quarta-feira, 03 de setembro, 2014

Volks já teme prejuízo no Brasil no próximo ano

O presidente da Volkswagen no Brasil, Thomas Schmall, traçou um cenário nada animador para o setor automobilístico do país nos próximos meses e em 2015. Neste ano, o executivo já fala em tomar mais medidas para ajustar os estoques. No ano que vem, a companhia deve registrar números de vendas semelhantes aos de 2014 e pode encarar o desafio de evitar o prejuízo das operações, segundo ele. Apesar da preocupação com 2015, ele vê o mercado brasileiro com potencial no longo prazo.
Schmall adianta que o mecanismo de suspensão temporária de contratos de trabalho nas fábricas (conhecido como "layoff"), em execução desde maio no caso da empresa, não deve ser suficiente para ajustar os estoques. "Em cinco meses, não vai haver o ajuste na indústria. Eu preciso de um pouco mais de tempo. Na Alemanha, a ferramenta de layoff pode durar até dois anos, o que ajuda bastante. Normalmente, o suficiente para passar por um ajuste", afirma.
O executivo já acena com a possibilidade de prolongamento de medidas trabalhistas que reduzam a produção nas fábricas. "Precisamos prolongar, arrumar uma outra ferramenta, como férias coletivas, até o fim do ano", afirma.
Para 2015, as expectativas do setor incluem as eleições para presidente da República como uma das variáveis. "Na nossa opinião, o mercado não vai avançar muito. Depende da eleição, que [conforme o resultado] pode ter um impacto positivo [em relação a medidas que podem beneficiar a indústria]. Mas se não tiver, vai andar de lado", disse. "E com isso temos de ter cuidado para não ter prejuízo. Porque com prejuízo você não vai conseguir manter os investimentos. O maior desafio é evitar o prejuízo no ano que vem e manter os investimentos", diz.
Apesar de dizer que tem como desafio manter o plano de investimentos em meio ao cenário, Schmall diz que seu objetivo é manter os desembolsos planejados de € 3,4 bilhões (R$ 10 bilhões) até 2018 principalmente para continuar lançando carros. "O desenvolvimento do carro da primeira ideia até a implementação dura cinco anos. Se a economia está se ajustando, você não para o projeto, mas compensa em alguns aspectos", diz. "Se você não tem produto, não tem futuro. Tinha uma época que os Estados Unidos não tinham dinheiro para investir em produto. Chegou um momento em que não havia novidade e aí os asiáticos cresceram no mercado. Todo o mundo aprendeu a lição, por isso cada montadora vai lutar e manter os investimentos", afirma.
Apesar de se dizer impedido de divulgar números de projeção de crescimento no Brasil, Schmall está confiante em uma recuperação daqui a um ano e meio. "Em 2016, o mercado e a Volkswagen têm muita chance de retomar [o crescimento]. Se vai ser três, quatro ou cinco porcento, depende muito."
Para crescer nos próximos anos, Schmall cita o lançamento de novos carros. "Por exemplo, não existia cabine dupla da Saveiro, agora tem. Isso traz um crescimento adicional de vendas. Outro exemplo: o Up [modelo "popular"], praticamente só tinha um outro carro nesse segmento, o Uno [da Fiat]. Mas o segmento mais forte hoje e no futuro vai ser da família Gol", afirma.
No mês passado, a Volks passou a General Motors em número de vendas. Para Schmall, o fato é consequência de ações pontuais. "Foi um mês com ações mais fortes, porque lançamos dois carros agora, o novo Fox e o novo Saveiro, não é uma situação em que está todo mundo crescendo. Mas acho que temos tudo para manter o segundo lugar no mercado e vamos avançar mais. Vamos lançar carros para ser o segundo e com o objetivo de crescer. Para liderar, depende um pouco dos outros players", diz.
Schmall defende mais competitividade da indústria nacional, que - segundo ele - sofre com custos de logística, energia e mão de obra. "Isso 'escapou' um pouco nos últimos anos", diz. "Mas tanto faz quem vai vencer a eleição. Porque isso não vai acontecer de sexta para segunda-feira. É um trabalho de médio e longo prazo", diz.
O executivo, que também é presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha de São Paulo, concedeu a entrevista durante o Encontro Econômico Brasil-Alemanha, que neste ano ocorre na cidade de Hamburgo e que tem discussões com ênfase em infraestrutura e logística. (Colaborou Eduardo Laguna, de São Paulo)
O jornalista viajou a convite da Volkswagen
Valor Econômico - 03/09/2014
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