Friday, July 08, 2016

Símbolo da classe C, iogurte perde espaço na cesta de compras

O alongamento da crise econômica no país levou consumidores a cortar o consumo de iogurtes - produto considerado símbolo do aumento do poder de compra da população. De acordo com a consultoria Kantar Worldpanel, o mercado de iogurtes encolheu 5,7% em volume de vendas no ano passado e segue no mesmo ritmo este ano.
As categorias grego e iogurte líquido (para beber) são exceções, com crescimentos de 3,7% e 2,7%, respectivamente. No segmento de valor agregado alto, o consumo de linhas light recuou 14,8% em 2015. As versões com polpa de fruta também apresentaram queda de 15,5%. Os rótulos funcionais sofreram redução maior: de 21,2%.
"Antes os consumidores ainda mantinham o consumo de produtos premium. Agora cortam também essas linhas. De modo geral, os brasileiros começam a abrir mão das suas conquistas de consumo", disse Christine Pereira, diretora da Kantar, acrescentando que esse movimento também acontece em outras categorias de produtos.
A francesa Danone - dona das marcas Activia, Danone e Paulista - lidera o mercado brasileiro de iogurtes, com 37,3% de participação, de acordo com a Euromonitor International.
No primeiro trimestre deste ano, a Danone informou em seu balanço que seu desempenho no Brasil foi prejudicado pela rápida desvalorização do real em relação ao euro e pelo ambiente de instabilidade no país. A companhia também afirmou que, apesar do resultado negativo em iogurtes, houve crescimento de dois dígitos nas vendas na área de nutrição para bebês e no segmento de nutrição médica. Globalmente, as vendas da empresa caíram 3% de janeiro a março, para € 5,3 bilhões.
O fato de a Danone ter comprado ontem a americana WhiteWave Foods, que fabrica alimentos e bebidas orgânicas, mostra que a gigante francesa está apostando em um novo setor para voltar a crescer. (Ver reportagem na página B8)
No Brasil, as companhias tentam se adaptar ao novo momento do consumidor, reforçando linhas que ainda avançam, como a do iogurte grego, e colocando no mercado embalagens econômicas.
O Grupo Lactalis, dono da marca Batavo e de uma participação de 5,1% no mercado, lançou uma versão maior, de 500 gramas, para seu iogurte grego. "Com uma embalagem mais econômica, a companhia oferece a possibilidade de consumir o iogurte grego com melhor relação custo benefício em relação às embalagens individuais [de 120 gramas]", disse Guilherme Portella, diretor de relações institucionais do Grupo Lactalis do Brasil.
No primeiro semestre, a Lactalis também lançou embalagens "tamanho família" para suas linhas de iogurtes líquidos e light. No segundo semestre, a companhia reformula as embalagens de petit suisse. A companhia não divulga dados sobre seu desempenho no Brasil. Portella disse apenas que o mercado nacional de iogurtes tem se mostrado "desafiador, mas o desempenho positivo em algumas categorias, como iogurtes gregos e sobremesas lácteas, tem ajudado a equilibrar a performance".
A Vigor, do grupo JBS, também aposta no iogurte grego e no aumento da distribuição de seus produtos para crescer no país. Anne Napoli, diretora de marketing da Vigor, disse que as vendas da companhia cresceram 5,3% no período de janeiro a maio, enquanto o mercado como um todo encolheu 5% no mesmo intervalo. A Vigor é a sexta maior marca do setor, com 1,6% de participação.
"É uma combinação de fatores. A companhia expande as vendas em várias regiões, antes atuava muito concentrada em São Paulo. Outro ponto é a inovação, com a introdução de linhas de iogurte grego, produtos infantis e embalagens econômicas, que ajudam na composição do crescimento", afirmou Anne.
Há duas semanas, a Vigor inaugurou uma fábrica em Barra do Piraí (RJ), fruto de investimento de R$ 130 milhões, para produção de iogurtes, leite longa vida e itens para cadeias de restaurantes. A unidade vai atender o Rio de Janeiro, Minas Gerais e o Espírito Santo. Anne disse ainda que a Vigor pretende colocar novas linhas de produtos no varejo neste semestre.
A Nestlé, segunda colocada no mercado de iogurtes, com 20,8% de participação, informou que investiu em lançamentos, com as linhas de iogurtes sem lactose para o público infantil e adulto, iogurte grego em versões light e um petit suisse com sabor de leite. Dona de marcas como Chamyto, Molico e Ninho, a Nestlé informou que segue com crescimento nas vendas das principais categorias do mercado, mas não citou números. A companhia também observou que o foco da área de publicidade estará nas linhas de iogurte grego.
Apesar da redução nas vendas em volume, o mercado brasileiro de iogurte ainda registrou aumento de receita no ano passado. De acordo com dados da Euromonitor International, a alta em valor foi de 7,8% em 2015, totalizando R$ 14,64 bilhões. Para o período de 2015 a 2020, a Euromonitor estima que esse mercado crescerá, em média, 4,2% ao ano em receita, chegando ao fim do período a R$ 17,95 bilhões.
O cenário difícil não tem impedido companhias de outros segmentos de investir nesse mercado. A Coca-Cola anunciou a compra, em dezembro, da fabricante mineira de lácteos Verde Campo. No mesmo mês, a General Mills adquiriu a fabricante de iogurte paranaense Carolina.
Valor Econômico
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