quinta-feira, 03 de julho, 2014

Festa impõe perdas a varejistas em junho

O mês da Copa do Mundo termina com desempenho fraco para o varejo no país, que passou os últimos dias calculando os resultados para critérios como vendas e rentabilidade. Mercado que movimenta quase R$ 2 trilhões em vendas anuais no país, o comércio pode ter perdido de 1,5% a 3% em faturamento bruto por dia com feriados em junho. Isso equivalente a uma redução de R$ 70,8 milhões a R$ 142 milhões a cada feriado nacional, segundo projeção de duas associações ouvidas ontem. Cenário econômico preocupante, com demissões em alguns setores e persistente queda na confiança do consumidor também afetaram demanda.
A perda pode a ser maior do que a soma estimada pelas entidades, porque o valor não contabiliza os dias com funcionamento em meio período de lojas que anteciparam o fechamento. Em junho, o comércio operou parcialmente em quatro dias com jogos da seleção brasileira. O Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV) prevê alta de 3,9% nas vendas em junho e de 1% em julho - abaixo da taxa de 5,1% acumulada até maio.
Executivos e entidades ouvidas concordam que uma cesta específica e limitada de produtos teve melhor desempenho em termos de demanda, mas ainda não é possível confirmar que o varejo conseguiu manter ou ampliar rentabilidade nesse período - especialmente pelo ambiente promocional que tomou conta de alguns setores no mês. Já existem liquidações de inverno em lojas de shoppings afetadas pela baixa demanda em junho, diz a Alshop, associação dos lojistas de shoppings.
Entre as categorias de produtos com vendas em dígitos mais altos estão carnes, salgadinhos e cervejas, como confirmaram as empresas Walmart e Sonda, além das associações de supermercados. "Também percebemos aumento na venda de comida pronta, com mais pessoas comendo em casa em dias de jogos", disse Rodrigo Mariano, gerente de economia e pesquisa da Associação Paulista de Supermercados (Apas).
Artigos esportivos ainda estão nesse grupo de segmentos beneficiados. "Em junho vendemos o equivalente ao apurado em todo o ano, sem perda de rentabilidade, com manutenção da margem para itens como camisa da seleção", disse Juliano Tubino vice-presidente de marketing da Netshoes.
Também nesse grupo de produtos com bom desempenho, houve aumento nas vendas de televisores na faixa de 30% a 50% em junho, apurou o Valor com duas varejistas. A rede de Lojas Colombo informou aumento de 50% nas vendas de televisores em maio e junho. O número geral do setor ainda está, porém, abaixo do volume de itens comprados pelo varejo - a produção feita para a entrega aos varejistas subiu cerca de 65% na Zona Franca de Manaus - houve fabricante que elevou a produção em 80%. Ou seja, sobra estoque de TV nas lojas em algumas redes.
"A área de eletroeletrônicos não teve um represamento de demanda, mas vai ter estoque no fim do trimestre e terá que fazer promoções para receber as encomendas de Natal", disse Luis Augusto Ildefonso da Silva, diretor de relações institucional da Alshop.
Entre as categorias com menor demanda estão vestuário, calçados e o setor de material de construção. Em supermercados e hipermercados, algumas categorias de produtos tiveram fraco desempenho, o que pode acabar afetando o resultado geral do mês. É preciso verificar se mercadorias que venderam bem compensaram a queda (na venda ou na margem) de mercadorias com piores resultados. "Em junho, ficamos 4,5% abaixo na meta determinada para o mês", disse José Barral, presidente do grupo Sonda.
"Metade dessa queda foi verificada só no último sábado, dia de jogos de oitava de final. Copa não ajuda em nada. Há consumidores que só adiam a compra porque precisam da mercadoria, mas há outros que não precisam daquele produto, pensam melhor e desistem de ir à loja", disse Barral. "A compra por impulso é a que mais sofre nessas horas, e nesse caso, entra, por exemplo, o setor de móveis", afirmou Eduardo Terra, presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC).
A principal razão de cautela dos varejistas não está, necessariamente, no resultado das vendas com a Copa, mas dos níveis de rentabilidade do período. Não é porque se vendeu mais que a lucratividade será ampliada. A margem de lucro bruta em TVs ou celulares, por exemplo, que teve boas vendas em junho, é menor do que a verificada em itens como sofás e armários para casa, com desempenho morno na Copa. Da mesma forma, ganha-se mais vendendo carnes do que cerveja, com margem mais baixa.
Sondagem da Alshop, associação dos lojistas de shoppings constatou que, nos dias de jogos, o comércio nesses empreendimentos teve queda de 30% a 35% no movimento de clientes. Segundo Luis Augusto Ildefonso da Silva, diretor de relações institucional da Alshop, em alguns casos, as vendas chegaram a cair até 40%.
O diretor informou que a Alshop previa avanço em receita do setor de 7% a 8% neste ano e, após o desempenho ruim no período de Dia das Mães e do Dia dos Namorados, a projeção foi caiu para alta de 5% a 6%. De acordo com Silva, houve enfraquecimento do varejo em junho, principalmente nos segmentos de vestuário, calçados e móveis. "Algumas empresas de vestuário dizem que houve melhora, mas não houve. O estoque de inverno está todo na loja, muitas começaram a fazer liquidação no início da estação para desovar."
Cálculos das perdas têm sido feitos pelas entidades do setor. O comando do IDV estima que, cada dia a menos de funcionamento, com feriados de Copa, afeta as vendas em 3%. Isso equivale, em média, a R$ 142 milhões a menos em vendas por dia, calculou o Valor, com base nos dados da Pesquisa Anual do Comércio. Houve feriado na abertura da Copa e os Estados decretaram feriados regionais
A SBVC considera um efeito menor, pois há transferência de compra de produtos não supérfluos para os dias posteriores ao feriado. "Calculamos uma perda de 1,5% por dia", disse Terra. "Supermercado perde menos do que shopping porque o primeiro tem lojas operando desde as oito horas da manhã e os shoppings, não".
A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) estima que a cada feriado nacional, o excedente operacional líquido das lojas (lucro líquido mais despesas financeira menos receitas financeiras) tem uma redução de 9,2% em relação a um dia comum, disse ontem o economista da confederação, Fábio Bentes. A conta foi feita utilizando a Pesquisa Anual do Comércio de 2012.
Na rede Magazine Luiza os resultados para o período da Copa, até o momento, ficaram "dentro do esperado pela companhia". A rede não divulga dados de receita em junho, por ser companhia de capital aberto. A Via Varejo (Casas Bahia e Ponto Frio) também informou que as vendas de TV estão "em linha com o previsto na sua estratégia de negócios".
Valor
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