, dos Estados Unidos, e Olympus, do Japão, perderam espaço por falhas de estratégia ou gestão. Os tropeços abriram espaço para novatas na área, como as coreanas Samsung e LG, que avançaram de forma agressiva no setor. Na Canon, tradicional fabricante japonesa de câmeras fotográficas e equipamentos de impressão, a reação foi reformular a linha de produtos e expandir os negócios em países emergentes.
No mercado latino-americano, a investida da Canon tem sido mais lenta que a de competidores como a LG, e as japonesas Sony, Panasonic e Fujifilm, que já têm fábrica no Brasil e escritórios nos demais países da região.
Meta é obter forte crescimento das vendas na região, a partir de um plano de ações bem estudado
A expectativa na Canon é de obter um forte crescimento na América Latina nos próximos anos, disse Fujio Mitarai, presidente do conselho e executivo-chefe da Canon, durante recente encontro com jornalistas da região, em Tóquio. "Na década de 70, a Ásia representava 7% dos negócios da Canon. Agora, representa 23%. A América Latina experimenta um crescimento semelhante ao que viveu a Ásia no passado", afirmou o executivo. Em dez anos, a projeção é que a região representará 20% da receita global da Canon. No ano passado, a participação correspondeu a 8% da receita líquida da companhia.
A Canon registrou uma queda de 9,7% no lucro líquido em 2012. Os ganhos totalizaram 224,56 trilhões de ienes (US$ 2,58 bilhões). A receita caiu 2,2%, para 3,48 trilhões de ienes (US$ 40 bilhões). O desempenho foi prejudicado pela redução na demanda mundial por câmeras compactas e impressoras. A divisão Américas (que inclui Américas do Norte, Central e do Sul) registrou queda de 8,9% nas vendas, para 940 bilhões de ienes (US$ 10,8 bilhões). Quando se toma a América Latina, no entanto, o resultado das vendas foi positivo, de acordo com Taro Maruyama, presidente e executivo-chefe da Canon na região.
Como o percurso que separa a maiko da geiko, a fabricante japonesa planeja fazer um trabalho de longo prazo na América Latina. Na primeira fase, disse Maruyama, os investimentos serão restritos aos países onde a empresa já tem escritórios - Brasil, Argentina, Chile, Panamá e México. A estratégia vai se concentrar em ampliar parcerias com canais de vendas e melhorar a estrutura administrativa e de distribuição.
Colômbia, Peru e Argentina são países que podem receber investimentos da companhia, mas dentro de alguns anos. "Atualmente está em fase de estudos a instalação de escritórios nesses países, com grande potencial de crescimento, mas o investimento só seria realizado no longo prazo", afirmou Maruyama.
Por enquanto, a ação mais ofensiva foi no Brasil, onde a empresa investiu R$ 2,6 milhões em uma fábrica de câmeras fotográficas em Manaus, além de passar a prestar serviços técnicos aos consumidores.
Fujio Mitarai disse que, além de câmeras digitais, a companhia avalia produzir impressoras laser no Brasil. Jun Otsuka, presidente da Canon do Brasil, confirmou a intenção. A produção, no entanto, não seria feita na unidade de Manaus, mas em linhas de produção de uma fábrica localizada em Sorocaba mantida pela Flextronics, empresa de manufatura sob encomenda com sede em Cingapura.
No curto prazo, a Canon não pretende instalar novas fábricas na América Latina, disse Mitarai. O executivo disse ver potencial para a instalação de um centro de distribuição ou uma unidade de produção de câmeras e impressoras no México "no futuro". "Gostaríamos de ter subsidiárias em 30 países, mas vamos considerar o crescimento de vendas em todos os mercados e depois estabelecer canais de distribuição ou subsidiárias", afirmou.
Em seu esforço tecnológico, a companhia lançou recentemente câmeras digitais com conexão sem fio (Wi-Fi) para tornar reconquistar os consumidores que têm usado os smartphones para tirar fotos do cotidiano. Essas câmeras podem ser conectadas a celulares ou outros dispositivos para enviar fotos.
A Canon também avalia adotar o sistema operacional Android, do Google, em suas câmeras, como a Nikon e a Samsung fazem com alguns modelos compactos.
Masaya Maeda, diretor-presidente da divisão de operações de produtos de comunicação de imagens da Canon, disse que o uso dos smartphones para tirar fotos fez crescer o interesse de consumidores pela fotografia, o que estimula as vendas mundiais de câmeras profissionais.
O mercado global de modelos profissionais cresce dois dígitos ao ano, disse Ken-Ichi Shimbori, diretor da divisão de operações de produtos de comunicação de imagens da companhia. Para 2013, a estimativa é de uma expansão de 12%, para 9,2 milhões de unidades. A Canon planeja crescer na mesma velocidade, mantendo uma participação de mercado de 46%, disse Shimbori. No segmento de câmeras compactas, o executivo prevê uma queda de 12% nas vendas globais, para 16,2 milhões de unidades. Para reverter esse quadro, o plano é reforçar a inovação tecnológica para ganhar força e empurrar o adversário para fora da competição. Será a hora de abandonar a imagem da gueixa e adotar a do lutador de sumô.
Valor Econômico - 19/06/2013
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