Friday, October 24, 2014

Tributos e escassez de crédito emperram setor de bicicletas

A ampliação das ciclovias na capital paulista aumentou o interesse dos consumidores em adotar o transporte em duas rodas. Algumas fabricantes registram crescimento na vendas, mas o movimento não é generalizado. Para a maior parte dessa indústria, que nos últimos anos mostra estagnação e neste ano caminha para uma provável retração devido à desaceleração econômica, o efeito ainda é pequeno. Mas há a expectativa de expansão vigorosa nos próximos anos.
A elevada carga tributária e a falta de programas de financiamento dificultam as compras por consumidores de menor renda, que já estão com o bolso comprometido com outras despesas. Algumas varejistas, no entanto, relatam crescimento nas vendas, principalmente de bicicletas importadas (ver Varejistas detectam demanda maior).
A Houston, que produz em média 800 mil bicicletas por ano em um complexo fabril em Teresina (PI), afirma que as ciclofaixas devem aquecer o mercado de bicicletas a partir deste ano e, principalmente, no longo prazo. "Nossa expectativa é positiva. Assuntos como sustentabilidade, saúde, prática de esporte e incentivo ao transporte limpo estão cada vez mais em alta", afirma Adilson Custódio, diretor comercial. A produção da companhia deve avançar em dois dígitos em 2014, segundo ele.
A brasileira Soul Cycles, fabricante de cerca de 40 mil bicicletas por ano, também projeta ampliar as vendas em 2014. Fundada em 2010, a empresa está em fase de expansão. São Paulo é o segundo maior mercado para a companhia, concentrando 35% das receitas. O principal mercado da Soul Cycles, que tem fábrica em Itajaí (SC), é a região Sul, destino de 42% da sua produção.
As entidades que representam o setor de bicicletas não possuem dados específicos sobre produção e vendas em São Paulo, o que torna mais difícil reconhecer mudanças imediatas no segmento. "Não há licenciamento, o que torna difícil acompanhar as variações de volume", diz José Eduardo Gonçalves, diretor-executivo da Abraciclo, entidade que reúne os fabricantes de bicicletas, motos, motonetas e outros veículos de duas rotas no país.
Segundo dados da Abraciclo, o número de bicicletas fabricadas no Brasil tem se mantido estável nos últimos anos, em torno de 4,5 milhões de unidades. A média de preços no país varia de R$ 250 - para uma versão simples, sem marchas - a R$ 3 mil. Um modelo dobrável, adequado para integração com outros tipos de transporte, custa cerca de R$ 1,5 mil.
Para a Associação Brasileira da Indústria, Comércio, Importação e Exportação de Bicicletas, Peças e Acessórios (Abradibi), o preço dos produtos é um fator que dificulta um incremento mais forte da demanda. Ana Lia de Castro, diretora executiva da Abradibi, afirma que, o elevado volume de impostos encarece as bicicletas e a falta de programas de financiamento faz com que o veículo perca atratividade para as motocicletas em periferias.
"Nos grandes centros, como São Paulo, desde o início dos programas de infraestrutura cicloviária, as bicicletas deixaram as garagens. Mas isso não se refletiu no mercado", afirma Ana Lia. Afetado pela desaceleração econômica, o setor sofre retração. De um questionário enviado pela Abradibi a 200 fabricantes, a média de respostas indica queda de 14% das vendas em 2013 e um recuo de cerca de 20% neste ano.
As importações de bicicletas também diminuíram neste ano. De acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), no primeiro semestre as importações caíram 24,2% em volume, para 102,6 mil unidades. Em volume financeiro, houve aumento de 6,95%, para US$ 18,6 milhões.
Ana Lia, da Abradibi, explica que as fabricantes que investiram na produção de modelos de maior valor agregado conseguiram manter ou elevar o faturamento nos últimos anos. "Quase metade das bicicletas do país são usadas como meio de transporte, mas o investimento principal das fabricantes vai para bicicletas de esporte, que são mais caras."
No decorrer da campanha à reeleição, a presidente Dilma Rousseff (PT) defendeu as bicicletas como meio de transporte público e propôs a criação de uma linha de financiamento exclusiva para sua aquisição. A prefeitura de São Paulo, comandada por Fernando Haddad (PT), encampou a proposta. A cidade possui mais de 100 km de vias para o deslocamento de ciclistas e a prefeitura tem como meta chegar a 200 quilômetros até dezembro e dobrar a extensão até o fim de 2015.
Gonçalves, da Abraciclo, diz que o aumento da visibilidade das bicicletas estimula o uso do meio de transporte, mas isso não é o suficiente para uma recuperação do setor. "Para que a indústria nacional possa competir em qualidade e ter preço melhor que as asiáticas, a produção tem que adicionar partes e peças de maior valor agregado", afirma. A entidade sugere um novo processo produtivo básico, com a nacionalização de parcela dos componentes e investimento em novos produtos. Atualmente, em torno de 80% das peças são importadas, vindas principalmente da Ásia (Índia, China, Taiwan e Japão).
"As ciclofaixas trarão um aumento do consumo, mas nos preocupa a questão de infraestrutura", diz Alexandre Adoglio, gerente de marketing da Soul Cycles. "Faltam pontos de apoio ao ciclista, de mecânica, de hidratação, além de locais para guardar a bicicleta." A melhora nesse quadro traria mais ciclistas para as ruas.
De acordo com Adoglio, o produto mais procurado é a bicicleta de usos variados. "A maioria dos brasileiros não compra bicicletas para uma única aplicação - apenas trabalho ou esporte -, como ocorre em outros países", diz. O preço médio de venda dos modelos é de R$ 3,5 mil. Em função das ciclofaixas, a Soul Cycles estuda ampliar a atuação no segmento de serviços em 2015, com pontos de apoio aos ciclistas. A empresa já tem uma loja conceito que oferece cafeteria, guardadores e oficinas mecânica para ciclistas, próxima à Cidade Universitária, na capital paulista.
Valor Economico
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