SABMiller mede o risco de faltar água na África

A cervejaria tem um longo histórico na nação da África Meridional. A Zâmbia apresentou algumas das maiores taxas de crescimento econômico do continente nos últimos dez anos e os zambianos gostam de uma cervejinha. Nos últimos oito anos, o crescimento das vendas de cerveja da SABMiller no país, em volume, foi de 7,1% - mais que o dobro do que na África como um todo.
Ainda assim, apesar de todos os pontos positivos, a Zâmbia é considerada de alto risco em uma questão crítica: a disponibilidade de água, a força vital da indústria de cerveja. Então, enquanto a SABMiller estuda expandir-se no país, também alerta para a possibilidade de ter de transladar sua cervejaria na capital, Lusaka, em vista do aumento da concorrência por recursos.
"Dependendo da taxa de crescimento e do volume, podemos transferir-nos", disse o CEO da SABMiller, Alan Clark. "Estamos falando agora de períodos, de 5, 10, 15 anos".
A disponibilidade de água para consumidores e empresas na África e em outras regiões em desenvolvimento vem se tornando uma grave preocupação, em meio ao crescimento das populações e à rápida urbanização, o que aumenta a pressão sobre uma infraestrutura subdesenvolvida e sobrecarregada. Crises de água são classificadas como o maior risco mundial em termos de impacto, segundo o informe deste ano do Fórum Econômico Mundial sobre riscos mundiais.
Para as cervejarias isso é particularmente crucial - para cada litro de cerveja produzida, a SABMiller precisa em média de 3,3 litros de água, sendo que na Zâmbia o volume é ainda maior, em torno a 4 litros. Para os refrigerantes, o número diminui para cerca de 1,9 litro.
"A Zâmbia tem um nível relativamente alto de chuvas, então há água suficiente espalhada pelo país para a população", diz Clark. "A questão gira em torno a quanta água está disponível em Lusaka. Como é o processamento da água, como é a condição da água? Então, pode haver uma área de estresse em torno a isso."
Na cervejaria da SABMiller em Lusaka, o grupo usou cerca de 2,5 milhões de hectolitros de água para produzir cerveja em seu ano financeiro passado, encerrado em março, e 1,3 milhão de litros para refrigerantes.
Para conter o risco de falta de água, a SABMiller tomou medidas para reduzir o uso de água em suas cervejarias em mais de 25% em comparação aos volumes de 2008, incluindo a reciclagem de água e aperfeiçoamentos na medição.
Nos últimos 12 meses, reduziu o uso de água em 29 milhões de hectolitros - o equivalente à água usada por mais de 116 mil africanos a cada ano, segundo o grupo.
Agora, a SABMiller traçou como meta uma redução de mais 20%, para 3 litros de água por cerveja, até 2020. "O impacto direto [da escassez de água] no momento realmente se trata do fornecimento direto às cervejarias", diz Clark. "Há um problema de médio a longo prazo com a agricultura e nossa rede de abastecimento, e o impacto total da água em nossa rede de abastecimento."
A SABMiller obtém cerca de 30% de seus lucros na África. Investe entre US$ 400 milhões e US$ 450 milhões em bens de capital na região, com a meta de elevar a receita no continente em mais de 10% nos próximos três a cinco anos.
A Nigéria é outro alvo importante para expansão. Clark diz que aumentar o número de cervejarias - atualmente, são três - do grupo no país mais populoso da África "vai estar seriamente nos planos".
A disponibilidade de água, no entanto, vai estar em primeiro plano. "Estamos em concorrência direta contra as necessidades funcionais [...] quando se trata de uma comparação imediata, pessoas tendo acesso a água para beber ou acesso a cerveja, está claro quem vai perder", diz Clark. "Aqueles dias acabaram [...] simplesmente não se pode entrar em uma área e absorver recursos de forma indiscriminadamente".
O problema não está confinado à África. O fornecimento de água também é um fator de preocupação para as cervejarias do grupo na Índia e no Estado do Texas, nos EUA. No país asiático, o grupo teve de chegar ao ponto de transportar água por meio de caminhões para suas cervejarias