quarta-feira, 30 de janeiro, 2013

Continental revê estratégia e eleva aposta no Brasil

Quando decidiu construir uma fábrica de pneus em Camaçari (BA), em 1996, o grupo alemão Continental pretendia criar uma base de exportação para a região do Nafta. Abastecer o mercado brasileiro estava totalmente fora dos planos. Mas a valorização do real inverteu o plano. Praticamente dedicada ao mercado interno hoje, a fábrica no litoral norte da Bahia precisa ser ampliada porque não dá conta das encomendas. Já o antigo projeto de exportação foi definitivamente engavetado.
No início do projeto um euro valia R$ 3,70. "Era um sonho produzir no Brasil e vender para os Estados Unidos, México e Canadá", afirma Renato Sarzano, diretor-superintendente e responsável pelas operações de pneus Continental para a América Latina. "Mas o sonho acabou", diz.
Menos de um terço do que é produzido em Camaçari é exportado hoje. Ainda assim, a venda ao exterior é em grande parte sustentada pela falta de capacidade da companhia nos Estados Unidos. Assim que a construção da futura fábrica no Estado da Carolina do Sul for concluída, em menos de dois anos, o grupo alemão não precisará mais do suprimento da fábrica brasileira.
Sarzano prevê que a partir de então a fatia do mercado doméstico na produção da fábrica na Bahia passará dos atuais 70% para 90%. Com o câmbio de hoje, diz o executivo, não faz mais sentido pensar em contratos de exportação.
O crescimento das vendas de carros no Brasil permitiu à Continental disputar principalmente mercado com fabricantes de pneus instalados no país há décadas. Mas foi no segmento de reposição quer a empresa alemã conseguiu avançar mais. Sarzano lembra que boa parte da demanda na reposição hoje é resultado do aumento da frota nos últimos anos.
Segundo os dados mais recentes da pesquisa de frota do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes Automotivos (Sindipeças), em cinco anos, a quantidade de veículos que circulam no Brasil cresceu 44%. Passou de 24,2 milhões em 2006 para 34,8 milhões em 2011.
Mas ao mesmo tempo em que desfruta desse crescimento, o setor também é afetado pela concorrência dos pneus importados da Ásia. Projeções iniciais do setor indicam a produção de 66,9 milhões de pneus em 2012, o que representou queda aproximada de 7% na comparação com 2011. "Basta ir a um grande supermercado para ver as pilhas de pneus asiáticos, vendidos, cada um, em dez prestações de R$ 15", diz Sarzano.
Aumentar a capacidade da fábrica de Camaçari, que já opera no limite, em três turnos, seria uma forma de a Continental se preparar para enfrentar a briga com os asiáticos. Os pneus importados se destinam principalmente ao mercado de reposição de automóveis, segmento em que a Continental tem fatia de 11%.
As obras de expansão da fábrica de Camaçari sofreram, no entanto, um acidente de percurso. A construtora inicialmente contratada faliu. Isso atrasou o trabalho em praticamente um ano. O plano era começar a operar com a expansão industrial ainda este ano. Mas os volumes só poderão aumentar a partir de 2014. "Esse atraso vai nos atrapalhar e os concorrentes vão ganhar com a falta do nosso produto", diz Sarzano.
Com a instalação industrial ampliada, a produção anual passará de 5,2 milhões para 7 milhões em pneus para carros de passeio e de 500 mil para 600 mil no segmento de caminhões. Em relação à época da inauguração, em 2006, a expansão representará capacidade adicional de 50%.
No caso do segmento de caminhões, a Continental começa a oferecer também o serviço de recapagem. Trata-se de um mercado crescente, já que, segundo Sarzano, os frotistas preferem a recapagem com garantia do fabricante do pneu.
Inicialmente, a banda de rodagem para a recapagem é importada do México. Se a demanda justificar a produção local há possibilidade de a empresa construir uma linha ou associar-se a um produtor local, segundo o executivo. Afinal, estamos em tempos de incentivos governamentais à produção local. E a Continental já se convenceu de que ainda tem muito a lucrar no mercado doméstico antes de fazer novos planos de exportação.
Valor
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