terça-feira, 22 de outubro, 2013

Anfavea vê alta de 5% da produção em 2014

A pouco mais de dois meses do fim de 2012, a indústria de veículos começa a projetar o desempenho do setor para o ano que vem. Há um consenso entre representantes das montadoras de que o mercado, depois de crescer a um ritmo anual superior a 11% e mais do que dobrar de tamanho nos últimos nove anos, iniciou um ciclo de taxas de crescimento mais conservadoras. Essa desaceleração - já experimentada neste ano, quando os emplacamentos caminham para uma estagnação, ou até mesmo queda - deve continuar em 2014, dizem os executivos.
Como disse ontem Luiz Moan, presidente da Anfavea, a entidade que representa os fabricantes de veículos instalados no país, esse é o preço que o mercado automotivo brasileiro - agora o quarto maior do mundo - paga por atingir a maturidade. Ou seja, a demanda por veículos no país atingiu um patamar tão elevado que não permite mais índices de crescimento de dois dígitos vistos no passado recente.
Ainda assim, a Anfavea segue otimista quanto à produção de veículos no ano que vem. Ontem, ao participar de congresso organizado pela Autodata na capital paulista, Moan antecipou a expectativa de um crescimento de, no mínimo, 5% na fabricação de veículos em 2014. A estimativa se baseia nos mesmos pilares que sustentaram o recorde de produção neste ano: a troca de carros importados por nacionais - dadas as restrições a importações do novo regime automotivo - somada à retomada das exportações e ao avanço da motorização no interior.
Esse entusiamo, porém, não é compartilhado por todos. Para Rogelio Golfarb, vice-presidente da Ford, tanto a substituição dos importados, um movimento que "tende à exaustão", como a retomada das exportações - um fenômeno alimentado mais por desequilíbrios da economia argentina, que não se sabe quanto tempo vão durar - são fundamentos frágeis e que não se sustentam no longo prazo. Segundo ele, o impacto positivo provocado por esses dois fatores não se repetirá com a mesma intensidade a partir de 2014.
Além disso, o executivo da Ford demonstrou durante sua apresentação no congresso preocupação com a seletividade dos bancos nas liberações de crédito e apontou a tendência de esgotamento de alguns dos fundamentos que puxaram a demanda nos últimos anos, como a ascensão da classe média.
O grande problema de uma acomodação da demanda no momento em que uma série de investimentos no setor é que o risco de excesso de capacidade instalada se torna iminente. Levando-se em conta que a indústria, com os novos investimentos, será capaz de produzir 6,3 milhões de veículos por ano em 2017 e que o mercado, nesse período, evoluirá para 4,5 milhões de unidades, o excesso de capacidade no setor poderá chegar a 40%, bem acima do nível de 28% previsto para este ano. "A figura da capacidade ociosa, que há um bom tempo estava desaparecida no setor, voltaria a aparecer nesse caso", disse Golfarb.
A Anfavea reconhece uma defasagem, estimada em 1 milhão de veículos, entre o consumo e a capacidade criada pelos novos investimentos, mas diz que esse espaço terá que ser preenchido pelo contínuo avanço das exportações. Nesse sentido, a entidade trabalha para entregar dentro de um mês ao governo um conjunto de propostas para estimular os embarques de veículos fabricados no Brasil.
Diante da estagnação do mercado prevista pela montadora neste e no próximo ano, Olivier Murguet, presidente da Renault no Brasil, disse ontem que o grande desafio da indústria automobilística será melhorar a competitividade. Ele afirmou que o setor não consegue mais repassar ao consumidor todo o avanço nos custos de logística, mão de obra e tributos. Murguet, porém, assim como a grande maioria dos executivos dessa indústria, vê potencial de crescimento no mercado brasileiro, que, nas suas contas poderá alcançar 4 milhões de carros até 2016, 11% a mais do que as 3,6 milhões de unidades do ano passado.
Expectativas do tipo se sustentam, sobretudo, no índice relativamente baixo de utilização de veículos no Brasil. Enquanto apenas um em cada seis brasileiros tem um carro, nos Estados Unidos a relação é de um veículo por habitante.
Valor Econômico - 22/10/2013
Produtos relacionados
Ver esta noticia em: english
Outras noticias
DATAMARK LTDA. © Copyright 1998-2024 ®All rights reserved.Av. Brig. Faria Lima,1993 3º andar 01452-001 São Paulo/SP