quinta-feira, 16 de abril, 2015

Trabalhador brasileiro recorre cada vez mais aos self services

Com poder de compra reduzido pela crescente inflação, o trabalhador brasileiro tem feito de tudo para economizar. Isso inclui a alimentação fora de casa. Essa busca tem elevado a demanda nos restaurantes de autosserviço, mais conhecidos como "self services".
"Em uma operação de autosserviço, o trabalhador encontra uma boa variedade de alimentos que suprem a demanda básica estipulada pela Organização Mundial da Saúde [ONS]", disse o diretor-presidente da Associação das Empresas de Refeição e Alimentação Convênio para o Trabalhador (Assert), Artur Renato Brito de Almeida.
De acordo com a entidade, em anos anteriores as operações - restaurantes com prato feito, a quilo, executivo e à la carte - tinham igual preferência entre os consumidores. Já de 2010 para cá, os que atuam com a venda de comida a quilo são os preferidos dessa parcela economicamente ativa. "Eles estão defendendo os seus bolsos do aperto", explicou Almeida.
Além dos self services, os restaurantes que oferecem pratos feitos, popularmente chamados de 'PF', também estão na mira dos trabalhadores brasileiros. "Eles oferecem maior custo-benefício na hora da alimentação", disse ele.
Mudança de hábito
E não é apenas o bolso mais apertado que tem feito o consumidor mudar de restaurantes. "Temos pessoas cada vez mais preocupadas com a saúde que querem produtos saudáveis para se alimentar", afirmou ao DCI o diretor de operações da rede Divino Fogão, Emiliano Oliveira.

Com 30 anos no mercado de food service, a companhia só trabalhava - no começo - com pratos prontos, mas passou a atuar com a venda a quilo para atender a demanda dos consumidores. "Fizemos a substituição para atender clientes que estavam de dieta, por exemplo", afirmou ele.
Segundo o executivo, muito mais do que pagar barato para se alimentar, nos dias atuais a possibilidade de uma pessoa conseguir almoçar em casa é realmente muito pequena. Logo, isso tem feito com que o setor, por mais que o País sinalize viver uma crise, cresça de forma significativa.
"Cada vez mais as mulheres entram no mercado de trabalho e colocam os seus filhos nas creches, sendo quase impossível ter tempo de ir em casa almoçar. Outro ponto é que as empresas estão mais enxutas não tendo refeitórios para que os seus colaboradores levem marmita", explicou ele.
Com tíquete médio de R$ 30 para refeições completas (que envolvem prato, sobremesa e bebida) e de R$ 24 só para alimentos, Oliveira dispensa qualquer preocupação com uma possível queda nas vendas.
"A crise é algo bem pontuada e não acredito que seja em todos os segmentos. O que pode acontecer é o consumidor comer em menor quantidade. O que gastava R$ 40 em alimentação vai gastar R$ 30 e assim por diante", argumentou ele.
Para este ano estão previstas 15 novas unidades o que fará a Divino Fogão chegar a 196 lojas. "Nosso faturamento cresce cerca de 12% e a abertura de lojas, em uma média de 15%. Mesmo com a migração do consumidor para gastos menores, não temos perspectiva de rever nossas estimativas", disse Oliveira.
Medidas
Para o diretor-presidente da Assert, além de atender de forma mais profissionalizada esses trabalhadores que se alimentam fora de suas casas, os empresários proprietários de restaurantes devem encontrar o equilíbrio entre precificação e custo operacional. "Temos a inflação a pressionar o valor dos alimentos desde o ano passado. Nesse ano o maior impacto será o aumento das contas de águas e luz", explicou Oliveira.
Nos últimos 10 anos, a inflação tem pressionado o preço dos alimentos. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontou que no período a inflação dos alimentos avançou 99,73%, enquanto o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) geral ficou em 69,34%. O impacto da inflação é diferente entre os alimentos consumidos em casa e os fora do lar. No primeiro, nos últimos 10 anos a influência inflacionária foi de 86,59%. Já nos alimentos consumidos nas ruas o índice foi de 136,14%.
Entre as soluções mencionadas pelo especialista está a negociação no preço do aluguel do ponto e a redução de custos. "Quem opera nos shoppings, em especial, tem de tentar melhorar o preço dos aluguéis por eles são bem caros. Sem isso eles não vão conseguir evitar o repasse de preços", disse.
Foi justamente isso que a Divino Fogão fez. "Temos negociados preços mais atrativos com as administradoras. No caso do fornecimento de produtos, compramos sempre de quem nos oferece o menor preço", explicou Oliveira.
Mesmo com os prós e contras, o food service no Brasil tem apresentado um crescimento expressivo. A expectativa é que sejam comercializadas 7,8 milhões de refeições por dia. Essa estimativa refere-se apenas à venda de alimentos com tíquetes e cupons em estabelecimentos comerciais, segundo a Associação Brasileira de Refeições coletivas (Aberc).

Mercado
Segundo pesquisa encomendada pela Assert à Datafolha, hoje 80% dos trabalhadores que recebem o benefício do vale alimentação já gastam mais de R$ 600 por mês - só almoço, somando os custos de segunda a sexta-feira. Quem trabalha também aos sábados gasta mais de R$ 700 em alimentação.
A média de gasto dos brasileiros nas grandes cidades brasileiras está em R$ 27,36. "Isso aponta a mudança na composição das famílias e na urbanização das cidades", explicou o diretor presidente da Assert, Artur Renato Brito de Almeida.
O especialista afirmou que, no Brasil, quase 19 milhões de trabalhadores são beneficiados com vale alimentação segundo o Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT). Em vigor há 15 anos, ele tem como foco ajudar as pessoas de baixa renda - cerca de 80% dessa parcela -, ou de até 5 salários mínimos. A criação do programa ajudou na expansão do food service.
Dados mais recentes do IBGE, referentes a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) apontam que hoje, 31,1% das despesas das famílias são em alimentação fora do lar. "Esse tipo de programa existe em diversos países do mundo. No País ele começou na década de 1970, mas ainda é pequeno. O benefício do cartão alimentação está condicionado a um acordo de trabalho firmado por sindicatos, não sendo obrigatório."
DCI
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