segunda-feira, 05 de setembro, 2016

Crise ajuda mercado de vendas por assinatura

São Paulo - O momento de recessão econômica e o encolhimento da renda propiciou a expansão do segmento de clubes de assinatura on-line. Enquanto o consumidor tenta mudar seu hábito de compras, sem diminuir drasticamente o padrão de consumo, empresas ganham força para substituírem, principalmente, os gastos que os brasileiros têm fora de casa.
Segundo a Associação Brasileira do Comércio Eletrônico (ABComm), o País deverá registrar neste ano um aumento de 40% no número de e-commerces, para 700 empresas, que trabalham com vendas por assinatura. Ano passado eram cerca de 500.
"Neste caso [de queda de renda], o consumidor tenta reduzir onde ele acredita que perderá um mínimo possível de satisfação", avaliou o professor Nuno Fouto, que ministra aulas no Programa de Administração de Varejo (Provar), da Fundação Instituto de Administração (FIA), fazendo menção aos dados do IBGE, da última semana, que apontavam retração de 3% no rendimento real habitual do País em julho, na comparação interanual.
O acadêmico explicou ainda que a substituição de gastos fora de casa por compras em clube de assinatura tende a ser a primeira opção antes de eliminar essa despesa. Exemplo disso é a troca de consumo em bares por compras de bebidas na modalidade. "Ele prefere esses grupos como opções, em detrimento de uma cesta mais ampla que ele teria."
Para o presidente da ABComm, Maurício Salvador, a tendência de crescimento dos clubes de assinatura, bem como o aumento nas compras virtuais, também está relacionada às boas experiências dos consumidores. "Os clubes de assinaturas trazem comodidade para que as pessoas recebam produtos com uma frequência e experimentem marcas e sabores. Isso é um ótimo estopim para tratar nas redes sociais, por exemplo."
Várias empresas
Sócio e diretor de marketing do Omelete Group, que mantém o clube geek Omelete Box, Marcelo Forlani vai além e afirma que a tendência de vendas por clubes de assinatura é um reflexo do meio virtual. Citando, por exemplo, o fato das pessoas deixarem os cartões de crédito disponíveis para compras desse tipo. "Isso minimiza o problema com inadimplência, como acontecia com as assinaturas de revistas e TV de antigamente", explica, ressaltando a facilidade para encerramento da conta.
O Omelete Box deu início às operações em dezembro do ano passado e se enquadra no segmento de clube de curadoria, onde a equipe da empresa fica de olho no calendário de lançamentos de produtos, filmes e games para a escolha e montagem do kit.
Com esse pressuposto, a expectativa de Forlani, que preferiu não abrir números, é ter atingido, no final do mês passado, o faturamento previsto para o acumulado ano.
Cofundadora do Veggie Box, Samyra Cunha acredita que o segmento tem espaço para tudo. Sua empresa, um clube com curadoria de petiscos e produtos de beleza veganos, atua desde o início de 2015, tem mil assinantes e quer dobrar a marca até o fim do ano.
"O nosso clube, ou o próprio clube geek, por exemplo, surgiu de uma carência de um público. Onde existir essa carência, surgirão novas opções para atendê-la e por isso o setor tem potencial para crescer muito mais", destacou Samyra.
Na Adeus Rotina, clube de produtos íntimos, fabricantes e sexólogas ajudam a definir, no início do ano, o que será direcionado. A empresa usa ainda datas comemorativas para definir os produtos, tal qual a Veggie Box. Já Maicon Esteves, cofundador da Adeus Rotina, ressalta que o grande conceito dos clubes é oferecer experiência. "Um clube de vinho, por exemplo, envia junto dicas de sommelier, dizendo o que combina com aquele vinho."
Muitos desafios
Apesar de oportuno, entrar nesse mercado deve ser feito com alguns cuidados. Esteves, por exemplo, pontua que além de terem boas sacadas, os clubes têm que driblar adversidades. As empresas com poucos assinantes, por exemplo, têm a tarefa árdua de negociar preço com fornecedor, com operadores de frete e gerir de forma correta o estoque. "Para uma caixinha, você vai ter que pedir algo em torno de 10 mil unidades, e é difícil fazer um pedido desses e deixar guardado."
De opinião similar partilha o cofundador do clube de leitores TAG, Tomás Susin. "Antes de entrar no mercado, o empreendedor deve estar muito bem preparado para enfrentar diversos desafios", alerta.
A rede da qual o empresário faz parte também é de curadoria, e todos os meses uma pessoa referência no cenário cultural é escolhida para indicar a obra que será enviada.
Outras opções
Diretor comercial da EZ Commerce, especializada em plataformas de comércio eletrônico, Maurício Correa explicou que além do clube de assinatura de curadoria, há também o de praticidade. Neste caso, a empresa envia kits de produtos de rotina. Exemplo da modalidade é o Home Shave Club, que importa lâminas de barbear de alta qualidade com o propósito de criar alternativa ao mercado atual e combater altos preços.
O sócio-fundador Arthur da Costa contou que antes de entrar no mercado, foi preciso estudá-lo. "O brasileiro não consome tanto quanto o americano. Fizemos teste de durabilidade da lâmina para ajustar o envio do produto de um jeito que ele não se acumulasse na casa do cliente."
DCI
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