terça-feira, 19 de abril, 2016

Pesquisa desenvolve embalagens anatômicas para frutas

Agricultores familiares de Nova Friburgo, na região Serrana do Rio de Janeiro, testaram esse novo sistema de embalamento para o morango. “Essa embalagem é mais prática e higiênica, pois impede a entrada de insetos. Também protege mais o fruto, que é muito sensível”, afirma Dacir Condak, responsável pela Associação dos Agricultores Familiares de Produtores de Morango de Nova Friburgo (AMORANGO). Testes realizados com os vinte produtores da associação identificaram a necessidade de elevação da embalagem para abrigar os frutos maiores sem provocar amassamento, o que já foi incorporado ao produto. Enquanto essa nova embalagem adaptada não chega aos mercados, o produtor Dacir Condak, que há 35 anos cultiva a fruta, continua utilizando a embalagem aberta coberta com filme PVC. “Realmente, não é a mais adequada, mas é a que todos os produtores utilizam”, diz.
Da mesma forma, atualmente as caixas de madeira utilizadas nos Centros de Distribuição de Alimentos (CEASA) e nas feiras livres são ainda amplamente utilizadas juntamente com as caixas de plástico retornáveis dos supermercados. “O problema é que as caixas utilizadas são as mesmas, independentemente do formato e tamanho do fruto, ocasionando grandes perdas e prejuízos econômicos para toda a cadeia produtiva, especialmente para o consumidor, que paga a mais pelo produto”, alerta Antonio Gomes, pesquisador da Embrapa.
Os estudos comprovaram que a utilização dessas novas embalagens anatômicas gera menor impacto mecânico (menos choques), melhor aspecto e aumento da durabilidade dos frutos. Segundo os pesquisadores, em mamão, as perdas pós-colheita observadas foram de apenas 2%, em vez de 25%, como normalmente ocorre.
Quanto ao caqui, o resultado também foi significativo: “A nova embalagem estendeu a vida útil dos frutos de caqui entre quatro e seis dias em relação à caixa de madeira; e entre dois e três dias comparando-se à caixa de papelão. O estudo também apontou a preferência dos consumidores pelos frutos de caqui transportados na nova embalagem”, informa o pesquisador da Embrapa Marcos Fonseca que orientou e acompanhou o estudo da nova embalagem para transporte e comercialização de caqui, conduzido por Maristella Martineli, do Programa de Pós-Graduação em Ciência de Alimentos da UFRJ.
Além de reduzir as perdas pós-colheita, as caixas anatômicas também geram eficiência ao trabalho de embalagem por acolher frutos de tamanhos variados. A classificação do produto por tamanho, cor e formato pode ser realizada diretamente pelo produtor no campo e ir direto para a comercialização. Se for para o “packing house” (casa de embalagens), o tempo dispendido no processo de envase das frutas é 50% menor com a nova tecnologia, segundo os pesquisadores.
Essas embalagens também são baseadas em preservação ambiental, utilizando como matéria-prima fibras naturais, que foram desenvolvidas no Núcleo de Excelência em Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável (NERDES) do Instituto de Macromoléculas da UFRJ. A equipe do laboratório trabalha para o desenvolvimento de tecnologias que priorizem a economia de matéria-prima e de energia com menor impacto ambiental.
“Para essas embalagens, desenvolvemos um compósito à base de polímeros e resíduos de fibras lignocelulósicas. Trata-se de tecnologia totalmente brasileira para atender uma demanda nacional, que é a minimização de perdas da agricultura. Além dessa justificativa ambiental, social e econômica, tem-se que parte do material utilizado para a confecção da embalagem é um resíduo; ou seja, iria para o lixo”, conta a professora Elen Pacheco, da UFRJ.
Esse projeto de desenvolvimento de novas embalagens foi financiado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), envolvendo as três instituições públicas, com a participação da iniciativa privada na fase de validação industrial. Inicialmente, duas indústrias nacionais trabalharam na elaboração de protótipos validados pelo setor produtivo. E o custo? “Tentamos equacionar as necessidades de cada fruta, dentro de um sistema de embalagens que pudesse ser o mais padronizado possível. Observamos a realidade de produção, transporte e de comercialização nos mercados nacional e internacional, para que os custos de fabricação das embalagens fossem admissíveis pelos principais atores do processo”, contou Gil Brito, da Divisão de Desenho Industrial do Instituto Nacional de Tecnologia.
ABRE
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