terça-feira, 05 de abril, 2016

Hotéis recuam no Brasil e crescem em países vizinhos

A recessão e a instabilidade política no Brasil, o maior mercado da América do Sul, puxam para baixo o desempenho da hotelaria no continente, apesar de dados operacionais positivos em outros países relevantes para o turismo da região, como Colômbia, Peru, Chile e Argentina, aponta o estudo anual "Panorama da Hotelaria Sul-Americana", divulgado pela HVS - firma americana de consultoria, com 35 escritórios no mundo - em associação com a HotelInvest e a STR, usando dados de 76 mil unidades de cinco países.
"No ano passado ainda havia expectativa que o quadro poderia melhorar no Brasil. Em 2016, já entramos sabendo que será um ano mais difícil para o país, com tendência de piorar", disse o diretor geral para América do Sul da HVS, Cristiano Vasques.
A hotelaria em todas capitais brasileiras pesquisadas sofreram com a menor demanda corporativa, o que resultou em menores taxas de ocupação e de receita.
As retrações dos indicadores operacionais da hotelaria nas cidades pesquisadas pela HVS variaram, para a taxa de ocupação, entre 1% (em Curitiba) e 19,3% (Belo Horizonte); para a diária, entre 0,4% (São Paulo) e 20,3% (na capital mineira); e no RevPar - receita média por quarto disponível -, de 2,6% (Curitiba) a 35,7% (novamente em Belo Horizonte).
A capital mineira sofre de maneira ampliada o mal que levou ao desaquecimento da hotelaria no Brasil - investimentos que começaram a ser feitos no momento em que o país crescia e vislumbrava maior demanda por causa da Copa do Mundo, mas cujos empreendimentos só ficaram prontos quando a recessão já dominava o mercado local.
Em Belo Horizonte, a oferta cresceu 33,5% entre 2013 e 2015. "O descompasso entre oferta e demanda vai persistir", disse Vasques. Segundo ele, esse mesmo fenômeno pode atingir o mercado hoteleiro do Rio de Janeiro, depois que passarem agosto e setembro, meses em que a cidade recebe os Jogos Olímpicos e Paralímpicos. Com a proximidade desses eventos, diversos hotéis estão sendo inaugurados.
Em 2015, foram abertos 4.277 novos quartos, sendo 65% do total na Barra da Tijuca. O crescimento da oferta aliado à queda de demanda ocasionou, já em 2015, queda de 14% na ocupação da hotelaria carioca. "Mais hotéis serão inaugurados em 2016. A demanda gerada pelos Jogos vai ajudar o desempenho, mas pontualmente", apontou Vasques.
Apesar da retração da hotelaria no maior país sul americano, HVS, HotelInvest e STR apontam que perspectivas são positivas na região porque a América do Sul ficou mais barata para viajantes.
Na segunda maior economia do continente, a argentina, a confiança do empresariado aumentou após a eleição do presidente Mauricio Macri. Já em 2015, apesar da leve queda de 0,5% na taxa de ocupação, Buenos Aires apresentou aumento na receita por apartamento disponível (RevPAR) em 6,1% e no preço da diária média em 9%.
"O que está acontecendo em Buenos Aires hoje pode se repetir em São Paulo em 2017", afirmou Vasques. "Quando a economia brasileira retomar, haverá melhoras dos indicadores operacionais, especialmente em mercados como São Paulo, onde a oferta parou de crescer de maneira rápida", disse o diretor da HVS.
O quadro traçado para o Chile também é de demanda crescente, como na Argentina. Com o aumento de 22% no desembarque de turistas estrangeiros ano passado no país, a hotelaria na capital Santiago capturou diária média 6,6% maior que em 2014.
"O Chile é muito dependente de commodity, e a queda desse setor afetou chegou a afetar as viagens de negócios. Mas como o mercado chileno já é mais maduro, sem aumento de oferta, houve espaço para avanço do RevPar na hotelaria, que também está avançando no turismo de lazer", apontou Pedro Cypriano, também executivo da HVS e responsável pelo estudo.
Já no Peru, o crescimento econômico é o maior vetor da hotelaria, especialmente em Lima, com os viajantes de negócios. A inauguração do Centro de Convenções na capital e o maior fluxo de estrangeiros alimentam o setor, diz a HVS.
O parque hoteleiro de Lima registrou 11% de ganho da diária média e de 4,6% no RevPAR. "Há um investimento em infraestrutura e em promoção dos destinos peruanos, que tem atraído mais viajantes de lazer além dos turistas de negócios", apontou Vasques.
"O crescimento da economia e do turismo corporativo no país indica cenário favorável para a rentabilidade do setor já no curto prazo", diz o executivo da HVS, citando o PIB peruano, que cresceu 2,7% em 2015 e tem projeção de avançar mais 3,4% em 2016.
Na Colômbia, a diária média da hotelaria de Bogotá cresceu 13% entre 2014 e 2015, mesmo com um incremento da oferta da ordem de 9%. A expansão da capacidade, para cerca de 4 mil leitos, foi alimentada pela política de benefícios fiscais para a construção de novos hotéis, que acaba este ano.
"O mercado de lazer na Colômbia tem se beneficiado de forma acelerada do processo de pacificação e do câmbio favorável, que vão beneficiar ainda mais a imagem do país como destino internacional, atraindo mais turistas de lazer", afirmou Pedro Cypriano, da HVS.
Valor Econômico
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