segunda-feira, 04 de julho, 2016

Concorrente quer ocupar espaço da Takata

O defeito no sistema de airbag da fabricante japonesa Takata que levou ao maior recall mundial de veículos ainda não afetou os negócios da filial brasileira do grupo, com fábrica em Jundiaí (SP). A empresa, porém, se prepara para provável queda de mercado ao reconhecer que deve perder contratos dos novos projetos das montadoras. Marcas concorrentes se preparam para assumir o vácuo que a hoje líder do mercado brasileiro de airbags pode deixar. Na linha de frente estão outras duas gigantes no ramo que já atuam no País, a Autoliv e a TRW. Além delas, a GDBR, subsidiária da japonesa Toyoda Gosei, com fábrica inaugurada em 2015 em Itapetininga (SP), conseguiu contrato para um novo carro da Honda, segundo fontes do mercado. A Honda do Brasil informa que não utilizará mais insufladores de airbags da Takata em novos modelos, mas não revela nomes de fornecedores. A Fiat Chrysler anunciou lá fora que deixará de usar airbags Takata. Outra fabricante da peça, a KSS - Key System Safety, grupo americano adquirido pela chinesa Ningbo Joyson, pode apressar plano de instalar fábrica no interior de São Paulo. “Todas as montadoras estão renegociando contratos para novos produtos. Se perdermos o projeto lá fora, perderemos também no Brasil”, admite Airton Evangelista, presidente da Takata brasileira. O insuflador (peça que apresenta o problema que levou ao recall) não é feito no Brasil. É importado pela Takata da Alemanha, México e China. Até agora, cerca de 80 milhões de carros passam por recall em todo o mundo. No Brasil, são 2 milhões de veículos, a maioria da Honda e da Toyota, mas também foram feitas convocações por Fiat Chrysler, Mitsubishi, Nissan Subaru, Volkswagen e Audi. Segundo Evangelista, o grupo enfrenta situação bastante crítica e negocia aportes com fun dos de investimento. “Já há grupos interessados em investir.” Sem novo aporte, a Takata não conseguirá bancar os custos do recall, multas e indenizações previstas, valor projetado em US$ 10 bilhões. O grupo fatura cerca de US$ 6 bilhões por ano. Cotações. Arnaldo Coronel, diretor comercial da Autoliv, diz que a empresa tem sido consultada, mas, por enquanto, não fechou nenhum novo contrato. A fábrica de Taubaté (SP) produz cerca de 74 mil airbags por mês. A TRW, fabricante do item em Limeira (SP) não comenta o tema, mas fontes dizem que ela tem feito cotações para diversas montadoras. A maioria das concorrentes da Takata, como TRW e Autoliv, está fornecendo insufladores para o atendimento do recall do chamado “airbag mortal”, pois a empresa não dá conta de atender a demanda. Elas utilizam nitrato de guanidina como indutor de abertura dos airbags, enquanto a Takata usa nitrato de amônio, apontado como responsável pela forte explosão que provoca o rompimento da peça metálica que envolve a bolsa inflável. Partes da peça são expelidas como navalhas e já causaram 14 mortes nos EUA e na Malásia e mais de 100 feridos, nenhum deles no Brasil. A Takata também vai substituir o amônio pela guanidina.
Empresa tem planos de lançar airbag lateral
Ainda que o futuro seja incerto para o grupo Takata – fundado em 1933 no Japão –, a filial brasileira mantém novos planos, como o de produzir airbags laterais no País. Hoje, produz as bolsas frontais (para motorista e carona) e as de proteção aos joelhos, com boa parte dos itens importados. Além da unidade de Jundiaí (SP), onde são feitos os airbags, o grupo tem fábrica de cadarços para cintos de segurança em Pi- çarras (SC), para volantes em Mateus Leme (MG) e para bolsas de airbag no Uruguai. A Takata pretendia construir uma quinta fábrica, em Pernambuco, para atender à Fiat Chrysler, mas o projeto está congelado. “Fornecemos airbags para o jipe Renegade e a picape Toro”, informa Airton Evangelista, presidente da Takata do Brasil. Segundo ele, nos dias de hoje, mais do que o recall gigante, o que prejudica os negócios da filial brasileira é a crise econômica e política, que levou à queda das vendas de veículos. O grupo se preparava para produzir anualmente 6 milhões de airbags a partir de 2014, mas neste ano deverá fabricar no máximo 3,5 milhões em razão da queda na demanda. “Apesar disso, fizemos poucos cortes de pessoal”, diz o executivo. As quatro fábricas empregam 2,4 mil funcionários, 100 menos que há dois anos. O problema financeiro enfrentado pela matriz não afetou a subsidiária. “Nossas contas estão equilibradas; não recebemos dinheiro de fora nem mandamos dinheiro para lá”, afirma Evangelista. A empresa fatura cerca de US$ 300 milhões ao ano e não acredita que será convocada a ajudar em eventual so corro à matriz. Evangelista afirma que o problema da explosão inadequada dos airbags afeta, principalmente, veículos mais antigos, produzidos entre 2001 e 2004. Segundo ele, a Takata deflagra semanalmente, para testes, 5 mil airbags recolhidos no mercado e os problemas se concentram nos produtos mais velhos, que sofreram desgaste com o tempo. Nos últimos anos, a empresa alterou a forma de uso do nitrato de amônia e, depois, introduziu um produto para evitar a umidade que afeta a amônia.
“O que está matando as pessoas não são os novos airbags”, diz. Ele ressalta ainda que muitas consumidores não atendem ao recall. “A última pessoa que morreu nos EUA tinha recebido cinco cartas e não fez a troca.” O chefe do Departamento de Marketing da ESPM, Marcelo Pontes, diz que uma das maneiras de uma empresa que passa por esse problema não ter a imagem prejudicada é não mascarar o defeito, não arrumar desculpas e ser sincero. “Tem de assumir o problema e resolvê-lo de maneira rápida e eficiente”.
O Estado de S. Paulo
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