quarta-feira, 25 de novembro, 2020

As diferenças abismais entre as cinco vacinas mais avançadas

A humanidade conseguiu em pouco mais de 10 meses desenvolver três vacinas experimentais com uma aparente altíssima eficácia contra o novo coronavírus. As mais promissoras são: Oxford-AstraZeneca, Pfizer-BioNtech e Moderna-Institutos Nacionais da Saúde dos EUA, mas cada uma delas tem suas vantagens e inconvenientes. Ainda se aguarda com muita expectativa os resultados de duas outras vacinas: da Sinovac (Coronavac), previsto para o início de dezembro, e a do Instituto Gamaleya (Sputnik V). Estas são as principais diferenças conhecidas até o momento entre estes laboratórios.
- Preço
A grande maioria da humanidade precisará se vacinar contra a covid-19, de modo que o preço da injeção é um dos fatores essenciais para que o medicamento seja acessível a todos. As diferenças entre as três vacinas mais avançadas são abismais: a desenvolvida pelas britânicas Universidade de Oxford e AstraZeneca custará três euros (cerca de 19 reais) por dose; a da multinacional norte-americana Pfizer e a empresa biotecnológica alemã BioNTech superaria os 15 euros (96 reais) por dose, cinco vezes mais; e a concebida pela empresa norte-americana Moderna e os Institutos Nacionais da Saúde dos EUA chegaria a 21 euros (135 reais) por dose, sete vezes mais do que a de Oxford.
Esses preços estimados têm como base valores divulgados pelas empresas para países desenvolvidos e podem variar em caso de países em desenvolvimento, como o Brasil, e também para países mais pobres. O laboratório chinês Sinovac ainda não divulgou o valor de venda de sua vacina Coronavac. Em seu perfil no Twitter, a russa Sputnik V divulgou que seu preço será de menos de 20 dólares (cerca de 107 reais) por pessoa nos mercados internacionais. Para os cidadãos russos, a vacina será gratuita.
- Temperatura de conservação
Levar as vacinas contra a covid-19 a todos os cantos do mundo será um desafio logístico com poucos precedentes. Um dos pontos decisivos será a temperatura de conservação de cada produto. A Universidade de Oxford se vangloriou em um comunicado de que sua vacina experimental se mantém na geladeira, entre temperaturas de 2 a 8 graus e, portanto, pode ser distribuída utilizando os canais já existentes para outras vacinas. A imunização da Pfizer, entretanto, precisa de temperaturas ultrafrias, de 70 graus abaixo de zero, um problema que a empresa tentará solucionar com contêineres com gelo seco que podem conservar a vacina durante 15 dias. O produto da Moderna está em um termo médio. Sua vacina experimental permanece estável por pelo menos seis meses a 20 graus abaixo de zero e aguenta 30 dias na geladeira, com temperaturas de 2 a 8 graus.
Um pesquisador da Sinovac envolvido no estudo Coronavac, disse à agência Reuters que a vacina pode ser uma opção atraente porque também pode ser armazenada em temperaturas normais de geladeira de 2 a 8 graus Celsius e pode permanecer estável por até três anos. Dados preliminares do Instituto Gamaleya mostram que a Sputnik V deve ser armazenada a menos 18 graus. No entanto, a empresa testa um processo de liofilização, um tipo de desidratação da vacina, que, assim, poderá ser armazenada em temperaturas normais de geladeira.
- Eficácia
As equipes das vacinas experimentais proclamaram eficácias de 90% a 97%, mas há matizes entre elas. A Universidade de Oxford e a AstraZeneca anunciaram nesta segunda-feira uma eficácia de até 90% a partir de uma análise de 2.700 pessoas que receberam primeiro meia dose e após um mês uma dose completa. Com duas doses inteiras a eficácia, paradoxalmente, se reduz a 62%, de acordo com os resultados de um estudo maior, com 8.900 participantes. Os pais da vacina estão estudando esse fenômeno e será preciso ver se a eficácia preliminar de 90% se mantém nos resultados finais do teste clínico, que já recrutou 24.000 pessoas no Reino Unido, Brasil e África do Sul.
A vacina experimental da Pfizer e da BioNTech foi a primeira a oferecer um número de eficácia ― 95% ― com plena validade estatística, graças a um ensaio com 44.000 participantes e 170 contágios entre eles. Somente oito das pessoas infectadas receberam duas doses da vacina real. O restante, 162 voluntários, recebeu duas injeções de água com sais (placebo). A eficácia de 95% se mantém constante nos diferentes grupos de idade e em todos os sexos e raças dos participantes no ensaio, como destacou a Pfizer.
A empresa norte-americana Moderna e os Institutos Nacionais da Saúde, por sua vez, anunciaram uma eficácia de 94,5%, de acordo com uma primeira análise de um ensaio com 30.000 pessoas nos EUA. Seus resultados ainda são preliminares. Está previsto que nos próximos dias novos dados se somem a esses e se alcance a potência estatística suficiente para confirmar o número ou matizá-lo.
Os primeiros dados da Coronavac mostram que ela é segura e capaz de produzir resposta imune no organismo 28 dias após sua aplicação em 97% dos casos. Os resultados finais das pesquisas da chinesa Sinovac são aguardados para o início de dezembro. A vacina russa Sputnik V demonstrou, 42 dias após a primeira dose, uma eficácia de mais de 95%, divulgaram nesta terça o Instituto Gamaleya e o Fundo Russo de Investimento Direto (RDIF). De acordo com dados preliminares da segunda análise, a eficácia da vacina russa após 28 dias é de 91,4%.
- Doses compradas pelo Brasil
O Governo brasileiro anunciou em agosto a abertura de um crédito extraordinário de 1,9 bilhão de reais para a produção e aquisição de 100 milhões de doses da vacina Oxford-AstraZeneca. A medida também prevê a transferência de tecnologia ao país caso a vacina se mostre eficaz e segura. A absorção da tecnologia será feita pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o processamento da vacina pela Bio-Manguinhos. Dados recentes sobre os resultados da eficácia da vacina mostram que o país pode ganhar 30% a mais de doses. Isto porque diferenças nos testes mostram que com uma dose reduzida e uma completa, em um intervalo de 30 dias, a eficácia da vacina é de 90%. “Em vez de termos vacina para 100 milhões de brasileiros, poderíamos vacinar 130 milhões. O que é um ganho adicional. Foi uma boa notícia”, disse Marco Krieger, vice-presidente de produção e inovação em saúde da Fiocruz, à Agência Brasil. A previsão é que a produção da vacina no Brasil tenha início a partir de dezembro deste ano.
O Governo do Estado de São Paulo assinou um acordo para a compra de 46 milhões de doses da vacina da Coronavac. As primeiras 6 milhões de doses chegarão prontas da China ― 120.000 doses já estão em São Paulo prontas para serem aplicadas após a autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O Intituto Butantan passará a produzir as imunizações no Brasil após a reforma de sua fábrica que está recebendo investimentos da ordem de 160 milhões de reais. Após o Ministério da Saúde voltar atrás no anuncio de compra de mais 46 milhões de doses da vacina do laboratório chinês, o governador do Estado, João Doria, afirmou que pode garantir a compra de 100 milhões de doses, mesmo sem verba federal.
O Ministério da Saúde aderiu a iniciativa Covax Facility, liderada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que irá permitir ao país acesso a pelo menos nove vacinas em desenvolvimento. Pelo acordo, o país tem direito a uma reserva de 40 milhões de doses. O Governo pretende divulgar um calendário de vacinação contra a covid-19 para 2021 e para isso está se reunindo com cinco farmacêuticas ― Pfizer, Moderna, Janssen-Cilag (braço da Johnson & Johnson), a indiana Bharat Biotech e o Fundo Russo de Investimento Direto (RDIF).A farmacêutica União Química informou que assinou acordo com o RDIF para produzir a vacina Sputnik V no Brasil, segundo a Reuters. A empresa disse que firmou um acordo de confidencialidade que a impede de fornecer quaisquer detalhes técnicos ou científicos. O laboratório ainda precisa obter aprovação da Anvisa para a produção.
El Pais - 24/11/2020
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