sexta-feira, 05 de julho, 2019

Anfavea vê ameaça de mais importações de carros da UE no Brasil e convoca 'corrida contra o tempo' por competitividade

Apesar de comemorar o acordo Mercosul-União Europeia, a associação das montadoras (Anfavea) entende que o fim do imposto de importação para carros feitos no bloco europeu pode ser uma ameaça à indústria automotiva brasileira, e convocou uma "corrida contra o tempo" por competitividade. O pacto ainda não tem data para começar a valer -- para a Anfavea, isso deve demorar 2 anos. Quando ele entrar em vigor, os veículos europeus terão tarifa reduzida gradualmente, até ela ser eliminada, dentro de 15 anos (veja mais ao fim da reportagem). O novo presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes, disse nesta quinta-feira (4) que agora a indústria nacional tem um prazo para buscar mais competitividade, referindo-se ao tempo até que o imposto para a UE seja zerado. "O (eventual) aumento da importação é uma ameaça, mas a gente tem que atacar isso", respondeu Moraes ao ser perguntando se as entradas de carros da UE no país poderão aumentar com o benefício fiscal. Por competitividade, entende-se custo de produção de um carro no país. O executivo não soube dizer o quão mais caro é fazer um automóvel no Brasil, mas a associação das montadoras divulgou, no começo do ano, um estudo comparando a indústria local com a mexicana, uma das que mais exportam. De acordo com o levantamento, produzir um carro no México custa 18% menos do que no Brasil, sendo as principais diferenças em (gastos com) materiais e logística. "O 'gap' (diferença) em relação à União Europeia certamente é muito maior", afirmou Moraes. Mais acordos na mira Segundo o executivo, o Brasil precisa ser mais competitivo não só por conta do acordo com a UE, mas porque outros pactos serão acertados. "Vem (acordo) com Japão, Canadá e Coreia do Sul", adiantou. Ainda nesta quarta, o presidente da Argentina, Mauricio Macri, disse que discute com o Brasil um acordo de livre comércio com os Estados Unidos. Considerando a chance de exportar mais, o presidente da Anfavea entende que não é o caso de a indústria local se equiparar aos europeus em todos os produtos, mas "focar no que a gente pode ser melhor". Como exemplo, Moraes citou a possibilidade de produzir e vender ao exterior carros híbridos que aceitem gasolina e etanol, uma novidade já anunciada pela Toyota para o mercado nacional. Mesmo tendo reconhecido desafios para as montadoras, o executivo comemorou o acordo como um todo: "Agora estamos na Champions League (Liga dos Campeões, o maior torneio do futebol europeu)". E destacou que a indústria automotiva também poderá ser beneficiada por medidas ligadas a outros setores, como o agronegócio. O Brasil exporta para a UE? O presidente da Anfavea informou que o novo acordo também prevê redução de tarifas pelo bloco europeu para carros fabricados no Mercosul, contrapartida que não fica clara nos textos preliminares divulgados até agora pelo governo e a União Europeia. Esses princípios ainda serão revisados e o texto final do pacto terá de ser aprovado pelo Parlamento Europeu e os congressos de todos os países do bloco sul-americano. Mas a exportação para a Europa ainda é baixa. Segundo a associação, o Brasil vendeu cerca de 2 mil veículos para o bloco no ano passado, a maioria carros. O montante é pouco perto dos 630 mil exportados ao longo de 2018, a grande maioria para a Argentina. De acordo com dados do antigo Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), em termos de valores, ao todo, foram vendidos US$ 5,1 bilhões em carros para o exterior no ano passado. Desse montante, pouco mais de US$ 13 milhões foram em exportações para a União Europeia, o que representa menos de 0,3% do total. Entre os países do bloco europeu, a Alemanha foi quem mais comprou carros brasileiros, ainda pelo ranking em valores. Foram US$ 4,8 milhões, em 2018. Em seguida ficaram Bélgica (US$ 4,5 milhões), França (US$ 1,1 milhão) e Itália (US$ 686 mil). 15% dos carros vêm da UE A balança comercial entre União Europeia e Brasil, considerando a venda de carros, ainda é bem desequilibrada. Tendo vendido cerca de US$ 13 milhões ao bloco europeu, o Brasil comprou US$ 661 milhões em automóveis da UE no ano passado, ainda segundo dados do governo federal. O valor equivale a 15,6% do total de importações de carros, que foi de US$ 4,19 bilhões. A maior parte dos modelos trazidos de fora do Brasil vem da Argentina, onde a maioria das grandes marcas têm fábrica, aproveitando a isenção da tarifa de importação e do Imposto sobre Produto Industrializado (IPI), vantagens que existem para comércio entre países do bloco sul-americano. Entre os europeus, a Alemanha também foi quem mais exportou veículos para o Brasil no ano passado, ainda em termos de valores: US$ 253 milhões, ou pouco mais de 5% do total comercializado. Em seguida, aparecem Reino Unido (US$ 131 milhões), França (US$ 86,4 milhões) e Suécia (US$ 48,9 milhões). Redução gradual do imposto A redução de imposto de importação do Mercosul para carros da União Europeia acontecerá de duas formas, segundo a Anfavea: - primeiro, uma cota anual de 50 mil veículos (32 mil só para o Brasil) vai pagar metade da alíquota, que hoje é de 35%. Isso vale para os primeiros 7 anos do acordo; - a partir do 8º ano, o imposto começa a cair para todos os carros da UE, gradualmente. As alíquotas devem ficar assim: ano 8: 28,4% ano 9: 21,7% ano 10: 15% ano 11: 12,5% ano 12: 10% ano 13: 7,5% ano 14: 5% ano 15%: 2,5% ano 16: zero Também haverá redução "linear" do imposto para autopeças, diz a associação, entre 10 e 15 anos.
G1 - 04/07/2019
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