quarta-feira, 16 de julho, 2014

Retração da economia no País já afeta padarias

A desaceleração da economia brasileira tem impactado o mercado de padarias em todo o País. O segmento tem sofrido com os resultados negativos registrados desde o ano passado e a previsão é crescer apenas 3% até o final do ano. Fora isso, a expectativa é que o resultado se agrave no próximo ano, já que a alta na inflação tem influenciado no reajuste dos preços dos alimentos e redução do poder de consumo.
"Essa é uma realidade que está sendo sentida em todo o segmento de alimentação, uma vez que o varejo não tem apresentado o mesmo desempenho visto nos últimos anos", apontou o sócio-diretor de food service da Gouvêa de Souza (GS&MD), Sergio Molinari. Para ele o resultado chama a atenção e será o primeiro ano em que o mercado terá um desempenho abaixo dos 10%. "O empresário brasileiro estava acostumado a crescer, porém terá de enfrentar essa nova realidade, já que o crescimento real não será maior que 3%", disse.
O especialista ressaltou que apesar da retração, as padarias ainda são ótimos modelos de investimentos, uma vez que o sucesso do negócio só depende da visão e aprimoramento do empreendedor. "Temos cerca de 10 mil padarias, que estão apresentando crescimento positivo, além de rentabilidade importante".
Diante das incertezas, Molinari afirma que modernizar o empreendimento é essencial para se destacar no mercado. "As padarias têm de se adaptar e proporcionar diferentes experiências de compra ao longo do dia, já que o perfil de consumo muda entre café da manhã, almoço e jantar".
Para tanto, identificar o perfil do público e os produtos de maior interesse pode ser a solução. "Temos que tomar cuidado com os modismos. Exemplo disso são as adegas de vinho, que funcionam muito bem nas unidades voltadas para as classes A e B, mas que não refletem a realidade das lojas em bairros periféricos".
Grandes do setor
Entre as companhias que registraram forte queda no primeiro semestre do ano está a rede de padarias Dona Deôla. Com expectativas de manter o crescimento em 2%, número de clientes visto no último ano, a empresa aproveita o momento para organizar os negócios, já que a situação deve piorar em 2015, como afirmou o CEO do Grupo, Flavio Del Nero. "O primeiro semestre não foi positivo, porque tivemos aumento nos preços dos insumos e o repasse teve que ser inibido pelo receio da queda no consumo. Se fôssemos repassar tudo teríamos uma defasagem de 10% a 15%".
Segundo ele, a realização da Copa do Mundo também contribuiu para o resultado negativo, porém sem afetar no faturamento da marca. "O Mundial não foi positivo para a gente, já que registramos uma queda significativa no movimento. Além disso, tivemos dificuldades em controlar a produção dos alimentos em dias de jogos do Brasil, o que impactou no desperdício".
Com 13 unidades entre lojas de rua e pontos em hospital, o grupo aposta no atendimento 24h para fidelizar o consumidor. Além disso, estão previstas duas novas unidades, até 2016. "Esse modelo de operação ajuda a diluir os custos fixos, uma vez que a demanda noturna tem crescido na cidade de São Paulo. Temos um público bem diversificado, sendo que durante a semana acabamos atendendo mais o perfil corporativo, que nos finais de semana são trocados pelas famílias", ressaltou.
Entre as principais dificuldades que a rede tem enfrentado, Del Nero aponta a falta de mão de obra qualificada. "Não temos muito problemas com padeiros e confeiteiros, pois temos políticas boas de salários. Mas está difícil de encontrar profissionais para o atendimento físico na loja".
Estrutura de alto padrão
Outra que também sofreu com os impactos da Copa no Brasil foi a Boston Bakery. Localizada na região do Itaim Bibi, na capital paulista, a marca viu seu faturamento reduzir em até 20% nos jogos do mundial, chegando a 30% em dias de jogos do Brasil, como contou o gerente-proprietário da marca, Gilson Dutra. "No almoço, por exemplo, registramos uma redução de até 70% no consumo em dia de jogos do Brasil, já que muitas empresas passaram a liberar os funcionários mais cedo".
Com operações 24h, a rede - com três padarias com nomes diferentes -, investe na qualidade dos serviços. "Há dois anos ampliamos a capacidade do bufê de 50 para 220 lugares, logo a expectativa é de crescer três vezes mais", conta o executivo. Ele acredita que a padaria que trabalha apenas com pães não irá conseguir sobreviver por muito tempo.
Considerada uma butique gastronômica, a Boston Bakery conta com um cardápio que vai desde a sopa a sushi e pizza. "Contamos com uma mercearia completa. Aqui ele consegue comprar desde um vinho e pacote de arroz até papel higiênico".
Pequeno empreendedor
Assim como as grandes redes de panificação, o pequeno empresário brasileiro do ramo também tem sofrido com a desaceleração da economia brasileira. Entre elas está a Santa Efigênia Pão e Cia, com duas unidades na região central da capital paulista e que viu seu faturamento cair 35% em uma das unidades durante o mundial da Fifa no Brasil. "A situação está bem complicada porque os preços aumentaram muito e não estamos conseguindo repassar. O setor está sofrendo um baque grande, já que tudo foi reajustado acima da inflação", ressaltou à reportagem o proprietário da rede, Marcelo Amorim.
Sem grandes perspectivas de crescimento, o empresário destaca que passou a investir em uma central de produção para reduzir os custos do negócio, otimizando assim a operação. "Hoje estamos ampliando e reformando nossas unidades, investindo principalmente no serviço de food service", lembrou ele.
De acordo com Amorim, hoje está muito difícil atuar no seguimento, já que não existe negociações com a indústria de insumos. "Comer fora de casa está muito caro. Além disso o aluguel está caro e a mão de obra também é alta, ficando a cargo do empreendedor repassar os custos ao consumidor. Acredito que esse seja um momento de reavaliar os negócios, já pensando no próximo ano", finalizou.
Diário Comercio Indústria & Serviços - 16/07/2014
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