quarta-feira, 07 de outubro, 2015

Fabricantes preveem reajuste de preço devido à alta de custo

As fabricantes de motocicletas já não conseguem absorver todo o aumento de custos no País, principalmente diante da alta do dólar frente ao real. Algumas marcas já preveem reajuste de preços, mas esperam amenizar a queda no ano com renovação do portfólio.
É o caso da Yamaha. Com participação importante no segmento de até 150 cilindradas, a montadora acredita que, em janeiro, os preços terão que ser reajustados. "Com o agravamento da crise e a seletividade do crédito no segmento de baixa cilindrada, teremos que repassar uma parte dos custos", afirmou o diretor comercial da empresa, Márcio Hegenberg.
Em entrevista ao DCI, o diretor presidente global da Yamaha, Hiroyuki Yanagi, disse que ainda é difícil falar em retomada, mas que o País continua sendo promissor. "O Brasil é o mercado mais importante para nós na região. Todos os países em desenvolvimento costumam ter uma recuperação rápida das crises pelas quais passam."
A Dafra, que também é representativa nas categorias de combate, avalia que o reajuste de preços da empresa não compensa o aumento da inflação. "O repasse que fizemos este ano foi certamente menor do que a alta de custos", contou o presidente da Dafra, Creso Franco.
Como estratégia para crescer, o grupo aposta na venda de motos de alta cilindrada do selo austríaco KTM. Parte da rede de concessionárias terá as duas bandeiras. "O mercado brasileiro de motos continua interessante, apesar do cenário", destacou Creso Franco.
Essa também é a filosofia da líder absoluta do mercado local, a Honda. Com cerca de 80% de market share, a montadora sofre com a retração do setor. "A tendência é que acompanhemos a queda do mercado total neste ano", comentou o diretor de relações institucionais da Honda, Paulo Takeuchi.
O executivo afirma que, por ora, a montadora não deve reajustar preços por conta da valorização do dólar. "Felizmente, somos uma empresa altamente verticalizada e com altíssimo nível de nacionalização, por isso o câmbio não nos afeta tanto".
Ele ressalta, contudo, que a apreciação do dólar tem impactos no conteúdo importado das operações da empresa.
"Custos industriais desse tipo acabam se refletindo no médio prazo. Temos que aguardar este ciclo para chegar a uma média do dólar para então tomar a decisão ou não de reajustar preços", avaliou Takeuchi.
Para o gerente-geral da Honda do Brasil, Alexandre Cury, a manutenção dos volumes de vendas é muito importante para a marca. "Nossa estratégia será de absorver ao máximo os custos", diz. "Mas dependendo de como fluir a apreciação do dólar, pode ser que haja aumento de preços".
Enquanto a montadora aguarda o desenrolar do fator câmbio, as vendas continuam retraídas no segmento de baixa cilindrada, em que a empresa é líder no País. Neste cenário, a Honda aposta nos consórcios para amenizar a queda. "Temos um instrumento muito importante na Honda que é o consórcio. Essa modalidade vem crescendo bastante nas nossas vendas", revela Cury. Segundo ele, a média histórica de participação do consórcio nos emplacamentos da marca não ultrapassa 30% do total.
Revisão para baixo
A Associação Brasileira de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo) reduziu as estimativas. "Ninguém esperava essa queda", afirma o presidente da entidade, Marcos Fermanian.
A Abraciclo projetava para 2015 um desempenho em linha com o registrado no ano passado. "Mas o cenário se deteriorou muito", acrescenta. Com isso, a produção de motos deve encerrar o ano com uma queda de 14,7%, para 1,29 milhão de unidades. Já os emplacamentos devem ter um declínio de 10,5% na mesma base de comparação, para 1,28 milhão de motos.
Fermanian explica que o setor não enxerga um horizonte e isso dificulta a tomada de decisão das empresas. "As montadoras não conseguem fazer ajustes na produção de um dia para o outro. Mesmo que a indústria faça ajustes, muitos dos pedidos dos fornecedores já estão a caminho", ponderou.
O dirigente acrescenta que o apetite por crédito vem diminuindo sensivelmente e que o nível de aprovação continua baixo. "Em torno de 30%, apenas", estimou.
Fermanian salienta, porém, que o 13º salário costuma ser uma injeção de ânimo no mercado, principalmente no segmento de baixa cilindrada. "Estamos apostando nesta edição do Salão Duas Rodas e no 13º para amenizar a queda", disse.
Segmento premium
As categorias de altas cilindradas, menos dependentes de crédito, têm apresentado desempenho melhor do que o mercado geral.
"Estamos ampliando nossa rede de concessionárias", afirma o gerente da Harley-Davidson no País, Flávio Villaça.
No entanto, o aumento do dólar acertou em cheio os negócios da empresa. Ele explica que 90% dos custos da marca são precificados em dólar. "Sofremos um grande impacto com a valorização da moeda norte-americana, mas não podemos repassar tudo ao consumidor", acrescenta. Segundo ele, haverá aumento de preços em cerca de 25% no ano que vem.
A britânica Triumph, que também importa conteúdo, sofre com o câmbio. "Todos que trabalham com componentes de fora estão sofrendo", comentou o gerente-geral da Triumph no Brasil, Waldyr Ferreira.
A montadora trabalha para repetir os 4,5 mil emplacamentos de 2014. "Essa meta não é ruim em um mercado que está em queda. Nos estruturamos bem para não ter que tomar medidas drásticas em momentos como este", acrescenta.
E para adicionar mais competição ao segmento, a norte-americana Indian Motorcycle chega ao País para brigar principalmente com a Harley-Davidson. Com preços entre R$ 49 mil e R$ 89 mil, a montadora espera vender entre 800 e mil unidades no primeiro ano cheio de operação.
"Acreditamos que o Brasil vai se tornar o maior mercado para a marca depois dos EUA", afirmou o gerente de marketing da Indian, Paulo Brancaglion. Com quatro pontos de vendas atualmente no País, a projeção da empresa é chegar a oito até o final do ano que vem.
DCI
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