As festas de fim de ano se aproximavam quando Luiz Gustavo Silva, então diretor da assessoria financeira RK Partners, estava em Buenos Aires e recebeu a ligação do sócio Adriano Sebusiani: "Precisamos de você aqui." Férias interrompidas e, em 21 de dezembro de 2015, ambos mergulhavam de cabeça em uma das marcas brasileiras mais tradicionais - e problemática: a Bombril, fundada em 1948 para produzir a famosa lã de aço, que ainda hoje está presente em 90% dos lares brasileiros.
Ao chegarem, a situação era tão dramática que tudo era urgente. O ano de 2015 foi duro: o dólar teve forte valorização e 60% dos insumos usados são importados.
A questão cambial agravou antigos problemas de gestão da companhia, dona de diversas marcas de produtos de limpeza conhecidas no Brasil, mas com histórico que inclui até escândalo financeiro - da época que a italiana Cirio assumiu o controle, após desavenças na família fundadora, Sampaio Ferreira.
Em dois meses, a RK Partners entregava um diagnóstico e Luiz Gustavo assumia como presidente da Bombril para promover uma revisão operacional - muito mais do que financeira - na companhia.
O objetivo principal: fazer a Bombril gerar caixa. No primeiro trimestre, a meta foi entregue. A companhia teve receita líquida de R$ 275,5 milhões, com crescimento de 17,5% sobre igual período de 2015, e o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ficou em R$ 15,5 milhões, comparado a uma perda de R$ 2,9 milhões no ano anterior.
O balanço do primeiro trimestre trouxe também a mudança de cor no resultado líquido: do vermelho de R$ 88,1 milhões, nos três primeiros meses de 2015, para o azul de R$ 20,7 milhões, de janeiro a março deste ano.
O desempenho foi conquistado, segundo Luiz Gustavo, com um conjunto de iniciativas, que vão desde uma dura gestão de custos e mix de produtos até corte no marketing. "E a confiança dos fornecedores", completou Sebusiani, em entrevista exclusiva ao Valor. "Sem isso, não tinha conversa. Foi essencial."
Quando a assessoria financeira de Ricardo Knoepfelmacher chegou à Bombril, por aconselhamento dos herdeiros do controlador, Ronaldo Sampaio Ferreira, era essa a ponta mais sensível. Havia quem estivesse disposto a parar o fornecimento. A empresa tinha cerca de R$ 150 milhões em débitos atrasados na cadeia de suprimento e logística, além do giro mensal de praxe - de R$ 90 milhões.
Essa é a ponta das pendências financeiras que a RK Partners quer ajustar e está prestes a um acordo: 36 meses de prazo para pagamento do que já está vencido, a partir de junho, e manutenção do custo mensal em dia.
Os compromissos totais da Bombril, porém, vão além. A maior parte, R$ 400 milhões, é dívida com a Receita Federal e que já está devidamente parcelada em programas de financiamento - exceto R$ 100 milhões que vencem ainda neste ano. Há mais de R$ 130 milhões, aproximadamente, em dívida bancária. Quase a totalidade desses vencimentos referem-se a desconto de recebíveis. "Também pretendemos melhorar esses compromissos, trocando-os por produtos estruturados e de prazo mais longo", explicou Sebusiani.
Dentro da Bombril, o foco de Luiz Gustavo está na operação, pois as metas para o ano são ambiciosas. O plano da RK Partners prevê Ebitda de R$ 140 milhões no acumulado de 2016 - para se contrapor aos R$ 76 milhões negativos de 2015. "Tivemos que mostrar isso no detalhe aos fornecedores, para que aceitassem seguir", contou. A margem Ebitda para o quarto trimestre precisa estar em 15%. "Essa é a obrigação. E temos 18% como desafio." No primeiro trimestre, a margem ficou em 5,6%.
Até o fim do ano, ainda existem iniciativas previstas como revisão dos fornecedores, o efeito de 100 vagas cortadas em abril, mudança de mix de produtos, aumento da eficiência industrial e em ações comerciais no ponto de venda.
A Bombril tinha um portfólio com 520 produtos de limpeza, considerando cada nome e todas suas variações de tamanhos e fragrâncias. Nesses três primeiros meses de 2016, esse total foi reduzido em 230. "A Bombril tem hoje 290 produtos", disse. "Fica mais fácil até para o comercial oferecer."
Uma das mais tradicionais anunciantes da TV aberta, a Bombril agora vai economizar nessa conta que, mesmo no dramático ano de 2015, consumiu R$ 40 milhões. O investimento em exposição nas gôndolas dos supermercados, que trouxe despesa de R$ 60 milhões em 2015, também sofrerá ajuste. "Nossas ações eventuais serão totalmente focadas em produtos", disse Luiz Gustavo - e só com planejamento que mostre expectativa de retorno positivo.
A chegada da RK trouxe mudanças que são também sensíveis aos olhos. A diretoria, que se espalhava por salas individuais, agora divide espaço. Foi construído uma espécie de "aquário" em meio ao administrativo, que abriga os seis diretores - quatro deles da era RK.
Valor Economico
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