quinta-feira, 17 de dezembro, 2015

Exportação para países do Mercosul diminui 12% nos 11 meses deste ano

São Paulo - A venda de produtos brasileiros para os quatro membros do Mercosul rendeu 12% menos para o País nos 11 meses deste ano. O volume exportado para Argentina, Venezuela, Paraguai e Uruguai também caiu em 2015.
O momento econômico ruim, vivido principalmente de Argentina e Venezuela, "com queda de renda e piora da demanda", é destacado por Carlos Alberto Cinquetti, professor de economia da Universidade Estadual Paulista (Unesp). "Também ocorre que a indústria brasileira tem problema de competitividade e acaba perdendo espaço para outros países do mundo" conclui.
A Venezuela registrou a maior queda em 2015, de 33%. O país importou US$ 2,797 bilhões em produtos brasileiros durante os onze meses deste ano, ante os US$ 4,170 bilhões em igual período do ano passado. O volume negociado também diminuiu, de 2 bilhões de quilos para 1,1 bilhão de quilos.
Cinquetti ressalta o fenômeno da "curva em jota nas exportações", causada pela desvalorização do real. "Logo que o acontece a elevação do câmbio, os produtores mantem os preços das mercadorias em moeda nacional, o que equivale a menor valor em dólares". O professor explica que, em um segundo momento desta curva, o valor dos produtos é elevado pelos produtores.
Na Argentina, terceiro maior parceiro comercial do Brasil no mundo, a retração das compras chegou a 10% na comparação entre os 11 meses de 2014 e 2015. Foram gastos US$ 11,913 bilhões em produtos brasileiros neste ano e US$ 13,277 bilhões no ano passado. Em igual período, o volume de vendas caiu de 14,4 bilhões de quilos para 10,5 bilhões de quilos.
A retração também foi intensa no Paraguai, chegando a 23%. Entre janeiro e novembro de 2014, foram importados US$ 2,949 bilhões em mercadorias brasileiras. Em igual período deste ano, o valor ficou em US$ 2,271 bilhões. O volume caiu de 2,5 bilhões de quilos para 2 bilhões de quilos.
Já no Uruguai, a queda de 2% no valor das importações também foi acompanhada por leve retração no volume das compras. Foram gastos US$ 2,514 bilhões nos 11 meses deste ano e US$ 2,658 bilhões em igual período do ano passado enquanto que o peso das mercadorias negociadas caiu de 2,4 bilhões de quilos para 2,3 bilhões de quilos.
Victor Gomes, professor de economia da Universidade de Brasília (UNB), comenta que a situação econômica da América Latina está "complicada" e que apenas poucos países, "como Chile e Peru", passam por momento mais favorável. Para 2016, o economista acredita que pode haver incremento nas vendas para Argentina, onde o liberal Mauricio Macri foi eleito presidente. Entretanto, Gomes não espera "grande aumento" nas exportações para o Mercosul.
Cinquetti também destaca a "aposta de Macri" para maior abertura entre os países do Mercosul e com outros países. "A eleição dele pode facilitar o fechamento do acordo comercial com a União Europeia", diz. O professor também defende a aproximação comercial do Mercosul com mercados sul americanos "mais importantes", como o chileno, o colombiano e o mexicano. "Precisamos sair de uma perspectiva comercial mais ideológica e se aproximar de vizinhos importantes no continente".
O Fundo Monetário Internacional (FMI) estima crescimento pouco animador para o Produto Interno Bruto (PIB) da maioria dos membros do Mercosul no ano que vem. Enquanto que Argentina (-0,7%), Brasil (-1%) e Venezuela (-6%) deverão passar por períodos de recessão, Uruguai (2,2%) e Paraguai (3,8%) poderão registrar situação melhor em 2016.
Impacto na indústria
A venda de manufaturados tem peso importante na pauta de exportação para o Mercosul. Entre as mercadorias mais vendidas pelo Brasil, aparecem automóveis, tratores e diversas peças para veículos, como motores e pneus.
"O enfraquecimento do Mercosul afeta bastante a indústria brasileira", afirma Eric Bacconi Gonçalves, professor de administração do Instituto Mauá de Tecnologia. Entretanto, ele pondera: "como estamos em um momento de dólar muito valorizado, a queda no volume de vendas acaba sendo compensada pela desvalorização do real".
Assim como os outros entrevistados, Bacconi afirma que a tendência de mudança política "na Argentina e também na Venezuela" pode melhorar a situação para a indústria brasileira, "que também deve contar com a ajuda do câmbio nos próximos anos", completa.
Para fora
A queda na demanda doméstica e a desvalorização do real têm estimulado empresários a investirem nas vendas externas, segundo Sondagem Especial Comércio Exterior, divulgada ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). A pesquisa aponta que 57% das indústrias que exportaram no último ano pretendem elevar as vendas externas nos próximos 12 meses. Entre as que pretendem exportar, 42% acreditam que as exportações vão aumentar a participação em seu faturamento bruto; enquanto que 45% esperam estabilidade e 12%, diminuição.
"Em um cenário de queda na demanda doméstica, o aumento das exportações é uma saída para as empresas. É preciso mobilizar todos os instrumentos que facilitem esse processo, do combate à burocracia à eliminação do viés antiexportação das políticas domésticas. As empresas precisam de um ambiente mais favorável e que priorize uma atividade com tamanho potencial de gerar empregos", afirmou o diretor de Políticas e Estratégia da CNI, José Augusto Fernandes, em nota divulgada pela entidade.
DCI - 17/12/2015
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