sexta-feira, 18 de outubro, 2013

Inflação e demanda preocupam Nestlé

A Nestlé, líder mundial no setor de nutrição, sinalizou "preocupação" com o impacto da inflação sobre a demanda no Brasil, o terceiro maior mercado no mundo para seus produtos, ao anunciar ontem seu resultado nos nove primeiros meses do ano. "Você está preocupado com seu país? Eu também estou", disse o CEO mundial Paul Bulcke, ao ser indagado pelo Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor, na sede da companhia em Vevey, na Suíça.
O Valor apurou que a Nestlé registrou no Brasil crescimento orgânico (excluindo aquisições, desinvestimentos e variação cambial) de cerca de 10% - acima dos 8,8% dos emergentes em geral, o dobro da expansão nas Américas (5,1%) e mais que o dobro da média global (4,4%), nos primeiros nove meses do ano. No mundo, a receita global 68,4 bilhões de francos suíços (US$ 73,13 bilhões) entre janeiro e setembro, uma alta de 4% sobre igual período de 2012.
A alta da receita no Brasil veio sobretudo pelo aumento de preços, afirmou o vice-presidente para as Américas, Chris Johnson. "Por causa da inflação aumentamos preços, particularmente de produtos lácteos", afirmou o executivo.
Conforme Bulcke, com "a volta da inflação" no Brasil a empresa procura compensar tentando repassar o máximo o que pode aos preços, o que por sua vez tende a influenciar a demanda. "Ainda não vimos queda [de demanda] no Brasil, mas estamos preocupados um bocadinho", disse ele, em português aprendido em seus tempos de trabalho em Portugal.
Para Bulcke, o fato de os emergentes estarem crescendo menos tem o lado bom de agora voltarem a uma "expansão sustentável" e que pode ser continuada no tempo. No caso específico do Brasil, considera que o país "tem algumas questões para resolver", em referência a reformas estruturais. "Mas confio sempre nos brasileiros."

A desvalorização de moedas como o real do Brasil e a rupia da Índia ante o franco suíço reduziram o valor das vendas globais em 2,5%. A fragilidade dessas duas moedas pesou na expansão das vendas, disse a diretora financeira Wan Ling Martelo.
A Nestlé calcula que o real teve desvalorização de 9,7% ante o franco suíço entre janeiro e setembro. Mas Bulcke minimizou o impacto para os negócios. "Produzimos quase tudo localmente no Brasil, e importamos muito pouco. É uma vantagem certa para nós", disse.
Entre cauteloso e otimista, Johnson considerou o ambiente de negócios no Brasil "claramente um desafio, mas estamos no país há 90 anos e vamos ficar mais 90 anos certamente". Indagado sobre a atual imagem do país no exterior, após ser um dos mais apreciados nos mercados, Johnson considerou que o entusiasmo pode ter sido um pouco exagerado. Mas destacou que o Brasil continua a crescer, "é impulsionador de crescimento na zona das Américas e somos otimistas para o futuro".
No anúncio dos resultados, Bulcke mostrou um gráfico que aponta ligeira redução nos investimentos (Capex) de pouco mais de 7% da receita total em 2011 para menos de 5% ultimamente, no que chamou de retorno à normalidade. Em 2011, por exemplo, a ideia era colocar o pé no acelerador para estar melhor preparado para a retomada da economia global.
Questionado sobre a influência desse movimento sobre os investimentos no Brasil, Bulcke disse que "cada país tem sua curva", sem entrar em detalhes. Johnson disse que a empresa continuará a investir no país. "Nas Américas, nosso Capex é estável, mas varia em cada país, depende do produto etc."
"No Brasil, nosso crescimento é muito bom, de toda maneira. Temos uma ampla variedade de produtos, tanto da categoria premium como populares, somos grandes no país e tudo isso ajuda", afirmou Johnson.
Bulcke reafirmou ontem a determinação da Nestlé de fazer desinvestimentos em áreas menos rentáveis ou que não se adaptam a sua estratégia global. No início do mês, o executivo já havia dito a investidores que a empresa concluiu a revisão de suas 1,8 mil unidades de negócios, para identificar quais devem ser descontinuadas por apresentar fraco desempenho. Ele não revelou o resultado desse estudo. Analistas avaliam que os centros de dieta Jenny Craig e a unidade de salgadinhos PowerBar podem ser vendidos.
Indagado se haverá desinvestimento no Brasil, Johnson respondeu que a decisão não será baseada em países, mas em unidades de negócios.
O crescimento de 4% nas vendas mundiais até setembro deveu-se, em boa parte, à melhora na demanda em economias emergentes. "Ásia e África aceleraram a retomada", disse Bulcke.
Globalmente, os negócios do grupo suíço aumentaram 1,1% nos países desenvolvidos e 8,8% nos emergentes. Foi menor nos dois casos em relação a 2012, quando a expansão tinha sido de 2,4% e 11,7%, respectivamente.
Na América Latina, a empresa destaca que a desaceleração econômica observada na região continuou, principalmente sob efeito de pressões inflacionárias, mas que seus negócios "resistiram", com a maior parte das categorias de produtos registrando crescimento de dois dígitos, ajudadas por "adaptação de preços".
A estratégia de crescer nos emergentes continua. Mas desta vez a direção da Nestlé voltou a mencionar mercados desenvolvidos, até então esquecidos diante das medidas de austeridade na Europa que afundaram a demanda por um bom período.
Na Europa a Nestlé reduziu os preços de produtos como café e chocolate e as vendas subiram 0,9% - situação que contrasta com a do Brasil, por exemplo, onde os preços subiram.
Valor Econômico - 18/10/2013
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