Friday, June 17, 2016

África deve focar governança, diz Coca-Cola

O CEO da Coca-Cola, Muhtar Kent, recomenda aos líderes africanos às voltas com o cenário mundial agitado que priorizem melhorar a governança em seus países e afirma que se o fizerem vão ter benefícios econômicos "exponencialmente positivos".
A Coca-Cola, uma das multinacionais que mais investem na África, tem presença em todos os 54 países do continente. Algumas dessas nações sofrem críticas por sua pobre governança - o que inclui desde as leis tributárias, trabalhistas e relacionadas com monopólios até a corrupção e as políticas cambiais.
Na segunda-feira, Kent inaugurou em Ruanda o projeto de empreendedorismo sustentável Ekocenter, modelo da empresa no mundo, elogiando o presidente do país, Paul Kagame, por ter direcionado seu "foco" à boa governança.
Kent, que também é presidente do conselho de administração da Coca-Cola, disse ao "Financial Times" que a África não se trata de "uma só história".
"A África vai ter várias nações com taxas de crescimento do PIB de um dígito percentual alto ao longo dos próximos 15 anos e vai ter alguns retardatários; vamos ter ambos", disse. "Mas pequenas melhoras na governança vêm gerando resultados exponencialmente positivos para a África de maneira que [se] a melhora na governança puder continuar, a África vai viver dias melhores."
Suas ideias corroboraram uma pesquisa sobre investimentos na África do grupo de consultoria EY, na qual a recomendação mais frequente dos executivos para os líderes nacionais melhorarem o cenário para as empresas foi instituir uma governança sustentável.
David Cowan, economista do Citigroup especializado em África, disse que a governança "entra na equação dos investimentos de todas as multinacionais investindo na África", embora indique que seu grau de importância varia caso a caso. Além da Coca-Cola, várias empresas demonstraram confiança em países com mais políticas favoráveis aos negócios.
A rede de supermercados francesa Carrefour escolheu Costa do Marfim e Quênia, dois países nos quais se considera que a governança vem melhorando, como localidades para suas primeiras lojas na África Subsaariana. O grupo industrial Pentair, com ações nos Estados Unidos, também abriu recentemente seu primeiro escritório na África, em Nairobi, capital do Quênia, onde a General Electric construiu sua primeira sede africana há cinco anos.
Na direção oposta, a empresa aérea espanhola Iberia, parte do International Airlines Group, está de saída da Nigéria neste mês, em parte pelas restrições cambiais adotadas pelo governo, altamente criticadas. Pelo mesmo motivo, sua rival americana United Airlines vai acabar com os voos diários a Lagos, capital econômica da Nigéria.
Cowan ressalta, contudo, que os investidores precisam ser cuidadosos ao avaliar a governança. "O que se vê um pouco pela África são governos bons em trabalhar com consultores para garantir que reformas rápidas e fáceis que lhes permitam avançar nos vários índices que a maioria das pessoas usa para medir a governança", alerta, sem dar nomes. "Se isso realmente representa uma melhora prolongada nos níveis de governança, é algo que está bem menos claro".
A Coca-Cola continua otimista com a África, apesar da desaceleração no crescimento de grande parte do continente. A multinacional obtém cerca de 10% de suas vendas, em volume, na África e a empresa, segundo Kent, está no meio do caminho de um programa de investimentos de US$ 17 bilhões em dez anos no continente, o dobro do valor investido nos dez anos anteriores.
Entre os recentes investimentos estão a compra de algumas das marcas não alcoólicas da SABMiller por US$ 260 milhões e a compra de participação de 40% na fabricante de sucos nigeriana CHI por US$ 240 milhões.
Kent não quis comentar quais seriam os impactos na Coca-Cola da proposta de compra da SABMiller (que tem participação nas operações de engarrafamento da Coca-Cola na África do Sul) pela AB InBev (que engarrafa algumas bebidas da rival PepsiCo na América Latina). O executivo disse que o acordo ainda é algo pendente.
Quanto à reestruturação das operações de engarrafamento mundiais da Coca-Cola, Kent disse que a fusão de três engarrafadoras na Europa foi determinada pela natureza "concentrada" dos negócios de varejo na região e que a transação não vai servir de modelo para os demais lugares. A Coca-Cola vai ter "cinco ou seis" engarrafadoras nos EUA e muitas na África.
Em meio à queda generalizada nas vendas de bebidas gasosas, em especial nos países desenvolvidos, onde a Coca-Cola obtém 70% de sua receita total, Kent fez duras críticas aos impostos sobre bebidas com açúcar como forma de reduzir a obesidade. "Foi provado vezes e vezes sem conta que a regulamentação não resolve o problema", disse.
Valor Econômico
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