sexta-feira, 03 de outubro, 2014

Setores farmacêutico e de bebidas já refletem piora da atividade industrial

SÃO PAULO - A aparente melhora no desempenho da indústria entre julho e agosto não sinaliza mudança na tendência de queda da atividade, dizem economistas. Isso porque setores que vinham bem, como farmacêutico e de bebidas, já começam a mostrar baixa.
A produção industrial avançou 0,7% em agosto ante julho, mantendo a mesma taxa de crescimento registrada um mês antes. No entanto, em relação a agosto do ano passado a atividade tem queda de 5,4% e, no ano, acumula baixa de 3,1%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A fabricação de produtos farmacêuticos foi o principal destaque negativo, com queda de 7,4% no mês de agosto frente julho. Apesar disso, ante agosto do ano passado, o segmento registra avanço de 2,1% e acumula 5,6% no ano.
O economista e professor da PUC-SP, Antônio Corrêa de Lacerda, atribui a queda mensal a perda do poder de compra da população, afetado pelo avanço da inflação.
A produção de bebidas, que também vinha com bom desempenho no ano, surpreendeu com recuo de 6,1% em agosto. Sobre igual mês do ano passado, entretanto, a produção baixou 6,6 %.
"Como a base de comparação para esse cálculo partiu de um patamar alto, uma variação negativa não significa necessariamente um resultado ruim", pondera o gerente do IBGE, André Macedo, destacando que a baixa mensal é consequência do desempenho acima da média para atender a demanda gerada pela Copa do Mundo em julho .
Bens de consumo
Enquanto os bens semiduráveis e não duráveis registraram queda de 0,8% em agosto ante julho, os bens duráveis caíram 10,3% no mesmo período, recuo bem mais acentuado. Na comparação com agosto, houve retração de 3,1% e 17,9%, respectivamente. "O estímulo ao consumo tem tido uma eficácia menor [na indústria] que no passado e há um fator de esgotamento. Mas o cenário é resultado de um conjunto de fatores", explica Macedo.
Já o professor da PUC-SP justifica a forte queda no setor de bens de consumo duráveis pela junção do desempenho no setor automotivo, a queda nas exportações para a Argentina e a saturação do mercado local. "O impacto tem se intensificado nos últimos meses, mas alguma recuperação é possível", disse Lacerda.
De acordo com o IBGE, a categoria bens de capital não teve variação entre julho e agosto, já os bens intermediários avançaram 1,1% no período. Sobre agosto do ano passado, as categorias recuaram 13,4% e 3,3%, na mesma ordem.
Perspectiva
Em relatório, o estrategista do Banco Mizuho, Luciano Rostagno, projeta uma continuidade da trajetória de queda da produção industrial. O banco prevê retração de 2,5% no indicador geral.
Segundo o economista da Tendências Consultoria, Rafael Bacciotti, apesar da melhora, a elevação no nível dos estoques ainda preocupa e a confiança do empresário continua baixa", disse em entrevista ao DCI.
O economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, também não vê na alta mensal uma perspectiva de sensível melhora. "Um argumento que corrobora este ponto é o recuo contínuo da confiança do setor, que ainda é observado em setembro", avalia Gonçalves, em relatório.
Para os economistas, o ambiente eleitoral atual reforça um quadro de incertezas, enquanto a recente desvalorização do Real pode indicar um caminho mais benéfico para a indústria nacional.
Diário Comercio Indústria & Serviços - 03/10/2014
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