terça-feira, 10 de maio, 2016

Calçadistas evitam repasse de preços por temer novas quedas

São Paulo - Ao atravessar a pior crise dos últimos anos, as lojas de calçados estão evitando repassar aumentos nos preços dos produtos aos consumidores por receio de que as vendas sejam ainda menores. Só no ano passado, o setor sofreu uma retração de 8% frente a 2014.
Segundo empresários ouvidos pelo DCI, para proteger os preços aplicados, os custos como os derivados de inflação e importação têm sido divididos entre indústrias e varejistas, em uma negociação que se tornou constante com a brusca queda nas vendas do setor em 2015.
Segundo uma pesquisa elaborada pela consultoria especializada em consumo Kantar Worldpanel, os brasileiros desembolsaram 17,3% menos com a compra de sapatos no ano passado, em comparação com o ano anterior. O volume de peças adquiridas e a frequência de ida às lojas também foram menores, com redução de 5% e 5,7%, respectivamente.
"Atravessamos um período de racionalização do consumo e os calçados não são prioridade de compra. É um item que ele pode, e está, cortando por conta da baixa confiança na economia", diz a gerente de contas da Kantar Worldpanel, Thaís Ribeiro.
A consultora revela ainda que, só no ano passado, 149,2 mil brasileiras deixaram de adquirir calçados, dado que impulsionou a retração verificada.
"As mulheres representam a maior queda porque elas também detêm a maior participação nas vendas. O que observamos é que houve uma mudança no comportamento delas. Se antes adquiriam três ou quatro sapatos por venda, agora compram apenas um", conta.
A queda resultou em uma menor participação feminina nas vendas. Se em 2014 os sapatos femininos representavam até 54,8% das saídas totais do setor, no ano passado o índice caiu para 51,1%, abrindo espaço para os calçados familiares, que pularam de 3,6% para 5,8% na mesma base de comparação.
"O segmento de sapatos familiares cresceu no mesmo período em que outros caíram, pois se trata de produtos que podem ser utilizados por mais de uma pessoa. A família passa a comprar um produto para que os dois filhos usem e assim evita outros gastos", explica.
Enquanto os segmentos masculino, feminino e infantil registraram quedas no número de compradores, o familiar cresceu e atingiu 12,9% mais consumidores no ano passado, na comparação com 2014.
Diante da retração do cenário como um todo, algumas lojas como a Raphaella Booz, por exemplo, estão buscando cortar na carne os custos com operação e importação dos itens. Entretanto, a briga atual da empresa é para não repassar essas elevações para os consumidores, visto que as vendas já não estão boas.
"Nossa estratégia tem sido reduzir todos os excessos possíveis e aumentar os investimentos em comunicação e relacionamento com o cliente. Existe, por parte de toda a cadeia, uma perda total de confiança na economia", afirma o diretor e fundador da Raphaella Booz, Claudio Booz.
Apesar disso, o executivo relata ter percebido o início de uma possível recuperação no começo deste ano. "Aumentamos 11% em relação ao período anterior, mas o mercado encontra-se totalmente estagnado", lamenta.
Na busca por uma reação, a rede, que atualmente conta com 28 lojas, abrirá uma nova unidade em Miami, nos Estados Unidos. Além disso, a companhia prevê iniciar a operação de vendas pela internet até setembro deste ano.
"Ainda não temos operação on-line, mas a previsão é de implantação até o terceiro trimestre. Com isso, estimamos crescer entre 15% e 20% em faturamento este ano", prevê o diretor. No ano passado, segundo ele, a marca registrou faturamento estável, sem perdas ou altas.
Vendas diretas
Ao trabalhar com o modelo de venda porta a porta, a calçadista Quinta Valentina também tem buscado segurar o repasse de preços para o cliente final, mas não conseguiu evitar a queda no tíquete médio por compra.
"[O tíquete médio] deve ter reduzido pelo menos 30% entre 2015 e este ano. No entanto, trabalhamos para que a revendedora converta essa perda com novos consumidores, e assim equilibre seu balanço", diz o sócio fundador da Quinta Valentina, Renato Kuyumjian.
Como parte dos insumos para fabricação dos calçados é importado, Kuyumijan conta que houve, por parte dos fornecedores, um indício de que, por conta da cotação do dólar em alta, alguns preços subiriam. Para driblar esse problema, a saída foi se aproximar ainda mais das fabricantes de calçados.
"A gente vem desde o ano passado criando vínculos maiores com fornecedores. Fazemos contratos, às vezes, para o ano inteiro, o que é vantagem para nós e para eles", comenta.
De acordo com o empresário, as vendas da loja no primeiro trimestre ficaram bem acima do esperado e superaram o registrado no mesmo período do ano passado. Os números, porém, não foram revelados.
Atualmente com mais de 200 representantes franqueadas, a rede faturou R$ 8,3 milhões em 2015, o suficiente para garantir um crescimento de 23% frente ao calculado em 2014. Para este ano, a empresa prevê faturar até R$ 10,1 milhões, o que significaria um novo avanço orgânico de 23% nas receitas brutas.
Desafio logístico
Diferentemente das demais lojas, a varejista 33/34, que só comercializa calçados destinados a quem calça número pequenos, prevê crescer até 40% este ano. No entanto, a estratégia de preços é a mesma das concorrentes. "Não fizemos nenhum reajuste em nossos produtos. A indústria manteve os preços nas reposições de modelos básicos e isso nos permitiu trabalhar sem ajustes", conta a fundadora da 33 e 34, Tânia Gomes.
Para a empresária, além da crise econômica que afeta o consumo, um dos maiores gargalos que o seu negócio enfrenta na atualidade está na questão logística. "O calendário é muito longo para entrega das compras. A indústria leva de 30 a 45 dias para entregar um pedido. Esse prazo torna a gestão de estoque um desafio, principalmente para as varejistas menores como nós", reivindica.
DCI - 10/05/2016
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