segunda-feira, 10 de agosto, 2015

Setor de alimentos conecta quatro megainvestidores

William Ackman chegou ao escritório de Nelson Peltz, em 2007, com barras de chocolate, refrigerantes e uma ideia.
O investidor ativista queria saber se Peltz estava interessado em se unir a ele para pressionar por mudanças na Cadbury Schweppes, a icônica empresa britânica de chocolates e refrigerantes.
Mas Peltz, veterano em campanhas ativistas, estava bem à frente dele. Peltz, um dos fundadores do Trian Fund Management LP, já tinha um plano em mente, a separação dos negócios de bebidas da companhia. A cisão, que acabou sendo anunciada no fim daquele ano, abriu caminho para a compra da fabricante de chocolate, em 2010, pela Kraft Foods Inc., um negócio de US$ 19 bilhões.
Oito anos depois, Ackman volta a seguir os passos de Peltz. Sua firma, a Pershing Square Capital Management LP, revelou na semana passada que acumulou uma participação de US$ 5,5 bilhões na Mondelez International Inc., na qual Peltz tem um assento no conselho de administração. Ackman acredita que a Kraft Heinz Co. poderia potencialmente comprar a Mondelez, segundo pessoas a par do assunto, um negócio que voltaria a unir o extenso império da Kraft depois de ser desmembrado em 2012.
Desta vez, o elenco de personagens é maior. A Kraft Heinz é controlada pelo lendário investidor Warren Buffett e sua empresa Berkshire Hathaway Inc., assim como pela 3G Capital Partners LP, a firma de investimentos que conta entre seus fundadores com o homem mais rico do Brasil, Jorge Paulo Lemann.
O interesse mútuo reflete a evolução do relacionamento pessoal dos quatro. Ackman é seguidor de Buffett e tem investimentos pessoais na 3G Capital. A Berkshire se tornou uma fonte de recursos para os negócios recentes da 3G e Buffett e Lemann são amigos próximos. Ackman e Peltz, embora rivais, mantêm uma relação cordial e uma admiração mútua que se reflete em uma série de investimentos que se sobrepõem.
Também reflete o fato de os investidores acreditarem que a indústria de alimentos embalados está pronta para gerar dinheiro. Por décadas, empresas no setor compraram e venderam marcas, promoveram fusões e cisões, abriram capital, fecharam capital e abriram capital de novo. Durante todo o tempo, e apesar de algumas terem as marcas mais icônicas do varejo, elas têm enfrentado dificuldades para crescer com as mudanças nas preferências do consumidor.
No caso desses investidores, “todos se sentem atraídos pela mesma premissa básica: essas empresas têm vantagens competitivas duradouras” e potencial de criar mais valor, diz Ken Shubin Stein, presidente do conselho da Spencer Capital Holdings, que tem ações da Berkshire.
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Se a Kraft Heinz comprasse a Mondelez, a 3G se tornaria mais um personagem de uma longa e sinuosa história envolvendo esses investidores e o punhado de empresas que hoje compõem a Mondelez e a Kraft Heinz.
Ackman cruzou o caminho da 3G Capital em 2010, quando ele pessoalmente investiu em um fundo criado pela 3G para levantar recursos para fechar o capital do Burger King. Dois anos depois, uma “shell company” (empresa sem ativos ou atividade específica que capta recursos e os investe em um negócio do mundo real) de capital aberto, cujos proprietários incluía a Pershing Square, de Ackman, fundiu-se com o Burger King, permitindo que a rede de fast-food voltasse ao mercado acionário.
No ano passado, o Burger King se fundiu à rede de cafeterias canadense Tim Hortons, negócio que foi financiado pela Berkshire. A Pershing Square continua uma grande acionista da empresa resultante dessa união, a Restaurant Brands, juntamente com a Berkshire e a 3G Capital. As ações da companhia subiram mais de 20% desde que começaram a ser negociadas, em dezembro.
Os investimentos de Ackman e Peltz acabaram se cruzando em outros negócios, como a cadeia de fast-food Wendy’s e a varejista Family Dollar.
Os dois estavam entre os investidores que pressionaram pela separação, em 2012, dos ativos da Mondelez e da Kraft, que se fundiu com a Heinz, num acordo que foi concluído no mês passado.
Na conexão mais recente dessa teia de investimentos está a 3G.
Os investimentos da empresa são financiados por um grupo de investidores ricos e se concentram em um estilo agressivo de corte de custos. “Essas empresas todas não se tornaram melhores de repente, mas a 3G achou uma fórmula de gerar mais dinheiro com elas”, diz um investidor que tem participações acionárias em algumas das companhias que pertencem à firma de private equity.
Peltz e seus sócios notaram a 3G Capital depois que a firma se juntou à Berkshire Hathaway, em 2013, para comprar a Heinz, a mesma empresa que o fundo de Peltz havia pressionado no passado para reduzir despesas.
Os gestores indicados pela 3G Capital embarcaram num esforço de cortes de custos profundos. A Trian estima que sob o comando da 3G, as margens de lucro da Heinz saltaram de 18% para 25%.
Peltz se encantou com o método de redução de custo, conhecido como “orçamento base zero”. Logo depois que Peltz passou a fazer parte do conselho da Mondelez, no ano passado, a Mondelez informou que passaria a adotar o “orçamento base zero”.
Os novos donos da Kraft Heinz — a 3G e Buffett— e seu pedigree de corte de custos explicam em parte o que levou Ackman a ter a ideia de unir novamente a Mondelez à Kraft Heinz, de acordo com pessoas a par do assunto.
Ainda assim, Ackman provavelmente enfrentará o ceticismo de Lemann e Buffett. É improvável que a 3G Capital explore uma união da Mondelez e da Kraft Heinz agora, tão pouco tempo depois da fusão que deu origem à Kraft Heinz, dizem pessoas próximas à firma. Peltz, que sinalizou o desejo de impulsionar crescimento na Mondelez por meio de uma fusão, pode ser mais fácil de convencer. Antes de se unir ao conselho, em janeiro de 2014, ele pressionou para que a Mondelez se fundisse com o negócio de salgadinhos da PepsiCo Inc.
WSJ
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