terça-feira, 22 de março, 2016

Consumo de água em garrafa cresce dois dígitos, mas começa a cair

A qualidade da água em muitas cidades brasileiras pode ter sofrido nos últimos tempos, mas a sede da população não abrandou. Nos últimos anos, a venda de água mineral engarrafada vem crescendo a um ritmo de dois dígitos. Somente de 2013 a 2014, o consumo subiu 20% e continuou crescendo. O mercado como um todo gira em cerca de 13 bilhões de litros.
No último mês, no entanto, a procura vem sofrendo com a queda na atividade econômica. “A partir do dia 15 de fevereiro, as vendas começaram a cair”, afirma Carlos Alberto Lancia, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Águas Minerais (Abinam). As chuvas também atrapalham a atividade no setor. Não porque influenciam a extração de água, mas porque as pessoas tendem a consumir menos com tempo chuvoso.
O mercado vem crescendo tanto do ponto de vista quantitativo quanto qualitativo, afirma Antonio Vidal, superintendente de alimentos e bebidas do grupo Edson Queiroz, que vende água com as marcas Minalba e Indaiá. O consumo per capita, segundo ele, dobrou nos últimos dez anos, devido principalmente ao nível de conscientização das pessoas em relação à saúde, além do calor e da questão hídrica que o país enfrenta.
Nos últimos anos, os engarrafadores também decidiram dar mais glamour a seus produtos. Há garrafas de cores diferentes, com outros formatos ou destinadas às crianças. Mas o mercado continua ainda não totalmente “democrático”, segundo Vidal. “A água mineral é muito vendida ainda no mercado A e B”, diz ele. “O custo de logística é bem elevado. É pesado transportar água.” O grupo Edson Queiroz comercializa cerca de 3 milhões de garrafões de 20 litros de Brasília até Belém do Pará. Nas outras embalagens, coloca no mercado cerca de 1 bilhão de litros por ano.
Quando se fala em garrafinhas, coloridas ou não, alguns estômagos se embrulham. As embalagens PET, tanto de garrafas quanto de outras bebidas como os refrigerantes, quando descartadas aleatoriamente são responsáveis até por ilhas de detritos que se formam nos oceanos. Algumas cidades, como São Francisco, nos Estados Unidos, vêm impondo restrições à sua comercialização. Montreal, no Canadá, pode seguir o mesmo caminho.
“Essa é uma questão, de certa forma, dos anos 80, quando se viam as garrafas jogadas nas ruas”, argumenta Vidal. “Hoje há uma emissão menor de PET, não se vê mais a olho nu as embalagens por aí.” Além disso, diz, o setor está empenhado na logística reversa, com recolhimento dos frascos, apoio aos catadores e também com a redução da quantidade de matéria prima. No grupo Queiroz, hoje cada uma delas tem 9 gramas. Há dez anos, a quantidade era o dobro. “Nos últimos três anos, vimos muitos avanços”, afirma. “Mas ainda não é suficiente, precisamos de outras ações que reduzam consideravelmente o desperdício.”
Segundo o presidente da Abinam, a produção de uma garrafa PET é mais sustentável do que a de uma garrafa de vidro. “Mas não somos reféns da indústria da embalagem. Se o consumidor quer vidro, PET, cantonada, fornecemos.” O problema é que o brasileiro não parece interessado nas garrafas de vidro, que foram sumindo do mercado há alguns anos, nem na cartonada, lançamento que não fez sucesso por aqui.
E se o consumidor sedento não quiser ou não puder comprar água engarrafada? De acordo com especialistas, as empresas de concessão de água cumprem as normas do Ministério da Saúde, limpando e retirando substâncias inadequadas previstas pelas normas oficiais.
Mas há alguns problemas. Um deles, diz José Carlos Mierzwa, professor do departamento de engenharia hidráulica e ambiental da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), é que os padrões levam em conta mananciais protegidos do impacto humano, o que dificilmente acontece no país. Com a crise hídrica, várias empresas e municípios se interessaram em tratar água de reuso para ser potável, mas o interesse arrefeceu com a volta das chuvas. “No Brasil, estamos começando a desenvolver tecnologia, nacionalizá-la com melhorias”, diz. “Mas isso pode demorar para chegar à população.
Seria, então, perigoso tomar água da torneira? “Nunca houve um caso comprovado de contaminação no Brasil”, diz Mierzwa. Mas, aconselha, é bom usar algum tipo de filtro antes de beber a água encanada, principalmente dependendo do manancial de onde é retirada.
Valor Econômico
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