quarta-feira, 15 de junho, 2016

Setor de eletrodomésticos vê volta de demanda só em 2018

São Paulo - A cadeia de eletrodomésticos de linha branca (geladeira, fogão e lavadora) está pouco otimista para este e o próximo ano. Executivos do setor projetam o início de uma recuperação do mercado apenas a partir de meados de 2018.
"Três anos atrás as pessoas trocavam os eletrodomésticos porque tinham maior poder aquisitivo", lembra o presidente do Centro da Indústria do Estado do Amazonas (Cieam), Wilson Périco. Hoje, segundo ele, diante das condições econômicas atuais - desemprego crescente, inflação em alta, restrição ao crédito e aumento de impostos - "o consumidor usa o que tem". "O mercado interno está sem confiança porque ninguém sabe quando a situação político-econômica deve melhorar", avalia Périco, que considera 2016 "um ano perdido" para a cadeia de linha branca.
Já o presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), Lourival Kiçula, acredita a partir do segundo semestre deste ano seja possível notar alguma reação nas vendas, visto que o brasileiro ficou mais otimista após as mudanças no cenário político, com o processo de impeachment de Dilma Rousseff. "Mas ainda será difícil bater os números de 2012, quando atingimos o pico de 20 milhões de unidades vendidas. Isso só vamos ver depois de 2018", estima Kiçula. O pico do setor foi baseado na redução da alíquota do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).
Conforme levantamento da Eletros, as vendas de eletrodomésticos recuaram 18% no primeiro trimestre de 2016 em relação ao mesmo período do ano passado, totalizando 3,3 milhões de unidades.
A fraqueza do mercado nos primeiros meses levou a gigante Whirlpool, dona das marcas Consul e Brastemp, a uma previsão de queda nas vendas brasileiras de 10% em 2016 em relação ao ano passado.
A companhia registrou retração de 22% das vendas na América Latina entre janeiro e março sobre um ano antes, US$ 705 milhões. A baixa, segundo relatório trimestral da fabricante, se deve as condições adversas da economia brasileira, com destaque para o impacto da variação cambial, aumento da inflação e avanço do desemprego.
A sueca Electrolux, segunda maior fabricante de eletrodomésticos no Brasil, também notou diminuição dos negócios, de acordo com seu relatório de resultados do primeiro quadrimestre de 2016. Brasil e Argentina foram os principais responsáveis pelo recuo de 31% da demanda do grupo na América Latina no três primeiros meses de 2016 na comparação com o mesmo intervalo de 2015.
Potencial
Para o presidente da Eletros, o restabelecimento desse mercado será lento, gradual e dependente da política econômica. "Todas as fábricas estão com capacidade ociosa, está todo mundo meio parado. Ainda assim, a tendência é de recuperação porque chegamos ao fundo do poço e daqui para frente precisa começar a crescer. Mas o governo precisa garantir emprego para que o consumidor tenha confiança para voltar a comprar", afirmou Lourival Kiçula, em entrevista ao DCI.
Hoje, o setor opera com cerca de 84% da capacidade instalada, conforme o último levantamento realizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Entre 2012 e 2013, quando essa cadeia experimentava uma forte demanda, potencializada pela grande oferta de crédito ao consumidor e a os efeitos da redução da alíquota do IPI, as fábricas utilizavam perto de 90% da capacidade.
O cenário é ainda pior para outros elos da cadeia de linha branca, como os fornecedores de peças e componentes, relatam os representantes do setor.
A Emicol, fabricante de componentes para eletrodomésticos, opera atualmente com 60% da sua capacidade, revelou o diretor de novos negócios da empresa, Feres Macul Neto.
"Estamos operando abaixo do ideal. Apenas a partir de 2018 devemos chegar a 80% ou 85% dessa capacidade, um número razoável", explica ele.
Outra fornecedora que operada abaixo do seu potencial produtivo é a Metal Coat. Segundo o diretor comercial da empresa, Sérgio Camargo Filho, a fábrica tem capacidade para produzir 230 toneladas de peças metálicas por mês, entretanto, tem atuado com 200 toneladas.
"O mercado está querendo reagir, mas vejo uma melhora muito pequena. Nosso primeiro semestre foi terrível".
Somente no ano passado, o faturamento da empresa caiu 15% em relação a 2015, disse o executivo, sem revelar cifras.
"Com um mercado no fundo do poço, qualquer oxigenação é satisfatória. No entanto, pode ser que essa melhora não se concretize [tão rápido]".
Negociação
Para enfrentar a queda nas vendas a negociação com o varejo tem sido fundamento, disse a gerente geral de linha branca da LG Electronics no Brasil, Kati Dias. Segundo ela, a estratégia vem ajudando a empresa lidar com os efeitos da crise no Brasil e seguir com seus planos de retomada do crescimento.
"Foi essencial dividir nossa situação com a outra ponta da cadeia. Tivemos de reduzir um pouco o volume de entregas por causa da retração do mercado e o varejo, ciente disso, trabalhou junto para negociar".
A executiva comentou, evitando muitos detalhes, que a LG não conseguiu cumprir suas metas para 2015 no País, em função do quadro macroeconômico brasileiro. Mas para este ano já começa a projetar uma estabilização das condições.
"Já estamos com um plano de recuperação e apostamos em números melhores a partir de 2017", ressaltou Kati Dias.
A fabricante de eletrodomésticos das marcas Brastemp e da Consul também busco na parceria com as varejistas uma alternativa para impulsionar os negócios no Brasil. Em entrevista recente ao DCI, o vice-presidente de vendas e marketing da multinacional no Brasil, Paulo Miri, comentou que a empresa decidiu internalizar promotores de vendas, que antes eram funcionários terceirizados.
Segundo o executivo, a estratégia visa melhorar o atendimento do consumidor final dentro do ponto de venda, oferecendo informações sobre o produto que possam contribuir para a decisão de compra.
"O objetivo é ajudar os varejistas nesse momento de menor intenção de compras a converter a venda ao consumidor", explicou Paulo Miri.
DCI
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