segunda-feira, 30 de novembro, 2015

Whirlpool aposta no consumo da Ásia e Europa, enquanto perde força no Brasil

De Boston até Pequim, a Whirlpool Machines tem lavado a roupa e os pratos do mundo. A enorme variedade de produtos da empresa e sua rede de produção e distribuição fizeram dela a líder global no setor de eletrodomésticos. Mas o sucesso a tornou vulnerável a instabilidades internacionais, e turbulências em mercados a milhares de quilômetros da sede da Whirlpool, no Estado americano de Michigan, podem derrubar suas ações.
Neste ano, a cotação das ações da Whirlpool caíram quase 14%. A valorização do dólar e a queda no crescimento econômico e do real no Brasil se mostraram especialmente problemáticos. A subsidiária brasileira Whirlpool SA, dona das marcas Brastemp e Consul, divulgou um prejuízo líquido de R$ 29 milhões no terceiro trimestre, ante lucro de R$ 157 milhões no mesmo período de 2014, citando o desaquecimento do setor de eletrodomésticos como causa do fraco desempenho. A Whirlpool prevê que suas vendas em unidades no Brasil caiam cerca de 20% em 2015 devido à retração na demanda. Juntamente com a desvalorização do real, isso deverá reduzir em US$ 0,50 o lucro por ação da companhia como um todo, afirma a Whirlpool, que cortou sua previsão de lucro por ação neste ano de até US$ 13 para até US$ 12,50.
Mas os investidores podem estar exagerando. O Brasil representa cerca de 15% da receita total e deve diminuir em importância, à medida que as grandes aquisições que a empresa fez na Europa e na Ásia comecem a elevar as vendas nessas regiões.
De fato, a expansão do setor de eletrodomésticos do Brasil vem perdendo força, segundo dados da firma de pesquisa Euromonitor International. Depois de crescer 34,8% no período entre 2010 e 2015, as vendas em unidades no país devem subir só 13,1% entre 2015 e 2020. A expansão esperada para a linha branca nesse período é de 4,2%, comparado com 23,1% entre 2010 e 2015.
Os investidores que comprarem as ações da Whirlpool agora devem ter um lucro considerável. A expectativa da empresa é que seu lucro cresça anualmente a uma média de 17% nos próximos anos. Como resultado, a Whirlpool deve atingir um lucro anual de US$ 15 por ação dentro dos próximos 18 meses, uma vez que as preocupações com a economia global diminuam. A ação pode saltar dos US$ 160 que atingiu recentemente a
US$ 200. Some-se a isso uma rentabilidade de 2,3% nos dividendos e os investidores podem embolsar quase 30% de retorno.
"Os problemas no Brasil estão provavelmente 80% encerrados, e já foram embutidos na ação. E os negócios da Whirlpool na Europa e na China vão mudar o jogo", diz John Harloe, gestor de portfólio da Barrow, Hanley, Mewhinney & Strauss, que possui ações da empresa há cerca de sete anos.
A Whirlpool, que tem sede em Benton Harbor, Michigan, abriu as portas em 1911. Ela vende lavadoras, secadoras, fogões, máquinas de lavar de louça, geladeiras e outros eletrodomésticos de mais de uma dezena de marcas, incluindo as brasileiras Brastemp e Consul, a Maytag e a Kitchen Aid, também vendida no Brasil. A Whirlpool domina o mercado de eletrodomésticos nos Estados Unidos, com uma fatia de 39%, e no mundo, com 10,9%, segundo a empresa de pesquisa de mercado IBISWorld.
No Brasil, onde concorre com a Electrolux e a Groupe SEB (dona da marca Arno), a Whirlpool é líder com uma fatia de mercado de 10,2% no setor de eletrodomésticos em geral. No segmento de linha branca, a participação salta para 29,1%, segundo dados da Euromonitor para 2015. Essas fatias eram respectivamente de 11,5% e 33,7% em 2010.
A Whirlpool lucrou US$ 650 milhões no ano passado, com um faturamento de US$ 19,9 bilhões. Este ano, ela deve lucrar US$ 851 milhões sobre uma receita de US$ 21,2 bilhões.
As aquisições - principalmente a compra da americana Maytag em 2006 - deram impulso ao crescimento. A empresa transformou uma fabricante de equipamentos de margens baixas, desprovida de marcas e dependente de varejistas como a Sears numa líder global de eletrodomésticos de marca", diz Robert Wetenhall, analista do banco de investimentos RBC Capital Markets.
A Whirlpool é conhecida por aumentar os lucros mesmo quando as vendas estão crescendo moderadamente. Sua receita avançou 5% de 2008 a 2014, mas o lucro saltou 55% com cortes de capacidade e de custos.
A empresa pode replicar esse sucesso nos próximos anos. No ano passado, a Whirlpool comprou a fabricante italiana de eletrodomésticos Indesit por US$ 1,4 bilhão, dobrando sua capacidade na Europa. Até 2017, a Whirlpool espera reduzir US$ 350 milhões em custos com a aquisição. A empresa quer ter uma margem de pelo menos 7% na Europa, Oriente Médio e África até 2018, ante 3% em 2014. Harloe, o gestor de portfólio, acredita que a Indesit deve adicionar US$ 5 por ação ao lucro da Whirlpool, e US$ 75 ao preço da ação.
Na China, a empresa ampliou seu alcance com a compra de uma fatia controladora da fabricante local de eletrodomésticos Hefei Sanyo, e deverá se beneficiar da expansão de sua rede de distribuição de 3 mil para 30 mil lojas. A meta é obter uma margem de 8% até 2018, comparado com 3% em 2014. A Ásia representa 6% das vendas da Whirlpool, tendo mais que dobrado no terceiro trimestre em relação a um ano atrás.
Na América do Norte, a Samsung e a LG vêm ganhando terreno nos últimos anos, e os investidores receiam que as empresas sul-coreanas acabem vendendo a preço de custo para ganhar mercado. Mas a Whirlpool está confiante que irá manter o ritmo na região neste trimestre, evitando uma guerra de preços. "Nós acreditamos em ganhar fatia de mercado, e não comprar fatia de mercado", disse o diretor-presidente Jeff Fettig, durante a teleconferência de resultados do terceiro trimestre. Ele não estava disponível para comentar para este artigo.
As vendas na América Norte devem se beneficiar da recuperação do setor de construção - ainda 25% abaixo dos níveis normais. Historicamente, a Whirlpool tem conseguido elevar preços e volumes quando o setor imobiliário se aquece.
Valor Economico
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