quarta-feira, 01 de julho, 2020

Pesquisas desenvolvem tecidos que inativam vírus da Covid-19

Nos últimos meses, diversos pesquisadores vêm desenvolvendo tecidos capazes de inativar a quantidade de Sars-Cov-2, vírus responsável por causar a Covid-19, em suas superfícies. No início de junho, uma pesquisa brasileira ganhou destaque pela eficácia. A Nanox, uma Startup que já produzia tecidos que evitam a proliferação de fungos e bactérias, desenvolveu um tecido composto por poliéster, algodão e duas micropartículas de prata com o objetivo de combater o vírus. De acordo com Luiz Gustavo Pagotto Simões, diretor da empresa, as micropartículas conseguem oxigenar e destruir o vírus. "O tecido tem esse ativo de prata e o vírus Sars CoV-2 tem uma camada lipídica, uma camada de gordura que a prata oxida, quebrando a barreira de proteção do vírus. Então, ele destrói o RNA e inativa o vírus", explicou. O produto foi mandado para testes ao Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) e, em parceria com a Universitat Jaume I, da Espanha, e com o Centro de Desenvolvimento de Materiais Funcionais (CDMF) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Foi comprovado que a composição do tecido inativa até 99,9% de SARS-CoV-2 em dois minutos de contato. Na Suíça, um estudo semelhante ao realizado em São Paulo comprovou a mesma eficácia no início de junho em testes com máscaras faciais. Mas afinal, os tecidos são eficazes no combate ao coronavírus? Qual a sua aplicação? E o custo desses tecidos, é muito mais alto? O G1 ouviu os pesquisadores do projeto brasileiro e um infectologista para responder a estas questões. Para testar a eficácia do tecido, os pesquisadores utilizaram uma grande quantidade do vírus em laboratório e isolaram essa amostra. Dentro de um frasco, o tecido foi encharcado com uma enorme carga viral e foi observado se haveria a inatividade da Sars-Cov-2. Segundo Luiz Gustavo Pagotto Simões, em dois minutos de contato do tecido de poliéster, algodão e duas micropartículas de prata com o vírus, 99,9% da Sars-Cov-2 foi inativado. "Ali (na amostra) você vai ter mil unidades de vírus. Eliminando 99,9% você abaixa para cinco unidades de vírus. Então você tem uma redução drástica no vírus. O produto também é anti fungo, anti-odor e elimina bactérias", afirmou o diretor em entrevista ao G1. O Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), responsável por isolar o SARS-Cov-2 no Brasil, realizou os testes dos tecidos, liderado pelo professor Lúcio Freitas Junior, pesquisador ICB-USP, que explica como o procedimento foi realizado: "Infectamos um tecido sem modificação, outro com as duas modificações e um com o vírus que ficou dentro de um tubinho, sem nada, durante todo esse tempo. A gente teve que testar todas as possibilidades e deu um resultado interessante. O tecido normal (sem modificação) já elimina 20% do vírus. No pano com a modificação, elimina 99,9% do vírus. Ao ir a um supermercado ou em algum comércio, por exemplo, a pessoa está constantemente em contato com vírus e bactérias. Em uma suposição em que essa pessoa encosta em um objeto contaminado com o coronavírus e logo em seguida passa a mão na camisa, o tecido com a tecnologia desenvolvida consegue desativar 99,9% do vírus em dois minutos. Com isso, o contágio através do contato pode sofrer uma redução em determinadas situações. O infectologista Alexandre Barbosa, da Sociedade de Infectologia de São Paulo, no entanto, alerta que o contato NÃO é o maior causador da transmissão do vírus da Covid-19. "Ainda que os estudos mostrem que esses tecidos realmente possam ser protetores no sentido de inativar a Covid e outros vírus, bactérias e fungos, isso tem uma aplicabilidade, uma importância menor, secundária em relação à Covid, visto que a transmissão por contato ela não é tão importante. Cerca de 70%, 80% das pessoas se contaminam por gotículas, forma respiratória", comenta Barbosa. Nas máscaras faciais, porém, o infectologista acredita que há uma importância maior e o tipo de tecido pode ser um aliado no combate à propagação do vírus. Os tecidos podem ser utilizados na confecção de diversas roupas: jeans para a produção de calças e jaquetas, camisas sociais, uniformes de empresas, roupas de academia, jaleco médico e aparatos médicos em geral. Os testes realizados mostraram que o tecido pode ser lavado até 30 vezes até que o efeito contra o vírus comece a ser prejudicado. Os pesquisadores querem aumentar essa durabilidade nas próximas confecções. Luiz Gustavo Pagotto Simões estima que os produtos feitos com o tecido de poliéster, algodão e duas micropartículas de prata sejam de 3% a 5% mais caros dos que os comuns vendidos nos comércios. Segundo Simões os tecidos tecnológicos já estão à venda na grande São Paulo e no interior do Estado. Em outros países, tecnologias em tecidos para o combate ao coronavírus também estão sendo desenvolvidas. Em Indiana, nos Estados Unidos, cientistas desenvolveram um tecido capaz de inativar o coronavírus usando um campo elétrico fraco com baterias de microcéluas. O estudo mostra que a taxa de eletricidade não é prejudicial à saúde humana. Já em Israel, uma empresa desenvolveu um tecido com revestimento de nanopartículas de óxido de zinco, que também destrói bactérias, fungos e vírus. De acordo com a agência Reuters, um teste piloto com os tecidos está sendo realizado na Itália em veículos e no transporte público.
G1 - 01/07/2020
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