terça-feira, 26 de março, 2013

Novatas ameaçam reinado da Oracle em software

Se houve uma constante no Vale do Silício nos últimos dez anos, foi o crescimento praticamente contínuo do lucro da Oracle Corp. Isso acabou.
A Oracle, com seus US$ 32,7 bilhões em receita, ainda é uma força dominante na tecnologia graças aos seus bancos de dados e outras aplicações que empresas usam para gerenciar compras e finanças. Hoje, porém, seu negócio está sendo corroído aos poucos por firmas menores que oferecem tecnologias mais novas em nichos específicos.
A empresa, que é sediada na Califórnia e cujas ações deram um retorno três vezes maior que o mercado em geral nos últimos dez anos, divulgou na quarta-feira que sua receita com novas licenças e assinaturas de software caiu 2% no terceiro trimestre fiscal, para US$ 2,3 bilhões. No dia seguinte, a cotação da sua ação caiu 9,7%, para US$ 32,30, a maior queda desde dezembro de 2011, e depois mais 1% na sexta-feira, fechando em US$ 31,98.
Safra Catz, diretora financeira e codiretora-superintendente da Oracle, atribuiu a queda nas vendas do trimestre aos próprios equívocos da Oracle e não à demanda pelos produtos da empresa.
Mas Peter Goldmacher, que acompanha empresas de tecnologia na gestora de investimentos Cowen and Co., diz que "há um problema maior aqui" que o deslize no período. Ele observa que a Oracle teve três trimestres decepcionantes nos últimos dois anos. A Oracle ainda dá as cartas na sua base já estabelecida, mas "novas empresas estão oferecendo funções melhores ou semelhantes por um preço melhor", disse ele.
A Oracle, que foi fundada em 1977 por seu diretor-presidente Larry Ellison e outros, continua líder nas vendas de bancos de dados. Mas o mercado de software para o chamado "big data" (grandes volumes de dados processados a altas velocidades) está crescendo três vezes mais rápido que o mercado em geral.
Esse setor deve saltar quase 150% nos próximos cinco anos, comparado com 40% para o mercado mundial de bancos de dados, estima David Floyer, um dos fundadores da comunidade de pesquisa Wikibon.
As empresas também estão começando a acreditar que não precisam gastar tanto com tecnologia. Mesmo as maiores delas estão migrando para tecnologias baseadas na nuvem.
Dave Corchado, diretor de tecnologia da informação da agência de marketing digital iCrossing Inc., cliente da Oracle, diz que seus novos gastos estão agora indo para concorrentes da Oracle como a Amazon.com Inc. A iCrossing usa a Amazon para capacidade computacional e o software analítico gratuito Hadoop. Os gastos com bancos de dados da Oracle "continuam intencionalmente no mesmo nível", diz ele.
Já Manish Kapoor, diretor de TI da NuStar Energy Corp., diz que sua empresa decidiu se afastar dos produtos de banco de dados da Oracle por razões de custo.
"Banco de dados é agora uma commodity para a qual há grande concorrência", disse ele.
Quando a gigante dos planos de saúde Aetna Inc. começou a procurar por uma tecnologia para analisar dados relativos a seus 18 milhões de clientes, ela não recorreu a empresas estabelecidas como a Oracle.
Michael Palmer, diretor de inovação da Aetna, disse que as empresas estabelecidas são muito lentas e que iniciantes como a GNS Healthcare são mais aptas a "acelerar as coisas".
Empresas de software na nuvem, como a Workday Inc. e a Salesforce Inc., oferecem softwares baseados na internet que concorrem com a Oracle e podem custar muito menos que alguns dos seus produtos mais importantes. Mas a Oracle não ficou alheia às novas tecnologias e tendências de preços. Desde outubro de 2011, adquiriu as empresas de computação na nuvem RightNow Technologies Inc., Taleo Corp. e Eloqua Inc. por um total de mais de US$ 4,3 bilhões.
Os clientes dessas firmas, porém, tendem a vir mais da área de marketing do que da de tecnologia das empresas e são mais dispostos a construir uma relação com uma empresa de computação na nuvem independente do que com a Oracle, que tem fama de ser dura nas negociações, diz Rebecca Wettemann, analista da Nucleus Research Inc.
A Oracle foi a pioneira dos bancos de dados relacionais, que armazenam dados em linhas e colunas, e vem dominando esta área por cerca de 30 anos. Mas, hoje, um novo tipo de banco de dados, conhecido como NoSQL e usado, por exemplo, pelo Facebook Inc., armazena e facilita a análise de vastas quantidades de dados a um custo muito menor.
Valor Econômico
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