segunda-feira, 14 de julho, 2014

Com R$ 4 bi, B2W tenta virar o jogo

Há cerca de três anos, a B2W vivia a pior fase de sua história. A dona dos sites Americanas.com e Submarino encarava o fracasso de um apagão logístico em pleno Natal de 2010. O índice de reclamações em todos os seus sites bateu recorde. A imagem de suas marcas foi duramente afetada. Em 2011, a B2W perdeu 70% de seu valor de mercado, havia desconfiança no setor quanto à capacidade de reação da companhia, que chegou ao fim de 2012 com prejuízo recorde, de R$ 170 milhões.
A atual B2W vem tentando se distanciar daquela. Com recursos de empréstimos e debêntures, entre outras fontes, foram investidos R$ 700 milhões na operação em 2013 e analistas ouvidos estimam que serão mais R$ 600 milhões a R$ 700 milhões em 2014. É o dobro do desembolsado há três anos. Entre abril de 2013 e junho de 2014, gastou R$ 260 milhões em cinco aquisições - chegou a comprar pelo menos dois negócios que prestavam serviços para rivais. Em apenas um mês (outubro de 2013), abriu três centros de armazenagem e nos últimos 12 meses, contratou 600 engenheiros.

O Valor apurou com fonte próxima à B2W que os controladores, os mesmos sócios da Lojas Americanas, projetam volta ao lucro trimestral até o fim de 2015 (ela dá prejuízo desde o terceiro trimestre de 2010) e expansão em receita líquida de 25% a 35% nos próximos três anos. É uma taxa acima da previsão do setor, de 20% em média. "Um dos esforços é crescer nesse ritmo sem que custos subam nas alturas, de duas a três vezes [a alta na]
receita, como em outros anos. É fazer ganho de escala trabalhar para a empresa", disse um consultor próximo à empresa. Procurada, a companhia não deu entrevista.
Um fato novo tem peso nessas projeções: nunca a B2W teve tanto dinheiro disponível para tentar entrar nos eixos. São quase R$ 4 bilhões previstos (eram R$ 110 milhões em caixa no início do ano), sendo R$ 2,38 bilhões em aumento de capital a ser concluído neste mês e R$ 1,46 bilhão em empréstimo do BNDES (os recursos são liberados à medida que os projetos avançam). Com a capitalização, o fundo Tiger Global se torna sócio minoritário na companhia.
Desde o anúncio do crédito do BNDES, na segunda-feira, as ações da B2W subiram 7%, atingindo ontem R$ 30,66. Com o Tiger dando claros sinais de aposta na empresa, o papel disparou 123% em 2014, maior alta do ano (Índice Brasil 100), com ajuste posterior das corretoras no preço-alvo do papel. "Eles saíram do sufoco e agora isso dá fôlego extra. Os donos estão dizendo ao mercado: 'Nós estamos no jogo", disse Sérgio Nóia, diretor executivo do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo.
Em seu último relatório, a equipe do UBS prevê lucro já no quarto trimestre de 2014. "Pressões financeiras devem ser muito reduzidas [com a capitalização] num momento em que as operações ganham forte impulso", afirmou Gustavo Oliveira, do UBS. "Despesas operacionais na empresa crescem num menor ritmo em função da melhora operacional. No médio prazo, [B2W] deve dar início a um ciclo de resultados positivos", escreveu Maria Paula Cantusio, analista do BB Investimentos.
Números do balanço de janeiro a março mostram alta de 33,2% na receita, com despesas operacionais subindo 25,9% e prejuízo liquido em queda de 5,7%.
Mesmo dentro dessa mudança de percepção, analistas têm feito ressalvas. A B2W é dependente de capital para investimentos, pois está num setor que demanda recursos. E a empresa, criada há oito anos, ainda é vista como uma companhia em construção. Essa necessidade de recursos deve continuar alta nos próximos anos. A soma de investimentos bateu em quase 12% das vendas em 2013 - o mercado considera adequado um percentual de 3%.
"Não são apenas investimentos em tecnologia ou distribuição que cresceram tanto. Despesas em marketing subiram assustadoramente para empresas como a B2W", disse Mariano de Faria, CEO da Vtex, empresa que presta serviços para companhias da área. "Grandes varejistas on-line consomem altos volumes de caixa, por causa do custo financeiro e da terceirização de áreas. Mesmo com os fortes investimentos, acho difícil esperar virada de resultados tão rápida", disse Roberto Wajnsztok, co-foundador da consultoria OriginV. Na análise de Oliveira, do UBS, é preciso levar em conta ainda que algumas decisões de investimento, como aquisições, feitas pela B2W em 2013, não têm "efeito transformador" a curto prazo.
Especialistas ainda ressaltam que a companhia planeja abrir mais sete centros de distribuição até o fim de 2015 - e foram três novos em 2013. "O equilíbrio dos estoques em função desse aumento deverá ser um desafio para a empresa a médio prazo", diz Maria Paula, do BB. Quanto mais centros, maior o risco de aumento indesejado de estoques.
Uma piora no nível de competição do setor a curto prazo também tem sido considerado pelo meraco, já que pode pressionar rentabilidade (a margem bruta da B2W caiu de 24,4% de janeiro a março de 2013 para 24,2% neste ano). A B2W não foi a única que recorreu a novas formas de se capitalizar para ganhar mercado. Nova Pontocom, do Grupo Pão de Açúcar, anunciou em maio a união de suas operações com a CDiscount, companhia de varejo on-line do Casino. A empresa resultante poderá captar cerca de US$ 2,5 bilhões na Nasdaq, bolsa de grupos de tecnologia nos EUA. O Mercado Livre vai emitir US$ 300 milhões em títulos no exterior e mais da metade dos recursos serão aplicado no Brasil.
Valor Econômico - 14/07/2014
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