segunda-feira, 29 de abril, 2013

Renovação chega ao alto comando das montadoras

Junto com a ascensão de demanda que colocou o país entre os quatro maiores mercados automotivos do mundo, o Brasil vive uma renovação sem precedentes nos postos de comando das montadoras. Em apenas dois anos, com maior ênfase nos últimos meses, nove marcas - Ford, Hyundai, Toyota, Honda, Nissan, Mercedes-Benz, BMW, Audi e Chery - trouxeram "sangue novo" para a chefia de suas filiais.
No grupo dos executivos que estão chegando para liderar os negócios na região, Arturo Piñeiro, presidente da BMW no Brasil, e Steve St. Angelo, diretor-executivo da Toyota responsável pela América Latina, mal completaram um mês na nova função. Já o chefe de marketing da Mercedes-Benz, Philipp Schiemer, só assume em 1º de junho a presidência da montadora no Brasil, embora tenha vindo ao país nos últimos dias para participar da transição na companhia.

A lista fica ainda maior se consideradas as mudanças de presidência na General Motors (GM) e na Caoa, que fabrica utilitários da Hyundai em Goiás. Mas, nos dois casos, o cargo passou para velhos conhecidos do mercado. O colombiano Jaime Ardila, que há mais de cinco anos lidera as operações da GM na região, voltou a acumular a presidência da montadora no Brasil após duas tentativas frustradas em ter um executivo dedicado a essa posição nos últimos três anos. Já o empresário Carlos Alberto de Oliveira Andrade, dono do grupo Caoa, trouxe o ex-presidente da Ford Antonio Maciel Neto de volta ao setor ao contratá-lo, em março, para presidir sua empresa.
Com exceção da consolidada Ford, quarta maior marca do país, essa leva de executivos foi escalada para liderar uma nova fase de desenvolvimento de suas montadoras no Brasil, com a implementação de projetos de produção local e o desafio de concorrer com as marcas do pelotão de frente da indústria. Em comum, eles chegam com a missão de consolidar a nacionalização de grupos que vinham explorando o mercado brasileiro com veículos, em grande parte, importados.
Tanto a alemã BMW como a chinesa Chery constroem suas primeiras fábricas no Brasil, enquanto a Audi e a Mercedes-Benz se debruçam sobre planos para voltar a fabricar automóveis no país. Toyota e Hyundai já tinham veículos fabricados localmente, mas fincaram suas bandeiras no terreno dos carros compactos - onde estão os maiores volumes - com fábricas no interior paulista inauguradas no ano passado.
A Nissan, que hoje traz do México mais de 70% dos carros que vende no Brasil, está investindo R$ 2,6 bilhões na construção de uma fábrica em Resende, no sul do Rio de Janeiro. Por sua vez, a Honda, já instalada em Sumaré (SP) desde 1997, foi uma das marcas que mais evoluíram em vendas no ano passado.
Dessa forma, acompanhar de perto essas transformações se tornou uma prioridade para os grupos automotivos e isso implica encarregar novos gestores de confiança ao comando das subsidiárias no país. "Já pelo lado profissional, os executivos têm interesse em sair da crise na Europa e estar em mercados mais dinâmicos, como o Brasil", diz Hugo Caccuri, sócio-fundador da Caccuri, consultoria especializada na seleção de profissionais de alta patente.
Seja por particularidades nas biografias, seja pelas diferenças de trajetória profissional e formação acadêmica, é quase impossível traçar um perfil definitivo da nova safra de executivos da indústria automobilística. Mas, em geral, são funcionários de carreira, na faixa de 50 a 60 anos - em sua maioria, estrangeiros e com passagens por operações internacionais ou pela matriz de suas corporações.
Em geral, os novos presidentes são funcionários de carreira e com grande bagagem internacional
Afinidades com a cultura ou experiências em mercados de desenvolvimento próximo à realidade brasileira também ajudam nas nomeações. Nissan e Mercedes, por exemplo, colocaram no comando das subsidiárias executivos estrangeiros - porém, fluentes em português e com passagens anteriores pelo Brasil.
Em menos de um ano na empresa, François Dossa passou de diretor financeiro a presidente da Nissan no Brasil, cargo que exerce desde janeiro com a transferência de Christian Meunier, seu antecessor, para o Canadá. Mesmo com pouco tempo de casa e na própria indústria - vindo do mercado financeiro, a Nissan foi sua porta de entrada ao universo automotivo -, a familiaridade ao instável ambiente de negócios no Brasil e a habilidade em negociar com os governos daqui credenciaram Dossa a assumir o comando da filial e a missão de fazer da montadora japonesa a maior marca asiática em atividade no mercado brasileiro.
Dossa é francês, mas construiu boa parte de sua carreira no Brasil - sempre em multinacionais de seu país de origem. Hoje, considera-se mais brasileiro do que europeu. Primeiro, ele foi gerente comercial da Alstom em São Paulo na década de 80. Depois disso, entre 1999 e 2012, Dossa, já naturalizado brasileiro e dono de um título de cidadão carioca, foi presidente da sucursal brasileira banco Société Générale.
Laços com o país também foram considerados pela Mercedes ao escolher Philipp Schiemer para a presidência da subsidiária brasileira, por onde o executivo já teve duas passagens. Na década de 90, ele participou, como chefe de vendas da divisão de vans, da introdução do furgão Sprinter no Brasil. Após isso, retornou, em 2004, para assumir a vice-presidência de vendas da filial, posto que ocupou por cinco anos.
Assim como Dossa, Schiemer fala português perfeitamente. Sua bagagem conquistada em cargos de chefia pela divisão de automóveis do grupo indica que a Mercedes vai levar adiante o plano de voltar a fabricar carros no Brasil.
Já na BMW, Arturo Piñeiro tem nome hispânico e carreira construída na Espanha e nos Estados Unidos, mas é brasileiro nascido em São Bernardo do Campo, no ABC paulista. Com 18 anos no grupo alemão, sua primeira missão será concluir até o ano que vem a construção da fábrica de Araquari, no norte de Santa Catarina, onde a BMW vai investir € 200 milhões. Da mesma forma, a concorrente Audi continuou sob a batuta de um brasileiro depois que Sérgio Kakinoff foi para a Gol em julho de 2012 - deixando a direção da marca a Leandro Radomile, que está há oito anos na companhia.
Pelo lado dos estrangeiros, Kong Fan Long - antes responsável pela área de qualidade da marca - é o homem-forte da Chery desde que a montadora chinesa decidiu, há um ano, ter uma estrutura de comando própria no Brasil. Na Toyota, o americano Steve St. Angelo, baseado agora em São Paulo, assumiu no início do mês a chefia na América Latina e o cargo de chairman (presidente do conselho) no Brasil, após uma série de postos de comando da empresa nos Estados Unidos.
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