terça-feira, 07 de janeiro, 2014

Novas fábricas devem pressionar preços para pior valor desde 2009

Em 2014, os preços da celulose deverão ceder à pressão da oferta adicional e recuar em relação aos valores médios praticados em 2013. Esse movimento, que era originalmente esperado para meados do ano passado, contudo, não deverá ser muito agressivo na opinião dos produtores. Entre analistas e consultorias, as previsões são um pouco mais pessimistas e o consenso indica queda das cotações no mercado à vista para US$ 740 por tonelada na média anual, o valor mais baixo desde 2009, quando ficou em US$ 562 por tonelada. Em 12 meses até setembro de 2013, a média foi de US$ 789 por tonelada, segundo a consultoria finlandesa Foex.
A principal fonte de pressão virá de novas fábricas. Ao mercado que hoje absorve 1,5 milhão de toneladas por ano da primeira fábrica da Eldorado Brasil, produtora de celulose da J&F Investimentos, também é dona da JBS, chegarão mais 2,8 milhões de toneladas anuais. Desse total, 1,5 milhão de toneladas começam a se tornar realidade na unidade da Suzano Papel e Celulose em Imperatriz, no Maranhão, que entrou em operação na segunda-feira. Outra parcela de 1,3 milhão de toneladas virá de Montes del Plata, joint venture entre Stora Enso e Arauco no Uruguai, cujo início de operação foi postergado para os primeiros meses de 2014.
Além disso, na China, a Oji Paper poderá colocar em operação, neste começo do ano, uma nova linha de celulose de fibra curta na unidade de Nantong, com capacidade para 350 mil toneladas por ano.

Entre aqueles que defendem que a queda dos preços será suave prevalece a visão de que o fechamento de fábricas de alto custo vai compensar parcialmente a inauguração de novas linhas. Foi justamente esse movimento que sustentou as cotações ao longo de 2013 e impediu uma queda mais brusca diante do início de operação da Eldorado. Em encontro com analistas, a Fibria, maior produtora global de celulose de eucalipto, indicou que os fechamentos de capacidade deverão alcançar 2 milhões de toneladas entre 2013 e 2015, com base em estimativas de empresas e do PPPC (do inglês Pulp and Paper Products Council).
Para Kurt Schaefer, vice-presidente de Celulose da consultoria RISI, 2014 deve ser um ano de volatilidade para as cotações da celulose, com recuo mais acentuado dos preços no segundo ou no terceiro trimestres - o ano, na verdade, vai começar com um reajuste já anunciado pela Fibria, de US$ 20 por tonelada ainda este mês, que levará os preços de referência da fibra curta a US$ 820 na Europa, US$ 870 na América do Norte e US$ 720 na Ásia.
A queda esperada para meados deste ano, conforme o especialista, deve ser seguida de uma forte recuperação da demanda (especialmente da China), com os compradores se beneficiando dos preços mais baixos para recompor estoques. "Diante disso, os preços da fibra curta devem subir no quarto trimestre e no início de 2015", disse Schaefer, em entrevista por e-mail ao Valor.
A capacidade instalada da indústria global vai subir 9%, enquanto a demanda deve crescer menos de 2% ao ano
Em relatório recente, a Fitch Ratings apontou que os fundamentos do mercado de celulose estarão "fracos" em 2014, o que deve se refletir em preços mais baixos. Conforme a agência, nos próximos anos, a capacidade instalada da indústria global vai crescer 9%, enquanto a demanda deve mostrar expansão inferior a 2% ao ano.
Para Fernanda Rezende, diretora da Fitch, nesse cenário, que combina cotações inferiores e investimentos elevados, a estrutura de capital dos produtores latino-americanos não deve se fortalecer. "A alavancagem dos produtores é alta", avalia a agência, acrescentando que, em 30 de setembro, a alavancagem média de quatro grandes companhias da América Latina (Fibria, Suzano, Arauco e CMPC) estava em 3,9 vezes.
A Fitch estima que o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) dessas quatro companhias ficará em cerca de US$ 4 bilhões no ano que vem, praticamente estável frente aos US$ 3,9 bilhões apurados em 12 meses até setembro. "Boa parte do resultado virá de negócios que não são de celulose e do aumento da capacidade de produção, compensando parcialmente a queda de preços", segundo a agência.
Para Schaefer, da RISI, após a entrada em operação da Suzano e a previsão para que Montes Del Plata entre no início do ano, haverá uma trégua na oferta adicional de celulose até o terceiro trimestre de 2015, quando começará a chegar ao mercado a matéria-prima proveniente da expansão da CMPC Celulose Riograndense. O projeto entrará em operação em maio de 2015. "Isso deixará aproximadamente um ano de intervalo entre os inícios de operação, o que será positivo para os preços da celulose no início de 2015."
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