segunda-feira, 23 de setembro, 2013

BlackBerry luta para recuperar espaço

Há boas e más notícias na BlackBerry, a fabricante canadense de smartphones. A companhia, que até o início do ano se chamava Research In Motion (RIM), começa a vender no exterior, nos próximos dias, seu mais novo aparelho, o Z30, com o qual espera recuperar o brilho perdido em seu mercado central, de produtos mais caros, voltados principalmente ao uso empresarial. A companhia também está estendendo a usuários de telefones com os sistemas Android e iOS - dos rivais Google e Apple - seu prestigiado e até agora exclusivo sistema de comunicação BBM, uma mudança vista internamente como uma prova de força da empresa em sua nova fase.
As novidades, porém, têm sido eclipsadas por notícias sobre o desempenho da companhia e os receios do mercado sobre seu futuro. No início da semana, o "The Wall Street Journal" publicou que a BlackBerry prepara-se para cortar 40% de sua força total de trabalho até o fim do ano. Em março, o dado mais recente disponível, a companhia tinha 12,7 mil funcionários.
Ontem, os investidores internacionais foram surpreendidos com outra notícia, de que os estoques de aparelhos não vendidos da BlackBerry estariam próximos de US$ 1 bilhão, aumentando a chance de que a companhia faça uma baixa contábil - a quarta em dois anos - ao divulgar seus resultados financeiros na semana que vem.
A reação da BlackBerry no mercado de smartphones começou em 2010, com a compra da canadense QNX, dona de um sistema operacional de mesmo nome, muito usado em tecnologias embarcadas. "Cerca de 60% dos carros que circulam hoje usam o QNX", disse João Stricker, diretor-geral da BlackBerry no Brasil, em entrevista ao Valor.
Foi com base no QNX que a companhia remodelou o software básico de seus telefones e lançou sistema BlackBerry 10, o motor por trás dos lançamentos mais recentes da empresa.
A BlackBerry também reconsiderou aspectos importantes no design de seus aparelhos. Em 2007, quando a Apple lançou o iPhone original, com o qual propôs uma nova aparência aos smartphones - grandes telas sensíveis ao toque e um teclado digital no lugar do físico - muita gente torceu o nariz. A avaliação inicial de parte dos consumidores era o de que o iPhone servia para diversão. Quem quisesse mesmo pegar no batente, deveria ficar com o BlackBerry.
Com essa percepção, a BlackBerry demorou para lançar produtos com teclados digitais, quando todos os concorrentes já haviam embarcado na onda. Agora, a empresa tenta recuperar o atraso. Dois modelos - o Q10 e o Q5 - mantêm o teclado físico para satisfazer os puristas. O Z10, que desembarcou no Brasil em meados do semestre passado, têm teclado virtual, da mesma maneira que o Z30, que será vendido primeiramente no Reino Unido e no Oriente Médio, e ainda não tem data para chegar ao Brasil. "Estamos tratando de questões como homologação, certificação e adequação ao português", disse Stricker. "O processo está bem avançado e a expectativa é que o aparelho esteja disponível no país nos próximos meses." O preço ainda está sendo negociado com as operadoras.
A BlackBerry tem um longo caminho pela frente. A companhia que chegou a deter metade do mercado de smartphones na América do Norte hoje responde por uma fatia de 3,4%, segundo a empresa de pesquisa Gartner. No Brasil, não há números públicos das consultorias sobre a participação da companhia.
A renovação do software básico, feita com o lançamento do sistema BlackBerry 10, é uma parte essencial do trabalho. O mercado mundial dividiu-se em três grandes sistemas: além do iOS, exclusivo da Apple; e do Android, usado pela maioria dos demais fabricantes, com destaque para a Samsung, está no jogo o Windows Phone, da Microsoft, a gigante americana de software que recentemente comprou a operação de aparelhos da finlandesa Nokia. A tarefa da BlackBerry é posicionar-se nesse cenário extremamente competitivo.
Os aplicativos - os pequenos programas para fins específicos usados em celulares e tablets - são outra parte da missão. E a decisão de tornar o BBM compatível com sistemas rivais parece integrar essa visão. O BBM permite trocar mensagens e arquivos, como fotos e pequenos vídeos, com outros usuários, sob um sistema mais seguro que os geralmente disponíveis, uma herança do foco central da BlackBerry, de atender o mercado empresarial.
O BBM é muito popular. Segundo a BlackBerry, 60 milhões de usuários do programa trocam mais de 10 bilhões de mensagens por dia. O tempo médio também é alto: cerca de 90 minutos diários.
O movimento não significa, pelo menos a princípio, uma fonte de receita adicional para a BlackBerry. O BBM está disponível gratuitamente para os clientes da companhia e também será oferecido sem custo nas lojas virtuais do Android, onde chega no sábado, e da Apple, a partir de domingo. Mas os recursos avançados do software podem ajudar a capturar a atenção de quem é usuário de outras fabricantes, aproximando a marca de um público que, de outra maneira, permaneceria distante da BlackBerry.
A companhia também tem se esforçado para abraçar aplicativos populares que já estavam disponíveis em outros sistemas, caso do Skype, Twitter, Foursquare e Dropbox. "Cerca de dois terços dos aplicativos para Android podem ser migrados pelos desenvolvedores para o BlackBerry em poucos minutos", disse Stricker.
Quanto à notícia das demissões, o executivo disse que a BlackBerry não comenta especulações. "O que existe de oficial, e há bastante tempo, é que a empresa passa por uma revisão para se adequar ao mercado, com as pessoas certas no lugar certo", afirmou.
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