quinta-feira, 14 de março, 2013

Polo no Paraná se moderniza e busca público da classe B

Há 15 anos, não havia mulheres contratadas pela fabricante de móveis Nicioli, de Arapongas, Norte do Paraná. Hoje, dos 180 trabalhadores da produção, 70 são do sexo feminino. Até dois anos atrás, 15% dos armários feitos pela Colibri, que possui fábrica na mesma cidade, tinham espelhos. Agora, o item está presente em 60% deles. A cor branca respondia por quase 100% das cozinhas feitas pela Poquema, localizada no mesmo polo produtor. A volta do vermelho, do azul e dos tons de madeira fizeram a porcentagem cair para 40%.
A indústria de móveis está mudando. E os empresários de Arapongas e região, antes focados no atendimento das classes C e D, estão de olho nas transformações, porque têm alvos ambiciosos. Querem atrair compradores de maior poder aquisitivo, especialmente os da classe B, e, no prazo de três anos, colocar o Paraná na liderança do segmento, que hoje pertence ao Rio Grande do Sul, onde está o polo de Bento Gonçalves.
"Cerca de 30% da produção de painéis de madeira é consumida aqui", diz Nelson Poliseli, dono da Poquema e presidente do Sindicato das Indústrias de Móveis de Arapongas (Sima). Segundo ele, os empresários estão investindo para melhorar os produtos e agregar valor. A Poquema, por exemplo, que faz 30 mil peças por mês, destinou R$ 7 milhões para automação, o que incluiu a compra de equipamentos italianos.
Os números do polo moveleiro do Norte do Paraná levam para bem distante a ideia do marceneiro solitário e suas ferramentas usadas para trabalhar a madeira. Na região há 841 indústrias, sendo 163 em Arapongas. Juntas, elas geram 18 mil empregos diretos, tiveram faturamento de R$ 1,4 bilhão em 2012 e exportaram US$ 107 milhões. A previsão de crescimento para 2013 é de 10% e a Movelpar, feira que começou na segunda e vai até sexta-feira, vai ser um termômetro para o ano.

O Sima não revela quanto as associadas investiram nos últimos anos em modernização. Mas no interior das fábricas máquinas modernas fazem o que antes exigia o trabalho manual. Há áreas separadas para cortes, colagens, para furadeiras e fixação de vidros. Elisete Neres, encarregada de embalagens na Nicioli, lembra que antes as portas de armários com vidro eram finalizadas com um martelo de borracha. Hoje, uma máquina fecha o processo com quatro portas por vez.
Na mesma fábrica, a pintura da madeira, com diferentes tons e texturas, é feita com o uso de esteiras e máquinas. São quatro minutos entre a entrada da chapa, a passagem por tratamento, pintura e secagem. Marlei Nicioli, que é gerente industrial, conta que a empresa surgiu há 51 anos para fazer artefatos de cimento, como tanques. Depois foi para balcões para pias, móveis modulados e, agora, passou a fabricar armários para quartos.
Os móveis da região são feitos com MDF (painel de fibra de madeira de média densidade) e MDP (painel de partículas de madeira de média densidade). Além dos avanços na pintura, muitos fabricantes estão usando as chamadas BP, que são chapas já revestidas em diversos padrões. A Colibri, que faz 28 mil unidades por mês de móveis para quarto e sala, é uma que está ampliando o uso de BP, conta Fabiano Laguna, gerente de programação e controle da produção. A intenção é atender a demanda do consumidor.
"O cliente tem de perceber valor no produto", diz ele, sobre as mudanças dos últimos anos. O uso de BP, de mais espelhos e alumínio é um desafio, segundo ele, porque além de encarecer os produtos, torna a logística mais complexa. "Aumenta o número de avarias", explica, sobre os espelhos, por exemplo. Foi preciso trabalhar em conjunto com o fornecedor para encontrar a maneira mais segura de transportar os produtos.
A Colibri foi criada há 23 anos e desde 2010 investiu R$ 12 milhões em terreno, barracão e máquinas. Ela faz 60 roupeiros e 250 racks por hora. "Há 20 anos, a pintura era feita a mão, com pistola de tinta, e demorava muito mais tempo", lembra o gerente. As mudanças na economia permitiram as alterações. As gavetas, por exemplo, ganham cada vez mais corrediças telescópicas, que permitem abertura total.
Em Arapongas ainda são feitos móveis populares, como um kit para cozinha com quatro portas e duas gavetas pequenas, um dos mais antigos da Nicioli, que permanece na linha porque ainda há demanda, especialmente em favelas do Rio e de São Paulo. Mas os estandes da Movelpar exibem produtos bem mais elaborados. Não só nos de madeira. Colchões e estofados feitos na região exibem cores e modelos modernos, com assentos retráteis, molas e tecidos de qualidade. "Todo o Brasil compra aqui", orgulha-se Poliseli, do Sima, que também quer aumentar as exportações do polo de 8% para 10% da produção.
Valor Econômico
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