terça-feira, 02 de setembro, 2014

Venda de carros aprofunda queda e tem pior resultado em quatro anos

Contrariando as expectativas de retomada do mercado após o fim da Copa do Mundo, agosto foi mais um mês fraco nas vendas de veículos novos no país, que agora registram queda próxima de 10% no acumulado de 2014 e o pior desempenho em quatro anos.
Os emplacamentos do mês passado caíram 17,4% em relação a agosto de 2013, somando 271,8 mil unidades, entre carros de passeio, utilitários leves, caminhões e ônibus. Na comparação com julho, a queda foi de 7,8%, conforme números preliminares, sujeitos a pequenos ajustes em relação ao balanço oficial a ser divulgado hoje pela Fenabrave, a entidade das concessionárias de automóveis.

O resultado eleva para 9,8% a queda dos licenciamentos no acumulado do ano, que estava em 8,6% no fechamento de julho. A diferença negativa em relação a 2013, de 241 mil veículos, equivale à perda de 18 dias de venda. No total, 2,23 milhões de veículos foram emplacados de janeiro a agosto, no pior resultado para períodos equivalentes em quatro anos.
Montadoras e concessionárias aguardavam o início de uma recuperação do mercado com o término da Copa, que reduziu o fluxo de consumidores nas lojas, assim como diminuiu o horário ou dias de funcionamento das revendas. Mas os números de agosto mostram que a média de vendas diárias, de 12,3 mil carros - excluindo-se caminhões e ônibus da conta -, ficou praticamente em linha com o acanhado ritmo de julho (12,2 mil) e junho (12,6 mil), ambos os meses prejudicados pelo Mundial de futebol no Brasil.
O desempenho segue longe da reação esperada pela Anfavea, a entidade que abriga as montadoras instaladas no país, no segundo semestre, período no qual a associação projeta um crescimento superior a 14% das vendas em relação aos seis primeiros meses do ano.
Tal estimativa se sustenta na sazonalidade - já que a segunda metade do ano é tradicionalmente mais aquecida -, no maior número de dias úteis e na expectativa de antecipação de compras no último bimestre, dada a recomposição do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) agendada para janeiro. A indústria também joga as fichas em medidas lançadas pelo governo para irrigar o mercado de crédito, uma vez que a seletividade bancária é apontada pelo setor como a principal responsável pela queda das vendas de automóveis.
Para a Anfavea, ainda é possível reduzir para 5,4% o recuo acumulado pelo mercado até o fim do ano. A maioria dos analistas, contudo, trabalha com a tendência de queda mais acentuada ao relativizar efeitos de estímulos do governo diante de uma demanda que perdeu força com a antecipação de compras nos últimos dois anos, junto com o cenário de maior endividamento das famílias, inflação elevada e perda de confiança na economia. Nas contas da consultoria Oikonomia, as vendas de carros devem fechar 2014 com recuo de 8% a 10%.
"O principal fator é a menor disponibilidade de renda. As pessoas precisam pagar a conta das compras de imóvel, televisão e veículos que fizeram nos últimos anos", diz Arnaldo Brazil, consultor da MSX International.
As paradas de produção nas fábricas continuam porque, além do mercado doméstico retraído, as exportações estão em baixa e as montadoras precisam reduzir o excesso de estoques. Nesta semana, a Ford suspendeu a produção de carros e caminhões na fábrica de São Bernardo do Campo, no ABC paulista. A montadora diz que a parada tem o objetivo de ajustar a produção à menor demanda. Os operários só voltarão ao trabalho na próxima segunda-feira. Segundo informações do sindicato dos metalúrgicos da região, a paralisação das atividades está sendo feita em caráter de "parada emergencial", com desconto no banco de horas dos trabalhadores.
Apesar da agressividade das marcas em campanhas promocionais, com taxas zero nos financiamentos e descontos nos preços que chegam a 10%, as vendas de carros de passeio e utilitários leves tiveram, no mês passado, queda de 17,3% em relação a agosto de 2013 e 7,6% ante julho. Como agosto teve calendário comercialmente mais curto, com dois dias a menos de venda, seu volume ficou abaixo de julho apesar da estabilidade no ritmo diário de vendas.
Segundo a Oikonomia, a Volkswagen recuperou a segunda colocação no ranking das marcas, em virtude da forte queda nas vendas da General Motors (GM). Enquanto a GM ficou com 15% das vendas totais, amargando seu pior resultado desde fevereiro de 2012, a participação da Volks ficou em 18,7% no mês passado. No acumulado do ano, a marca alemã também volta a ficar à frente, com 17,7% das vendas, contra 17,4% da GM. Líder do mercado, a Fiat teve 21,7% das vendas do mês passado.
Levantamento divulgado ontem pela consultoria Jato Dynamics, com base nos resultados registrados entre janeiro e julho, mostra que o Brasil segue atrás da Alemanha no ranking dos maiores mercados de carros do mundo. Com o crescimento superior a 3% no consumo de veículos no país, os alemães recuperaram a quarta colocação perdida para o Brasil há quatro anos. A vantagem alemã em relação à demanda no Brasil foi de quase 72 mil carros durante os sete primeiros meses do ano.
Nesse período, a China se distanciou ainda mais dos Estados Unidos na liderança do ranking. Os chineses compraram 11,6 milhões de carros entre janeiro e julho, 2 milhões de unidades a mais do que os americanos.
Valor Econômico - 02/09/2014
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