segunda-feira, 12 de setembro, 2016

Indústria investe na produção de sabão líquido para roupas

São Paulo - A fabricação de sabão líquido para lavar roupas surge como solução para incrementar receita e reduzir custos da indústria, além de parecer um segmento promissor para pequenas e médias empresas, dizem executivos do setor.
A expectativa de obter uma margem de ganho maior levou a goiana Sabão Geo a investir, exclusivamente, em uma linha de produção da versão líquida, conta o diretor da empresa, Márcio Brito. Segundo ele, a fabricação do sabão líquido para roupas começou em 2009 com o objetivo de otimizar custo.
"Fabricar sabão em pó traria rendimentos muito baixos para investimentos muito altos em equipamentos, processo e limpeza", observa ele. "Os insumos para produção são líquidos e a transformação para a versão em pó acaba sendo cara. Ao fazermos a versão líquida, otimizamos todo o processo industrial", acrescenta.
De acordo com o analista da consultoria norte-americana Consumer Edge Research, Javier Escalante, além do menor custo de produção, a indústria ganha em volume e valor de vendas ao priorizar o detergente líquido.
A consultoria Euromonitor Internacional estima que esse segmento vai movimentar R$ 2 bilhões em 2020, um crescimento de 29,5% na comparação com o ano passado.
Essa percepção de expansão levou a Audax Co a priorizar a fabricação do sabão líquido a partir de 2012, segundo o gerente de marketing da empresa, Diego Viriato. Na época, explica ele, a versão em pó foi terceirizada para reduzir custos.
"Não compensa mais fazer sabão em pó, algo que exige no mínimo uma etapa a mais na produção. Atualmente, só faríamos detergente em pó mediante uma demanda muito alta, que não vai ocorrer. Nosso foco é naquilo que rentabiliza mais", afirma Viriato.
Segundo o executivo, mesmo em um ano de atividade econômica fraca, a companhia deve obter uma receita 18% maior em relação a 2015. Parte da expansão é atribuída ao avanço neste segmento.
Recentemente, a gigante Procter & Gamble (P&G) também anunciou o fechamento de sua unidade na cidade de Louveira (interior de SP). A partir de dezembro, a companhia deixa de operar no segmento de sabão em pó com as marcas Ariel, Ace e Pop. Em comunicado, a P&G reforça seu foco em detergentes líquidos e a existência de "potencial de expansão de 60% para acomodar essa nova produção em Louveira".
O analista da Euromonitor, Elton Morimitsu, vê a medida como "inteligente", dado o potencial de crescimento do negócio. "A P&G está apostando em algo que já vem dando certo para eles em mercados internacionais. É um negócio no qual já possuem know-how e devem obter sucesso ao replicá-lo no Brasil".
Procurada, a P&G não atendeu à reportagem do DCI. A Unilever - dona da marca global OMO - e a Ypê também não quiseram comentar o assunto.
Crise
A expansão do segmento poderia ser maior se a crise econômica não tive se agravado tanto no País, na opinião do gerente de marketing da Audax. "O sabão líquido vinha em uma ascensão constante, mas sentimos que deu uma parada e sabemos que está relacionada ao preço, que é um pouco mais elevado. Isso abriu espaço para o produto em pó", pondera Viriato.
Em cinco anos, de 2010 a 2015, as vendas do detergente líquido subiram 544,7%, enquanto na versão em pó houve queda de 1,6% no período.
Na visão dos analistas, o ritmo de crescimento das vendas do produto com maior valor agregado será menor em 2016, considerando o avanço do desemprego e da inflação ao mesmo tempo em que a renda do brasileiro encolhe.
O presidente da Arco-Íris, Gerson Perussi, confirma a piora do cenário. Segundo ele, depois de registrar retração de 20% na receita líquida no ano passado sobre 2015, as vendas do sabão em pó tiveram melhor desempenho no primeiro semestre de 2016. A fabricante paulistana de produtos de limpeza trabalha apenas com a versão em pó e não planeja mudar o nicho de atuação. "É cedo para falar disso. Percebemos alguma recuperação nos últimos meses, resultado da crise."
Mesmo assim, o diretor da Geo, Márcio Brito, vê um aumento de competição no segmento. "A fabricação do sabão líquido é tão barata e simples que em breve teremos um número maior de fabricantes."
Esse aumento de concorrência vai provocar uma mudança no patamar de preços desse produto, beneficiando também os consumidores, avalia o analista da Euromonitor. "Com o surgimento de novos players o produto tende a ficar mais acessível e ter maior aceitação do consumidor", diz Morimitsu.
No geral, os executivos esperam que a indústria de produtos de limpeza tenha um desempenho melhor em 2017. "O ano que vem deve ser melhor para o mercado como um todo. Com mais renda disponível, é natural que haja uma percepção maior das vantagens de uso do sabão líquido e, consequentemente, aumento da demanda. Devemos estipular uma meta de, pelo menos, 12% de crescimento para 2017", calcula Viriato.
Apesar das perspectivas otimistas, Morimitsu não acredita no desaparecimento do sabão em pó. "É um produto muito presente na vida do consumidor e utilizado com diversos fins. Mudar um hábito de consumo leva tempo", observa.
Ele utiliza o exemplo do mercado norte-americano, onde o gasto per capita com detergente líquido, em 2015, foi de US$ 24, contra US$ 11 no Brasil. "Lá fora os números não eram tão bons no início, faz parte do processo. Nos Estados Unidos, o sabão líquido já representa mais da metade do mercado. No Brasil, ainda há bastante espaço para crescer", prevê.
Já o analista Javier Escalante, acreditando em um espaço cada vez maior para as versões líquidas, faz uma aposta mais ousada para o mercado nacional: os sabões em cápsulas de uso único, que dissolvem na água. "Eles representam um uso ainda menor de plástico na indústria e de água para os consumidores. Da mesma maneira que o mercado brasileiro está evoluindo para o líquido, pode vir a evoluir para as cápsulas."
Sustentabilidade
Morimitsu também acredita que a preocupação com o consumo consciente de água pode beneficiar fabricantes. "O apelo do bom uso da água é cada vez maior. O detergente líquido exige um consumo de água menor quando comparado ao produto em pó, tanto no processo de produção quanto no uso. A troca é boa para os dois lados", diz.
Na avaliação da presidente executiva da Associação Brasileira das Indústrias de Produtos de Limpeza e Afins (Abipla), Maria Eugênia Saldanha, além da redução do consumo de água, a fabricação de sabão líquido também reduz outros impactos ambientais. "Fazer sabão líquido garante menos emissão de carbono no ambiente e menor utilização de resina plástica para fazer embalagens", comenta ela.
DCI
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