segunda-feira, 20 de janeiro, 2014

Unilever muda e incorpora manteiga

Paul Polman, o CEO da fabricante de margarina Unilever, criticou a manteiga no passado, dizendo que a gordura com lactose "mata". Agora que as vendas dos produtos "para espalhar" da companhia estão baixas, ele parece vê-la de uma forma diferente.
Em setembro, em uma medida que o presidente da Unilever Foods, Antoine de Saint-Affrique, chama de "virada fundamental" de um negócio de US 4,8 bilhões que passa por dificuldades há anos, a Unilever acrescentou manteiga à Rama na Alemanha, a maior marca de margarina no país. Após anos posicionando a manteiga como inimiga da margarina, a batalha acabou, disse ele em uma conferência com investidores em 5 de dezembro.
A rendição da Unilever chega enquanto a manteiga volta à popularidade, apoiada por novas pesquisas sobre nutrição, programas de culinária na TV e a adoção pelos consumidores de tudo que seja natural. O consumo de manteiga per capita chegou a seu nível mais alto em 44 anos em 2012, segundo dados do governo dos Estados Unidos, ao passo que o de margarina está no seu patamar mais baixo em 70 anos. Na Alemanha, as vendas de manteiga superam as de margarina por uma margem de três a um, e a brecha está se ampliando porque a margarina não cresceu em 2013, segundo a empresa IRI, que monitora dados.
"A margarina virou um símbolo de comida barata, processada, artificial", disse Marion Nestle, professora de nutrição da Universidade de Nova York. "É uma ironia. A Unilever teve problemas para desenvolver margarinas saudáveis, mas agora o espírito da época começou a prejudicá-los". [No Brasil, a Unilever é dona da Becel]
Para a multinacional, acrescentar manteiga à Rama chega depois que as vendas em volume da divisão declinaram por seis trimestres consecutivos. Os analistas esperam outra queda quando a companhia anunciar os resultados do quarto trimestre em 21 de janeiro. A companhia não quis fazer comentários sobre o assunto antes da divulgação do balanço.. Os produtos para "untar" representam cerca de 7% das vendas totais da empresa.
Enquanto marcas da Unilever como a Flora passavam por problemas, a manteiga prosperou. Uma queda de 21% no preço no terceiro trimestre tornou-a mais acessível frente aos seus rivais de origem vegetal. E novas pesquisas contestaram a visão de que a gordura saturada na manteiga causa doenças cardíacas, disse Assem Malhotra, do Grupo de Controle da Obesidade da Real Academia Britânica de Associações Médicas.
A manteiga se beneficia ainda da tendência de consumo de comidas mais naturais, com ingredientes simples, incentivada pelos chefes celebridade e por programas como "Heartland Table" da Food Network, que a chama de "a seiva essencial de todo prato".
Os investidores da Unilever estão perdendo a paciência com a divisão de margarinas e os pedidos para vender parte ou todo o negócio, que segundo estimativas vale pelo menos € 8 bilhões, se acumulam, segundo o analista da MainFirst Alain-Sebastian Oberhuber.
Por enquanto, Polman apoia o segmento e quer inclui-lo no rol de produtos naturais. Na conferência d 5 de dezembro, ele disse que a margarina "é um produto natural" porque "é feita de azeite da mesma forma como a manteiga é feita de leite". E acrescentou que a marca começa a recuperar participação de mercado, embora ainda esteja nas etapas iniciais de seu plano.
Esse discurso pode ser difícil de vender. "Por vinte anos, nos disseram que a manteiga é ruim", disse David Turner, analista da Mintel, "e agora eles a colocam de volta na margarina deles? Para o consumidor, é um grande passo."
Valor Econômico - 0/01/2014
Produtos relacionados
Ver esta noticia em: english
Outras noticias
DATAMARK LTDA. © Copyright 1998-2024 ®All rights reserved.Av. Brig. Faria Lima,1993 3º andar 01452-001 São Paulo/SP