quinta-feira, 05 de maio, 2016

Apesar da resiliência, setor de embalagem enfrenta retração em 2015 e deve fechar 2016 com mais um recuo

Com volume bruto de produção fechado em R$ 57,3 bilhões, o setor de embalagens brasileiro apresentou recuo de 4,31% na produção física de embalagem em 2015 em comparação ao ano anterior. Os resultados do Estudo Macroeconômico da Embalagem Abre/FGV Retrospecto de 2015 e Perspectivas para 2016, apresentados pela Associação Brasileira de Embalagem (Abre) em fevereiro último, ainda mostram que o setor operou com um grau médio de utilização de capacidade de 82,5%, gerando 216 mil postos de trabalho em 2015, valor 4,97% menor do que o do ano anterior, quando operou com 86,3% de sua capacidade produtiva.
Na opinião de Salomão Quadros, economista responsável pelo estudo, os números refletem o cenário de uma recessão prolongada. Grandes usuários de embalagem, como as indústrias de alimentos, bebidas, fumo, vestuário, calçados, perfumaria, farmacêuticos, produtos de limpeza, cimento, fertilizantes e tintas apresentaram em 2015 retração maior do que em 2014. Ele afirma que o consumo está por trás do baixo desempenho.
O consumo das famílias recuou 5,8% entre o quarto trimestre de 2014 e o terceiro de 2015”, justifica, lembrando que a retração é significativamente maior do que a registrada na crise de 2008, quando o consumo recuou apenas no quarto trimestre, assinalando redução de 2%.
De acordo com Luciana Pellegrino, diretora executiva da Abre, o estudo é um balizador para o mercado de embalagem. Pode-se notar que o valor bruto da produção tem crescido, mas acaba sendo afetado pela inflação industrial, entre outros custos, e, em alguns casos, pelo maior valor bruto produção embalagem 2015 2 luciana valor e tecnologia da embalagem produzida. “Ao medir a variação física da produção e entender o que foi realmente produzido, nosso objetivo é oferecer ao setor um termômetro do segmento e buscar um norte para ações na indústria”, comenta.
Abordando especificamente o segmento de papelão ondulado, Gabriella Michelucci, presidente da Associação Brasileira de Papelão Ondulado (ABPO), informa que o setor fechou 2015 com 3,3 milhões de toneladas expedidas, volume que representa uma retração de 3% em relação a 2014. Apesar do recuo, ela ressalta que outros segmentos industriais passaram por quedas mais expressivas, a exemplo da indústria de transformação, que registrou retração de 10% no ano passado.
“O recuo de 3%, portanto, demonstra a resiliência do setor de papelão ondulado”, avalia. Ainda analisando os resultados apresentados em 2015, Gabriella sublinha que o setor alimentício é a base do setor de papelão ondulado, representando 60% do total de segmentos que usam este tipo de embalagem. “Mesmo assim, registramos retração de 3%, o que mostra que já passamos da crise atrelada aos bens duráveis e valor bruto produção embalagem 2015 2 gabriellaestamos enfrentando queda também entre os bens semiduráveis e não duráveis”, afirma ela, interpretando os números. A presidente da ABPO aponta a queda do poder aquisitivo, com o aumento do índice de desemprego entre os motivos da queda. “Além disso, o Brasil viveu uma vigorosa recuperação de salário nos últimos anos, acima do valor inflacionário. Em 2015, contudo, acompanhamos uma redução desse repasse inflacionário aos salários. Toda a perda de capacidade de bens de consumo não duráveis se reflete diretamente no segmento”.
Perspectivas para 2016 sinalizam mais um ano difícil
Para 2016, Quadros informa que o cenário base indica redução de 2,8% da produção física do setor de embalagem. O volume produzido deverá ser inferior ao de 2015 até o terceiro trimestre, mostrando uma leve elevação nos últimos três meses do ano. No balanço final da projeção feita para este ano, a produção deverá corresponder a R$ 60,5 bilhões.
A projeção é justificada por um cenário que pressupõe aumento da taxa média de desemprego de 8,6% para 11,3%; perda de poder aquisitivo dos rendimentos do trabalho de 3%; nova retração do consumo das famílias, de 2,5%, e contração do PIB de 3%. O economista esclarece que a queda projetada do PIB resultará de retração da indústria de transformação, que corresponderá a 4,5%, contra 8,3%, vista em 2015, e dos serviços de 2,2%, ante 2,5%, em 2015, conforme o boletim Focus.
O índice de confiança da indústria, também medido pelo estudo, revela evolução positiva das expectativas empresariais diante da progressiva redução de estoques. Quadros esclarece, contudo, que a correção necessária está mais relacionada à redução da produção do que ao fortalecimento da demanda. Na prática, a reposição de estoques que impulsionará a produção não deverá ser imediata nem vigorosa.
valor bruto produção embalagem 2015 2 quadrosAdicionalmente, diante da elevada ociosidade, as empresas devem adiar investimentos, o que significa um pilar a menos a dar sustentação à possível retomada. “Dadas as incertezas associadas ao contexto macroeconômico, é provável que as projeções mencionadas precisem passar por revisões ao longo do ano”, afirma Quadros.
“Por se tratar de uma recessão prolongada, a retomada é sujeita a avanços e retrocessos. Nesse contexto, poderemos ver adiadas para 2017 as primeiras taxas positivas de crescimento da produção de embalagem, que previmos para o quarto trimestre de 2016”, pondera o economista da FGV.
Por outro lado, a taxa de câmbio em torno de R$ 4 promete devolver às exportações parte da competitividade perdida e incentiva a substituição de importações. O programa de reativação da economia pela oferta de linhas de crédito também desponta entre os estímulos que podem resultar em taxas menos negativas do que as registradas em 2016. De qualquer forma, Quadros sublinha que será a maior sequência de quedas consecutivas da produção, totalizando três anos.
Em face dessas perspectivas, Luciana frisa que o setor de embalagem tem buscado eficiência operacional e redução de custos, além de trabalhar no desenvolvimento de novas funcionalidades e da exploração de nichos do mercado que tragam maior valor ao consumidor.
A estratégia está em linha com o trabalho encabeçado pela ABPO, conforme detalha Gabriella. “Nos últimos dois anos, estamos desenvolvendo treinamentos mais intensos do ponto de vista de melhorias de produtividade e redução de custos, estimulando as empresas a trazerem seus técnicos para dentro da associação, para que possamos buscar a sinergia nacional com base naquilo que já vem sendo feito de forma individual. A agenda de 2016, já formulada, tem foco nesta questão fundamental: dar continuidade ao desenvolvimento produtivo e reduzir custos em prol da melhoria contínua das empresas do setor.”
Celulose Online – 04/05/2016
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