sexta-feira, 22 de março, 2013

Ades some de loja e Unilever é criticada

Fabricante do suco de fruta à base de soja que descobriu um lote do produto contaminado com soda cáustica, a Unilever sofre desgaste em sua imagem, enfrenta queda de vendas do suco Ades e, ao mesmo tempo, tem que se preparar para negociar com varejistas. Estes não querem assumir o prejuízo da retirada de vários produtos da gôndola.
As vendas do suco Ades de diferentes sabores caem há cinco dias, segundo cálculo de redes varejistas ouvidas. O Valor apurou que a venda da marca Ades em 2011 atingiu R$ 540 milhões, cerca de R$ 45 milhões ao mês. Um lote de uma linha de produção de suco de maçã foi contaminado com uma solução de soda cáustica. Noventa e seis unidades foram afetadas, um número considerado pequeno em relação à produção anual (Ades tem 45% do mercado), mas houve uma reação em cadeia.
Algumas varejistas - Walmart, Grupo Pão de Açúcar e Sonda - tomaram uma medida preventiva e retiraram todos os produtos Ades das prateleiras. O Pão de Açúcar só manteve nas lojas os produtos com 200 mililitros (que estão fora de risco). O Valor apurou que a Unilever chegou a pedir a algumas redes para que não retirassem tudo das lojas. O Carrefour retirou só os itens do lote com problemas. Os sucos que saíram das prateleiras estão nos estoques das lojas ou em centros de distribuição.
"Foi um trabalho danado. Imagine retirar tudo de todas as lojas e mandar para o centro de distribuição. E ainda temos que torcer para, quando o produto voltar para loja, e se voltar, ele seja vendido", disse um varejista.
As marcas Sufresh Soja (da Wow) e Mais Vita (Yoki) ocuparam o espaço da marca Ades, que tinha em média metade das gôndolas de sucos à base de soja. Conversas preliminares, ocorridas nesta semana, entre executivos da Unilever e redes de varejo trataram do problema. "Em relação aos lotes contaminados, já está acertado que eles [Unilever] arcarão com o prejuízo, vamos abater a perda das próximas duplicatas. Mas não está acertado ainda o que vamos fazer com o que foi retirado das prateleiras por prevenção. E se voltar tudo para as lojas e o consumidor não voltar a comprar? Posso cancelar novos pedidos já feitos?", disse o diretor de uma rede. Procurada, a Unilever não se manifestou.
Segundo três redes de varejo ouvidas ontem, entre sexta-feira da semana passada (um dia depois de a Unilever ter comunicado a contaminação) e segunda-feira desta semana, houve queda na demanda da linha de sucos. Em uma grande rede de supermercados, o recuo na venda da marca Ades, em geral, foi de 27% nesse intervalo. Em outra rede de hipermercados, a redução foi de 35%, e numa rede de porte médio, de 22%.
Esse cálculo da queda deixou de ser feito pelas redes na terça-feira (as contas cobrem até a segunda-feira), porque nessa data as varejistas começaram a retirar das gôndolas os lotes de suco Ades. Na segunda-feira, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou a suspensão da fabricação, distribuição, comercialização e uso de todos os produtos Ades de uma linha de produção da empresa. Os produtos fabricados por essa linha podem ser identificados pelas iniciais AG.
Os efeitos sobre a marca já estão sendo sentidos, dizem especialistas, com desgaste oriundo da exposição negativa da marca - focada no ideal de produtos de qualidade e cujo slogan é "Sinta a energia saudável". "Até o momento, a população não ouviu a voz de ninguém da Unilever em um pedido público de desculpas. Foi uma postura decepcionante. A empresa perdeu a chance de fazer o mesmo que a Coca-Cola na Índia, em 2003", disse Jose Roberto Martins, presidente da consultoria GlobalBrands. Naquele ano, um estudo revelou a presença de pesticidas em refrigerantes da Coca-Cola vendidos no país.
"A Coca jogou fora todos os refrigerantes vendidos em todas as lojas do país. Acabou revertendo a imagem negativa. Mostrou que dinheiro é menos importante do que a imagem da marca", disse ele.
Valor Econômico
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