sexta-feira, 12 de junho, 2015

Demanda perde força e importação de cacau tem queda expressiva

Embora os brasileiros façam do país o terceiro maior consumidor de chocolate do mundo, o desaquecimento do consumo interno, aliado a uma oferta nacional mais polpuda, levou as indústrias que processam cacau no país, que estão com uma capacidade ociosa cada vez maior, a reduzirem de maneira expressiva as importações da amêndoa.
Nos cinco primeiros meses do ano, as importações somaram 11,018 mil toneladas, um recuo de 68,7% ante igual período de 2014. A receita dessas compras alcançou US$ 33,252 milhões no período, uma queda de 62,7% na mesma comparação, segundo dados do Ministério da Agricultura compilados pelo Valor.
Só houve duas vezes nos últimos dez anos em que a importação de cacau neste intervalo de tempo foi menor do que o registrado neste ano: em 2011, quando o Brasil adquiriu 10,917 mil toneladas de cacau do mercado externo entre janeiro e maio, e em 2013, quando o montante importado no período somou 11,002 mil toneladas.
Com menos matéria-prima nas fábricas, a ociosidade das plantas neste ano está em 30,72%, considerando uma capacidade de moagem de 104,167 mil toneladas para o período, de acordo com levantamento realizado pela Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC) a pedido do Valor.
A situação é pior que em 2014, quando as indústrias encerraram o ano com uma ociosidade média de 10%. Para os cinco primeiros meses do ano, é o desempenho é até mais fraco que o de 2009, quando o país também sofreu reflexos da crise internacional.
Levantamento da TH Consultoria, sediada em Salvador, mostrou que a moagem de cacau na safra 2014/15, encerrada em abril, chegou a 225,8 mil toneladas, o menor volume em seis temporadas.
"O mercado interno teve uma redução muito grande e a perspectiva é que não tenha uma recuperação neste ano. Pensávamos que poderia haver uma recuperação no segundo semestre, mas agora as previsões são pessimistas", afirmou Walter Tegani, secretário-executivo da AIPC.
A importação crescente do produto final, o chocolate, em um momento de redução do consumo, também colabora para a retração da moagem. Thomas Hartmann, da TH Consultoria, afirma que muitas empresas que operam no país preferem trazer o doce de suas fábricas em outros países por causa do alto custo de produção no Brasil.
Conforme a Associação Brasileira da Indústria de Chocolate, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados (Abicab), entre janeiro e maio foram importadas 11,469 mil toneladas de chocolate, 25% a mais do que no mesmo período de 2014.
Segundo Tegani, o chocolate argentino é o maior concorrente do produto nacional. De acordo com os dados do Ministério da Agricultura, o país vizinho foi a fonte de 16% das importações de chocolate não recheado, recheado e de produtos à base de chocolate nos primeiros cinco meses deste ano.
A fraqueza da demanda explica uma boa parte da história, mas não toda. Também é verdade que a produção nacional de cacau registrou recuperação expressiva no ciclo 2014/15, segundo avaliações preliminares. De acordo com o levantamento da TH Consultoria, a colheita da amêndoa no país foi de 214,3 mil toneladas, um aumento de 63% na comparação com a temporada anterior (2013/14), quando a produção brasileira alcançou, no total, 131,2 mil toneladas.
Apesar da oferta maior, Hartmann diz que a amêndoa da última safra teve baixa qualidade e lembra que as importações servem como um complemento para melhorar a qualidade dos derivados.
Além disso, o segmento também fraqueja com o fortalecimento da concorrência externa. Até maio, as importações de manteiga de cacau (principal ingrediente do chocolate) superaram em mais de 200 vezes o volume adquirido do mercado externo no mesmo período de 2014. Já as compras de pasta de cacau desengordurada recuaram 74% na mesma base de comparação e somaram 285,874 mil toneladas.
Valor Economico
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