segunda-feira, 06 de junho, 2016

Feiras livres querem esticar a 'hora da xepa'

São Paulo - Diante de um cenário bastante complicado, as feiras livres de São Paulo buscam saídas para reverter uma queda de 35% nas vendas deste ano. Até a hora da xepa, quando os comerciantes oferecem descontos para não perder estoques, ganhou relevância.
Em São Paulo, representantes do setor já tentam junto a algumas subprefeituras ampliar o horário de funcionamento das feiras livres com o objetivo de ter mais tempo de repassar as últimas mercadorias aos consumidores, que têm aumentado a atenção ao final da feira.
"Nós estamos fazendo das tripas coração. Buscamos não repassar aumentos aos clientes para não ter resultados ainda piores. Mas só neste ano, as vendas caíram entre 30% e 35%", afirma o presidente do Sindicato do Comércio Varejista dos Feirantes de São Paulo (Sincofer), José Torres.
Segundo ele, os principais motivos para a queda nas vendas foram o clima desfavorável, já que choveu muito em regiões agrícolas neste ano, o que resultou na perda de produções, além da crise econômica que impactou o poder aquisitivo dos consumidores. "Está todo mundo sem dinheiro para compra, então, a hora da xepa virou o nosso 'horário de pico'", diz Torres.
Os pedidos pela extensão do horário de funcionamento das feiras livres, de acordo com ele, têm ganhado a atenção dos subprefeitos que, conscientes da situação, têm liberado os comerciantes a operarem além da hora determinada.
Para ele, outro fator que tem prejudicado as operações foi a redução de investimentos em novas barracas, logística e infraestrutura. "O transporte está mais caro e a situação nos impede de realizar investimentos nesse sentido, o que atrapalha bastante."
Clima
O efeito das vendas fracas nas feiras livres impactou diretamente os negócios da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), empresa pública vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
De acordo com a companhia, o volume comercializado no entreposto de São Paulo caiu 3,31% em abril deste ano, sobre um ano antes. O recuo é ainda maior quando a avaliação de vendas leva em consideração o período entre janeiro e abril de 2016. "Nos primeiros quatro meses deste ano as vendas caíram 4,1%, ante ao 1º quadrimestre de 2015", indicou ao DCI o chefe da Seção de Economia e Desenvolvimento da Ceagesp, Flávio Godas.
Para ele, parte da queda nas vendas aconteceu por conta da alta dos preços de produtos como batata, cebola, frutas importadas e pescados, cujos preços chegaram a subir até 50% no início deste ano. "A condição climática prejudicou muito. Tivemos que buscar abastecimento até nos importados por conta dessas perdas. E com o dólar no estágio que está, o preço sobe mesmo", observa.

Ele explica ainda que a cebola, por exemplo, teve de ser importada até de países como Espanha e Alemanha, já que a produção nacional não havia sido o suficiente.

Apesar das vendas fracas e cenário adverso, Godas revela que o movimento financeiro da Ceagesp no primeiro quadrimestre deste ano ficou acima do esperado por conta da alta nos preços dos principais produtos comercializados nas feiras.
Ao todo, a entidade diz ter sido movimentado um total de R$ 3,04 bilhões de reais, derivados das vendas de 1,083 milhão de toneladas de alimentos.
No mesmo período de 2015, o fluxo de capital foi R$ 2,58 bilhões com a venda de 1,129 milhão de toneladas em produtos.
"Mesmo com a demanda menor, o volume financeiro cresceu 18%. Tudo por conta dos preços elevados", comenta. Para o consolidado de 2016, a Ceagesp prevê uma queda entre 3% e 5% nas suas vendas.
Efeito em cadeia
Desencadeada em 2014, a instabilidade econômica que afeta o Brasil gerou uma reação em cadeia que ajuda a impactar ainda mais os negócios hortícolas.
Para o presidente do Sindicato dos Permissionários em Centrais de Abastecimento de Alimentos do Estado de São Paulo (Sincaesp), José Luiz Batista, o desemprego refletiu negativamente nas vendas desses tipos de produtos. "Na indústria, quando eles mandam alguém embora, significa menos consumo na cozinha da empresa. Ou seja, menos despesas. É assim também nos outros setores, inclusive restaurantes, varejistas e companhias de outros segmentos", explica.
Nos últimos 60 dias, diz ele, as centrais de abastecimento que atendem as feiras livres notaram recuo de até 30% nas vendas de frutas, verduras e legumes, itens que fazem parte do menu diário dos trabalhadores.
DCI
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