quarta-feira, 27 de abril, 2016

Reestruturação faz Bombril voltar ao azul no trimestre

As festas de fim de ano se aproximavam quando Luiz Gustavo Silva, então diretor da assessoria financeira RK Partners, estava em Buenos Aires e recebeu a ligação do sócio Adriano Sebusiani: "Precisamos de você aqui." Férias interrompidas e, em 21 de dezembro de 2015, ambos mergulhavam de cabeça em uma das marcas brasileiras mais tradicionais - e problemática: a Bombril, fundada em 1948 para produzir a famosa lã de aço, que ainda hoje está presente em 90% dos lares brasileiros.
Ao chegarem, a situação era tão dramática que tudo era urgente. O ano de 2015 foi duro: o dólar teve forte valorização e 60% dos insumos usados são importados.
A questão cambial agravou antigos problemas de gestão da companhia, dona de diversas marcas de produtos de limpeza conhecidas no Brasil, mas com histórico que inclui até escândalo financeiro - da época que a italiana Cirio assumiu o controle, após desavenças na família fundadora, Sampaio Ferreira.
Em dois meses, a RK Partners entregava um diagnóstico e Luiz Gustavo assumia como presidente da Bombril para promover uma revisão operacional - muito mais do que financeira - na companhia.
O objetivo principal: fazer a Bombril gerar caixa. No primeiro trimestre, a meta foi entregue. A companhia teve receita líquida de R$ 275,5 milhões, com crescimento de 17,5% sobre igual período de 2015, e o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ficou em R$ 15,5 milhões, comparado a uma perda de R$ 2,9 milhões no ano anterior.
O balanço do primeiro trimestre trouxe também a mudança de cor no resultado líquido: do vermelho de R$ 88,1 milhões, nos três primeiros meses de 2015, para o azul de R$ 20,7 milhões, de janeiro a março deste ano.
O desempenho foi conquistado, segundo Luiz Gustavo, com um conjunto de iniciativas, que vão desde uma dura gestão de custos e mix de produtos até corte no marketing. "E a confiança dos fornecedores", completou Sebusiani, em entrevista exclusiva ao Valor. "Sem isso, não tinha conversa. Foi essencial."
Quando a assessoria financeira de Ricardo Knoepfelmacher chegou à Bombril, por aconselhamento dos herdeiros do controlador, Ronaldo Sampaio Ferreira, era essa a ponta mais sensível. Havia quem estivesse disposto a parar o fornecimento. A empresa tinha cerca de R$ 150 milhões em débitos atrasados na cadeia de suprimento e logística, além do giro mensal de praxe - de R$ 90 milhões.
Essa é a ponta das pendências financeiras que a RK Partners quer ajustar e está prestes a um acordo: 36 meses de prazo para pagamento do que já está vencido, a partir de junho, e manutenção do custo mensal em dia.
Os compromissos totais da Bombril, porém, vão além. A maior parte, R$ 400 milhões, é dívida com a Receita Federal e que já está devidamente parcelada em programas de financiamento - exceto R$ 100 milhões que vencem ainda neste ano. Há mais de R$ 130 milhões, aproximadamente, em dívida bancária. Quase a totalidade desses vencimentos referem-se a desconto de recebíveis. "Também pretendemos melhorar esses compromissos, trocando-os por produtos estruturados e de prazo mais longo", explicou Sebusiani.
Dentro da Bombril, o foco de Luiz Gustavo está na operação, pois as metas para o ano são ambiciosas. O plano da RK Partners prevê Ebitda de R$ 140 milhões no acumulado de 2016 - para se contrapor aos R$ 76 milhões negativos de 2015. "Tivemos que mostrar isso no detalhe aos fornecedores, para que aceitassem seguir", contou. A margem Ebitda para o quarto trimestre precisa estar em 15%. "Essa é a obrigação. E temos 18% como desafio." No primeiro trimestre, a margem ficou em 5,6%.
Até o fim do ano, ainda existem iniciativas previstas como revisão dos fornecedores, o efeito de 100 vagas cortadas em abril, mudança de mix de produtos, aumento da eficiência industrial e em ações comerciais no ponto de venda.
A Bombril tinha um portfólio com 520 produtos de limpeza, considerando cada nome e todas suas variações de tamanhos e fragrâncias. Nesses três primeiros meses de 2016, esse total foi reduzido em 230. "A Bombril tem hoje 290 produtos", disse. "Fica mais fácil até para o comercial oferecer."
Uma das mais tradicionais anunciantes da TV aberta, a Bombril agora vai economizar nessa conta que, mesmo no dramático ano de 2015, consumiu R$ 40 milhões. O investimento em exposição nas gôndolas dos supermercados, que trouxe despesa de R$ 60 milhões em 2015, também sofrerá ajuste. "Nossas ações eventuais serão totalmente focadas em produtos", disse Luiz Gustavo - e só com planejamento que mostre expectativa de retorno positivo.
A chegada da RK trouxe mudanças que são também sensíveis aos olhos. A diretoria, que se espalhava por salas individuais, agora divide espaço. Foi construído uma espécie de "aquário" em meio ao administrativo, que abriga os seis diretores - quatro deles da era RK.
Valor Economico
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