quarta-feira, 08 de novembro, 2017

Compras em sites estrangeiros vão movimentar R$ 7,5 bilhões

São Paulo - As compras em sites estrangeiros (o chamado e-commerce cross border) devem voltar a crescer a taxas mais elevadas este ano, impulsionadas pela busca do brasileiro por preços menores e um cenário mais controlado do câmbio. A projeção da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (Abcomm) é que a modalidade fature R$ 7,5 bilhões no consolidado (ou US$ 2,5 bilhões).
No ano passado, segundo dados da entidade, as compras virtuais em plataformas fora do Brasil movimentaram R$ 7,1 bilhões (US$ 2,3 bilhões). O valor representou 16% do faturamento total do e-commerce brasileiro, de R$ 44 bilhões. Se concretizada a previsão, o montante registrará este ano avanço de 7% em reais e 8,7% em dólares.
O presidente da associação, Maurício Salvador, lembra que as compras em sites estrangeiros vinham apresentando crescimentos expressivos de 2012 até 2015, mas perderam um pouco de força no ano passado, quando o avanço foi de 4% (veja no gráfico). "De 2012 até 2015 as compras cross border tiveram um crescimento muito forte. Com a disparada do dólar, o acirramento da crise e alta do desemprego elas desaceleraram em 2016", diz. Para este ano, ele acredita que a modalidade comece a retomar um pouco do ritmo visto nos anos anteriores.
A Ebit, empresa especializada em pesquisa de mercado sobre e-commerce, ainda não tem uma previsão para o desempenho do ano. O presidente da companhia, Pedro Guasti, afirma, no entanto, que a tendência é que o cenário mais controlado do dólar beneficie as compras. "Como o dólar foi mais controlado este ano, isso certamente estimulou o mercado", afirma.
Tirando fatores conjunturais, o principal aspecto que leva brasileiros a comprarem em sites do exterior são os preços menores dos produtos. Pesquisa do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e da Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL) mostra que os valores mais baixos foram citados por 76% dos brasileiros como principal vantagem de consumir em plataformas de fora do País. Outros aspectos apontados foram a possibilidade de encontrar produtos que não estão disponíveis no Brasil (53%) e a variedade de artigos (48%).
A diferença de preços é gritante, segundo Guasti, da Ebit. "Em algumas categorias, como roupas, os valores chegam a ser 80% menores. Pelo preço que você compraria uma peça no Brasil você consegue comprar quatro em sites internacionais", afirma. Ele complementa que, no momento de crise, o fator é um atrativo importante para os brasileiros, que acabam relevando pontos como o prazo extenso de entrega e a possibilidade do item ser retido pela Receita Federal. A distinção entre os preços é tamanha que compensa, inclusive, os possíveis gastos com impostos.
Apesar do cenário, o estudo da SPC Brasil mostrou que há uma preocupação do brasileiro com o prazo de entrega e com a possibilidade do produto não ser entregue ou retido pela Receita Federal. Os riscos aparecem como principais desvantagens para os consumidores e estimulam, de acordo com o CEO do Ebit, que os brasileiros comprem produtos com tíquete médios baixo. "Não há também a possibilidade de trocas ou devolução. Isso estimula a compra de produtos mais baratos: acessórios para smartphones e tabletes, por exemplo", diz.
O tíquete médio, segundo a Abcomm, deve girar este ano em torno de R$ 196, valor um pouco acima do registrado no ano passado, quando o gasto médio dos brasileiros em sites estrangeiros foi de cerca de R$ 180. O presidente da entidade também pontua que o tíquete médio menor se deve ao medo de que o produto não seja entregue. "Em função disso, o consumidor não arrisca com artigos mais caros", afirma.
Caminho inverso
Se as compras de brasileiros em sites no exterior têm crescido nos últimos anos, o caminho inverso ainda é pouco comum no Brasil. São raros os sites ou marcas nacionais que vendem produtos para outros países através do comércio eletrônico, apesar do trabalho que vem sendo feito por agentes do mercado para estimular esse tipo de prática.
"O e-commerce cross border é uma via de duas mãos, mas que ainda está sendo pouco aproveitada pelo nosso mercado", resume o presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), Eduardo Terra. De acordo com ele, o principal fator que inibe os varejistas brasileiros é o desconhecimento. O tema da venda cross border começou a ser discutido recentemente no setor, e muitas marcas ainda têm uma percepção equivocada, segundo Terra, de que o processo é complexo de ser implementando. "As empresas acham que é algo complicado, mas existem formas simples de realizar a venda cross border". Ele diz que marketplaces globais, como Alibaba e Amazon, são uma saída interessante para marcas brasileiras venderem no exterior, já que oferecem toda estrutura de logística e um suporte em questões regulatórias.
A dificuldade de oferecer produtos com um preço competitivo é outro aspecto que dificulta o crescimento da prática entre as lojas brasileiras. O fator acaba limitando também as vendas cross border apenas para algumas categorias específicas. "É uma oportunidade para marcas exclusivas brasileiras que fazem sucesso lá fora e que poderiam conquistar novos mercados pelo varejo virtual", afirma Terra.
A falta de marcas brasileiras aproveitando as possibilidade do e-commerce cross border faz com que a prática se torne um competidor para as lojas nacionais, sem gerar uma contrapartida positiva para o setor. O presidente da Abcomm, Salvador, afirma que a compra de brasileiros em sites estrangeiros impacta o comércio eletrônico nacional. "Quando o consumidor compra um produto lá fora, ele acaba deixando de comprar de uma loja nacional", ressalta.
O tema, no entanto, ainda não gera grande preocupação entre os associados da entidade, não justificando que a associação tome qualquer medida. "Apesar de já ser uma concorrência, percebemos entre os associados que não existe uma reclamação ou preocupação grande em relação ao impacto."
Guasti, da Ebit, pondera que a competição ainda é muito restrita para algumas categorias de produtos, não gerando um prejuízo expressivo para as grandes lojas do varejo virtual. "O sortimento na compra internacional é de produtos de baixo valor. Então a concorrência é mais com os vendedores não profissionais do que com as lojas estruturadas", afirma o executivo.
DCI - 08/11/2017
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