quarta-feira, 13 de março, 2013

Soufflet dobra capacidade de produção de malte no Brasil

Quando o grupo agroindustrial francês Soufflet adquiriu o controle da Malteria do Vale, no Brasil, em agosto do ano passado, tornou-se o primeiro produtor de malte do mundo, ao lado da também francesa Malteurop.
Na sede da empresa, na região de Champagne, a duas horas de Paris, Jean-Michel Soufflet, o CEO desse grupo familiar que faturou € 3,5 bilhões em 2012, falou ao Valor sobre os planos para o Brasil e para consolidar a liderança global em maltaria.
Primeiro, o grupo quer dobrar a capacidade de produção da maltaria brasileira até 2014, com investimento próximo dos € 40 milhões, na expectativa do aumento do consumo de cerveja no mercado brasileiro.
O executivo francês conta que começou a preparar o futuro discutindo parcerias de "long term agreement" (contratos de cinco anos), com as grandes cervejarias instaladas no país - AB Inbev (controladora da Ambev), Heineken, Kirin (Schincariol) e Petrópolis (cervejas Crystal, Itaipava etc) -, que são clientes de longa data de seu malte francês. O grupo exporta 70 mil toneladas de malte para o Brasil anualmente.
A estrutura da Soufflet era essencialmente europeia, com 26 maltarias espalhadas em 11 países do velho continente. A aquisição inicialmente de 60% do capital da maltaria brasileira foi a primeira incursão importante no continente americano. Com isso, agregou 105 mil toneladas de capacidade de produção.
"Mas dá para ampliar bem no Brasil", diz. O plano é elevar a capacidade de produção em duas etapas, primeiro para 145 mil toneladas e depois para 200 mil toneladas no Brasil.
Para fazer o malte, é preciso cevada. Para isso, o grupo vai incitar agricultores a produzirem a matéria-prima numa distância de até 300 quilômetros da usina de Taubaté, para reduzir a importação e melhorar a qualidade.
O grupo francês espera contar com ajuda do Ministério da Agricultura, para permitir a importação de variedades estrangeiras de sementes de cevada. "As usadas no Brasil não são as melhores. As cervejarias esperam melhores variedades", diz Christophe Passelande, responsável pela expansão no Brasil.
De 130 mil toneladas de cevada que utiliza, a Malteria do Vale só compra 10 mil toneladas em São Paulo. Existe cevada produzida no Sul do país, mas o preço de transporte até São Paulo fica tão caro quanto importar, segundo Passelande.
No total, o Brasil consome 900 mil toneladas, dos quais metade vem da importação.
"O Brasil é um grande produtor agrícola e grande consumidor de cerveja, e parece mais lógico produzir cevada localmente para fazer seu malte", diz Soufflet, na expectativa de contar com cooperação do governo de Dilma Rousseff.
O Brasil é o terceiro mercado consumidor de cerveja, depois da China e dos EUA. Em termos de consumo per capita, os checos são os campeões mundiais, com 140 litros por ano - os brasileiros bebem 55 litros por ano. E é nos mercado emergentes que a demanda aumenta.
"Quando investimos em maltaria na Rússia, o russo bebia 17 litros por ano, e dez anos depois o consumo pulou para 80 litros. Isso dá coragem para investir no Brasil, onde a população vai crescer e o poder aquisitivo melhora", diz Soufflet.
Depois do Brasil, o grupo vai fechar negócio na Índia, para onde estão indo todas as grandes cervejarias internacionais atraídas por um consumo per capita de apenas 1,4 litro por ano, que tende a se multiplicar.
Mas o executivo diz que a produção no Brasil será só para consumo local, por uma razão simples: o país é caro demais. "Não seríamos competitivos para exportar, o custo de produção no Brasil é 40% maior do que na França", diz Soufflet, que conhece bem o Brasil de muitas férias, mas que não esconde a surpresa.
"O custo da mão de obra é muito caro. Há custos adicionais que não temos na Europa, como segurança as 24 horas do dia. O custo da energia é salgado. Aqui na França estamos habituados com a energia mais barata da Europa. E também temos de enfrentar um sistema tributário brasileiro complicado demais", afirma.
O grupo também quer entrar no negócio de venda de ingredientes para panificação no Brasil, aproveitando a sinergia com a aquisição do Grupo Guarner, na Argentina. A ideia é melhorar a mistura na farinha. "O próprio malte traz gosto e cor ao pão", diz Soufflet
"Quando vemos a situação da França ou Europa, não nos faz sonhar", diz Soufflet. "É mais empolgante investir no Brasil, onde o potencial é enorme."
Valor Econômico
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