quinta-feira, 08 de outubro, 2015

Carne de frango mantém sua competitividade

Ainda que tenha diminuído drasticamente no mês passado no mercado doméstico, a vantagem relativa dos preços da carne de frango em relação aos da carne bovina, a proteína preferida dos brasileiros, ainda é suficiente para estimular a demanda pelo produto.
De modo geral, a valorização de mais de 20% nos preços da carne de frango no atacado da Grande São Paulo foi uma resposta à disparada do dólar, moeda que baliza a cotação dos grãos usados na ração animal. Para fazer frente aos custos de produção e tentar preservar margens, os frigoríficos elevaram as cotações do frango. Mas, de acordo com analistas, o diferencial de preços apenas se aproximou da média histórica. Além disso, uma eventual recuperação da demanda por carne bovina no mercado doméstico esbarraria na escassez de oferta - os abates de bovinos recuaram cerca de 10% no primeiro semestre, apontam os dados do IBGE.
"O que está acontecendo é que os patamares entre as proteínas estão voltando aos níveis históricos", afirmou o analista do Rabobank, Adolfo Fontes. De acordo com levantamento do banco holandês, a diferença entre as cotações do frango resfriado e a carcaça bovina no atacado atingiu o pico histórico em meados de abril, quando o preço de um quilo de carne bovina equivalia ao valor de três quilos de carne de frango - a média de 2015 é de 2,7 vezes.
Em setembro, porém, a forte alta da carne de frango - combinada a uma elevação bem mais modesta da carne bovina -, reduziu essa diferença paulatinamente, de 2,71 vezes no fim de agosto para 2,345 vezes em 30 de setembro. Trata-se de uma diferença bem mais próxima da média histórica de 2,25 vezes desde o início de 2010, conforme levantamento feito pelo Rabobank.
"Ainda assim, a carne de frango deve continuar vendendo mais. A carne bovina pode ter uma recuperação, mas como a oferta é restrita, não é o suficiente para tirar o atraso", disse Fontes, em alusão à esperada queda do consumo per capita de carne bovina no Brasil. Conforme a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o consumo anual per capita de carne bovina no Brasil deverá chegar a 30,8 quilos neste ano, queda de 11,7% ante 2014.
Para o secretário-executivo da Associação Brasileira dos Produtores de Pintos de Corte (Apinco), José Carlo Godoy, é um "exagero" dizer que a carne de frango ficou menos competitiva. "Se você pegar os dados do varejo, vai constatar que o frango continua bastante competitivo, mesmo com a carne bovina de segunda", argumentou.
Além disso, Godoy também ponderou que a alta dos preços da carne de frango, mesmo tendo chegado a 20%, não é "excepcional" quando se considera o mês de setembro. "Esse movimento já aconteceu em 2013 e em 2014". De acordo com ele, essa alta está associada ao período de entressafra na oferta de gado - o que tende a reduzir a oferta de carne bovina e elevar o preço do produto.
Mas o impacto da oferta das carnes concorrentes não é o único fator de pressão sobre as cotações da carne de frango no mercado doméstico. Conforme o sócio da MB Agro, José Carlos Hausknecht, a forte demanda externa também ajudou a 'enxugar' a oferta frango no país, elevando as cotações.
No acumulado de 2015 até setembro, as exportações de carne de frango cresceram 4,8%, para 3,2 milhões de toneladas, de acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex/Mdic) compilados pela Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).
Daqui para frente, porém, a expectativa é que os preços da carne de frango fiquem estáveis, conforme Hausknecht, o que deve manter a carne da ave mais barata do que a carne bovina. "O preço já está chegando no limite. Não temos nenhuma expectativa de aumentos maiores", avaliou.
Por outro lado, as chances de queda dos preços da carne de frango são bem pequenas, e os próprios frigoríficos também apontam nessa direção. Em recente entrevista ao Valor, executivos de BRF, JBS Foods e Aurora projetaram que os preços das carnes típicas de fim de ano estarão mais caras do que no mesmo período do ano passado - mas, em geral, abaixo do índice da inflação no país.
Valor Economico
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