quinta-feira, 09 de janeiro, 2014

O homem que precisa dar novo brilho à BlackBerry

A fabricante canadense BlackBerry (que até o começo do ano passado se chamava Research In Motion, ou RIM) já foi um símbolo do mercado global de smartphones. Durante muito tempo, os aparelhos da marca foram considerados a melhor ferramenta de produtividade para as empresas e seu uso originou até "a oração do BlackBerry" - uma referência ao movimento de baixar a cabeça para manusear o telefone por baixo da mesa, numa ação que se tornou comum em reuniões de negócios e lembrava o ato de fazer uma prece.
Infelizmente para a BlackBerry, o mercado de celulares mudou. Os consumidores residenciais ganharam destaque no segmento e a companhia não conseguiu manter-se competitiva frente a rivais como Samsung e Apple.
Agora, depois de tentativas recentes malsucedidas - incluindo uma tentativa de fechar o capital - a BlackBerry quer voltar às suas origens e concentrar-se no mercado empresarial para voltar a crescer. "As empresas serão parte fundamental do nosso processo de recuperação nos próximos 18 meses. As margens são maiores nesse segmento", disse John Chen, executivo-chefe da companhia, durante encontro com jornalistas na feira de eletrônicos CES, em Las Vegas. O Valor foi a única publicação brasileira a participar do encontro.
Na empresa há cerca de dois meses, Chen foi contratado inicialmente para ser o presidente do conselho, com a tarefa de definir uma estratégia de negócios e contratar um executivo para substituir Thorsten Heins, demitido em novembro, no comando das operações. No meio do processo, Chen disse ter percebido que para seria mais fácil assumir o comando executivo interinamente para dar os primeiros passos e passou a acumular os dois cargos. Mais recentemente, em uma mudança de planos, Chen assumiu o cargo de maneira efetiva. "Não fizemos nenhum anúncio oficial, mas eu já mudei meus cartões de visita. Os clientes não querem esse tipo de instabilidade", disse.
A decisão de voltar a se concentrar no mercado empresarial não está mais centrada exclusivamente nos aparelhos. A ideia é ampliar a venda de softwares da BlackBerry para garantir que as informações trocadas por meio de dispositivos móveis trafeguem de forma rápida e segura. A abordagem remete ao passado do executivo. Chen foi o responsável pela reestruturação da companhia americana Sybase, de sistemas empresariais. A companhia foi comprada pela alemã SAP em 2012, por US$ 5,8 bilhões, mais de 15 vezes o valor de mercado da empresa quando o executivo assumiu o posto, 13 anos antes.
A princípio, disse Chen, o alvo serão companhias e governos de cinco países (Alemanha, França, Canadá, Nova Zelândia e Estados Unidos), onde a BlackBerry tem uma base de 40 mil clientes. Em outros mercados, como o resto da Europa e países emergentes, incluindo o Brasil, a meta é ajustar a operação. Na América Latina, o executivo disse que precisa acertar a estrutura para vender serviços para empresas. "Se não crescermos nos cinco mercados prioritários, o avanço nos emergentes não será suficiente para atingir os objetivos nos próximos 18 meses", disse.
A meta de Chen é que a BlackBerry volte a ser lucrativa até o fim do ano fiscal que termina em outubro de 2016.
A estratégia voltada ao mercado empresarial não significa, no entanto, que a BlackBerry vá abandonar as vendas aos consumidores comuns. A ideia é fazer isso sem tanto impacto financeiro, disse Chen. A companhia fechou, no mês passado, um acordo com a chinesa Foxconn, que ficará responsável pela produção dos aparelhos desenhados pela companhia e pelo gerenciamento dos estoques de produtos e componentes, A Foxconn também vai assumir parte da tarefa de projetar os aparelhos, especialmente os destinados ao mercado de consumidores.
Com a Foxconn, afirmou Chen, a BlackBerry pretende disputar o mercado telefones baratos, vendidos em países emergentes. "Eles vão trazer o volume de vendas de que nós precisamos", disse. Segundo o executivo, o acordo com a Foxconn não é exclusivo e poderá ser estendido a outras companhias.
Desde que chegou à BlackBerry, Chen também fez mudanças significativas na alta gestão, trocando executivos em diversas áreas. Na semana passada, a cantora Alicia Keys, que no ano passado havia sido contratada para ajudar no desenvolvimento de produtos, foi dispensada. "Foi uma questão de foco", disse Chen.
Na segunda-feira, a companhia anunciou a contratação de Ron Louks, ex-executivo da Sony Ericsson e da HTC, para comandar a criação de novos celulares. O executivo também será responsável por desenvolver negócios em novas áreas.
Chen não deu detalhes de quais áreas vão receber mais atenção, mas afirmou que uma das que despertam mais interesse para a BlackBerry é a de comunicação entre máquinas, o chamado M2M. "Se todos os habitantes do planeta tiverem dois celulares, o mercado potencial para esses dispositivos será de 14 bilhões de unidades. É um número significativo, mas com o M2M, as oportunidades são ainda maiores", disse.
Segundo a Cisco, fabricante americana de equipamentos de rede, 50 bilhões de dispositivos estarão conectados à internet até 2020. O M2M também é conhecido como "internet das coisas".
Para Chen, uma das áreas mais promissoras em M2M é a de veículos, na qual a companhia já tem alguns acordos para o uso de seu software QNX. A ideia é ampliar esse mercado e, ao mesmo tempo, buscar novas áreas. Tudo isso, no entanto, exige paciência e preparação. Chen disse levar de 6 a 9 meses para fechar um acordo desse tipo. Depois, o produto tem que ser desenvolvido. "Estamos falando de um ciclo de pelo menos dois anos", disse.
Valor Econômico - 08/01/2014
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