sexta-feira, 05 de julho, 2019

Setor calçadista de Franca prevê alta nas exportações, mas espera diretrizes no pacto entre Mercosul e União Europeia

O acordo firmado entre Mercosul e União Europeia, que promete zerar tarifas de produtos comercializados entre os dois blocos, foi recebido positivamente por empresários do setor calçadista de Franca (SP), cidade considerada a capital nacional do sapato masculino. Mas, apesar da expectativa de crescimento nas exportações, o Sindicato da Indústria Calçadista (Sindifranca) considera qualquer avaliação prematura, afirmando que os calçados ainda não foram mencionados nas negociações e nas diretrizes já divulgadas. Quando estiver totalmente implementado, o acordo vai zerar as taxas de 91% dos produtos que a União Europeia exporta para o Mercosul em até 10 anos. No mesmo período, serão retiradas tarifas de 92% dos itens exportados no sentido contrário. Fundador da Anatomic Gel, no mercado há 23 anos, Jacomete dedica 45% da produção diária de 1,5 mil pares de calçados ao exterior. Só na Europa são 38 destinos. Para atender a demanda, a empresa inaugurou um escritório de distribuição e logística em Londres. “Para mim, é um mercado muito promissor. Atualmente, tenho que pagar ICMS [Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços] que gira em torno de 8% a 12%. Com esse acordo, a expectativa é que isso deixe de existir, quando a mercadoria chegar à Europa”, explica. Analista de comércio exterior da Sapatoterapia, Gustavo Figueiredo afirma que a isenção de tarifas deve tornar o calçado brasileiro mais acessível e competitivo em relação aos concorrentes, como os que são produzidos em Portugal, por exemplo. “Como nossos produtos são melhores que os deles, sabemos que não havendo entraves com as tarifas, os clientes irão se programar com as datas e vão voltar a comprar do Brasil. Fizemos contato com vários clientes e avaliaram de forma muito positiva”, diz. Com produção que varia de 360 mil a 400 mil pares por ano, a Sapatoterapia destina 50% dela para exportação. Ao todo, são 80 destinos em todo o Oriente Médio, grande parte da Ásia, América Latina e clientes pontuais nos Estados Unidos. Figueiredo conta que a marca já teve distribuidores em países europeus, mas o número deles diminuiu porque as tarifas encarecem os produtos e inviabilizam o negócio. Com o acordo entre Mercosul e União Europeia, a tendência é de recuperação do mercado. “Estamos fazendo contato não somente com estes distribuidores, mas com vários clientes. Nossos produtos voltarão a ficar competitivos, e não temos dúvidas que temos mais design e qualidade a oferecer. Aproveitado o momento do câmbio, nossos preços estarão bem melhores”, afirma. Ressalva A União Europeia é o segundo maior parceiro comercial do Mercosul. As negociações entre os dois blocos movimentaram US$ 90 bilhões em 2018. Por isso, o acordo representa 25% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial, englobando 750 milhões de pessoas. O texto divulgado na última semana, que é uma prévia das diretrizes do pacto, indica a quantidade de carnes e de outros produtos agrícolas, como açúcar, etanol, suco de laranja, frutas e queijos, que terão benefícios fiscais na importação e exportação. A alíquota dos calçados ainda não foi mencionada e é justamente essa ressalva feita pelo Sindicato da Indústria Calçadista de Franca (Sindifranca). O presidente da entidade, José Carlos Brigagão do Couto, diz que é cedo para avaliar o impacto no setor. Couto destaca que os esforços do Sindifranca estão sendo direcionados, nesse momento, em ações para reverter o desempenho ruim da produção, da geração de empregos e das exportações do setor, como consequência da recessão econômica interna. Na última segunda-feira (1º), Couto e outras lideranças paulistas do setor calçadista se reuniram com o governador João Dória (PSDB), em São Paulo (SP), para discutir um plano de inovação e a possibilidade de redução de impostos, como o ICMS. “Não temos uma política industrial traçada, muito menos para exportações. Vamos tentar trabalhar nesse sentido, unir com o governo do estado para incrementar as exportações. Logicamente, isso vai depender das reformas que o governo federal precisa fazer”, diz. Investimento A avaliação do presidente do Sindifranca é a mesma do professor de relações internacionais da Universidade de São Paulo (USP) e da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) Vinícius Rodrigues Vieira, destacando que as projeções até agora são meras especulações. “Tudo ainda é preliminar porque o acordo foi finalizado - como falamos em linguagem de negociações internacionais - em nível ministerial e aprovados pelos presidentes, pelo Executivo. Só que ainda tem pela frente um processo de ratificação muito complexo”, diz. Vieira explica que após o anúncio do acordo, cabe ao congresso ou assembleia de cada país do Mercosul e da União Europeia aprovar os itens que compõem o pacto. Só depois dessa fase, as medidas passarão a valer efetivamente, mas aplicadas de maneira gradativa. Por fim, Vieira afirma que produtores e empresários precisam se articular independente de acordos econômicos, investindo em tecnologia, melhorando processos produtivos e identificando novos mercados, para ter mais competitividade no exterior. “O que cabe ao produtor brasileiro, independente do governo, é investir. Com acordo, ou sem acordo, é isso que vai determinar, no longo prazo, a possibilidade de termos mercados no exterior, fazermos frente, seja a produtores europeus, ou frente a produtores asiáticos”, finaliza.
G1 - 05/07/2019
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