sexta-feira, 01 de março, 2013

Alcatel-Lucent teme perder receita devido a parceria de teles

A parceria entre as operadoras TIM e Oi para construir uma rede única de quarta geração de serviços móveis (4G) no Brasil, conforme antecipado pelo Valor no mês passado, poderá afetar as vendas da Alcatel-Lucent na América Latina, segundo afirmou o presidente da Alcatel-Lucent no Brasil, Jonio Foigel.
Ao lado de Ericsson e Nokia Siemens, a Alcatel-Lucent é fornecedora da Oi para a rede 4G. Pelo acordo entre as teles, a Oi vai instalar a rede 4G em metade das cidades previstas em 2013, e TIM nas demais. Segundo apurou o Valor, essa divisão pela metade poderá influenciar na desaceleração do crescimento da Alcatel-Lucent na América Latina.
"Crescemos 17% no ano passado na América Latina e, neste ano, vamos crescer 6%", afirmou o presidente da Alcatel-Lucent para a América Latina, Osvaldo Di Campli. Ainda assim, segundo o executivo, o percentual previsto para este ano representa o dobro da evolução estimada para a indústria de infraestrutura de rede de telecomunicações nos países da região. "Estamos 'tomando' mercado dos nossos concorrentes", disse Di Campli, referindo-se à Nokia Siemens e Ericsson. "Os suecos [Ericsson] se mantiveram estáveis na América Latina e os finlandeses [Nokia Siemens] registraram queda de 6%", disse.
Segundo Di Campli, a América Latina vem crescendo há nove trimestres consecutivos, a despeito dos resultados negativos da Alcatel-Lucent mundial. Em 2012, a multinacional francesa registrou prejuízo de € 1,37 bilhão (frente a uma perda de € 31 milhões em 2011) e teve queda de 5,8% nas vendas, para € 14,45 bilhões. A região líder em vendas é a América do Norte (40%), seguida por Europa (27%) e Ásia Pacífico (17%), enquanto América Latina, Oriente Médio e África respondem por 16%.
Os resultados financeiros levaram à demissão do principal executivo da Alcatel-Lucent, o holandês Ben Verwaayen, que estava no comando da empresa desde 2002. O novo presidente, que assume em 1º de abril, é o francês Michel Combes, que era o principal executivo da Vodafone na Europa.
Com fama de cortar custos nas empresas, Combes terá a missão de implantar o plano de reestruturação anunciado pela Alcatel-Lucent em setembro. Segundo o programa da companhia, a meta é enxugar € 1,25 bilhão em custos e demitir 5,5 mil funcionários ao redor do mundo, inclusive 30% do corpo executivo, afirmou Di Campli. "Ainda estamos estudando como essas medidas vão afetar a América Latina", disse.
A parceria de infraestrutura entre as operadoras de telecomunicações no Brasil poderá acelerar a estratégia da Alcatel-Lucent para se tornar cada vez mais uma consultoria para as teles, em vez de apenas fornecer tecnologia e equipamentos.
"É muito difícil uma operadora investir em três redes ao mesmo tempo [2G, 3G e 4G]", disse Foigel. "De certa forma, é natural que as operadoras estejam nesse movimento [de compartilhar]."
Foigel refere-se não só à iniciativa da TIM e da Oi de construir uma única rede móvel com a tecnologia de 4G Long Term Evolution (LTE), mas também à disposição da Telefônica/Vivo de buscar a Claro para compartilhar a faixa de frequência, conforme antecipado pelo Valor na segunda-feira.
Antes mesmo de assinar o contrato de fornecimento da rede LTE com a Alcatel-Lucent, em outubro, a Oi havia informado a fabricante da possível parceria com a TIM. Foigel disse que, em um primeiro momento a receita cairá pela metade, o que poderá ter impacto, inclusive, sobre os resultados da empresa neste ano.
"Mas existe uma série de oportunidades. Vamos passar a ter referência com a TIM [que em 4G é atendida por Ericsson, Nokia Siemens e Huawei]", disse Foigel. "Há uma série de aplicativos de serviços que precisam ser adquiridos pela operadoras e agora temos a chance de fornecê-los para a TIM." A ideia é oferecer também metrocélulas - conceito lançado pela Alcatel-Lucent para complementar a cobertura das redes e que se refere a pequenas estações radiobase.
As primeiras metrocélulas serão fornecidas ao mercado brasileiro no terceiro trimestre deste ano. São aparelhos que podem ser instalados em fachadas de prédios e postes de luz, por exemplo, ocupando pouco espaço. "Estamos fazendo testes com todas as operadoras", disse Foigel.
A iniciativa de trabalhar mais próximo das teles e procurar atender as suas necessidades específicas, é uma tentativa da Alcatel-Lucent de recuperar o mercado perdido por não ter investido em 3G. "A demanda pelo serviço [3G] surgiu bem na época da nossa integração com a Lucent e não pudemos acompanhar o interesse do mercado", afirmou Foigel. Hoje, a história é diferente, garante o executivo. "Nossos clientes passaram a orientar o nosso desenvolvimento. É quase um processo de cocriação".
Valor Econômico
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