terça-feira, 07 de janeiro, 2014

Investimento na produção de veículos sobe R$ 5,2 bi

O ano de 2013 promete não confirmar o recorde de vendas esperado pela indústria. Por outro lado, foi marcado pela profusão de novos projetos lançados por montadoras já instaladas ou que estão chegando ao Brasil. No total, os investimentos anunciados durante o ano somam R$ 5,2 bilhões, entre projetos de novas linhas de produção e a chegada - ou retorno - de marcas de automóveis hoje importadas, como as grifes do segmento premium Mercedes-Benz, Audi e Jaguar Land Rover.
A chegada dessas fábricas é uma vitória aos planos do governo de atrair investimentos e reduzir a defasagem tecnológica dos carros produzidos no país por meio de um regime automotivo que restringe a entrada de importados. Todavia, eleva o risco de excesso de capacidade da indústria, num momento em que a demanda por automóveis perde seu vigor.

Os projetos anunciados em 2013 adicionam uma capacidade de produção anual de 230 mil carros, além de outros 31 mil caminhões de duas fábricas que serão erguidas pelas montadoras chinesas Foton e Shacman em Guaíba (RS) e Tatuí (SP), respectivamente. Incluem ainda uma nova linha de motores, confirmada no mês passado pela também chinesa Chery, com investimentos adicionais de US$ 130 milhões em Jacareí (SP). Na cidade, a marca também constrói uma fábrica de compactos.
Poucas vezes, o país teve tantos investimentos confirmados em espaço tão curto de tempo no setor. Três desses projetos - da Audi, da Mercedes-Benz e da Volkswagen, na nacionalização da nova geração do Golf (veja gráfico acima) - foram anunciados em um intervalo de apenas 17 dias entre o fim de setembro e o início de outubro.
Outros ainda não chegaram ao governo federal, mas já tiveram protocolo de intenções firmado com os Estados, como o plano da pouco conhecida Amsia Motors, montadora de capital árabe que poderá investir até R$ 1 bilhão numa fábrica em Sergipe. O mesmo acontece com a Jaguar Land Rover, que fechou a rodada de novas fábricas deste ano, ao anunciar, no início deste mês, que vai construir a sua em Itatiaia, no sul do Rio de Janeiro. Os investimentos da marca britânica em sua primeira operação fabril nas Américas são estimados em R$ 750 milhões.
Antes disso, a Honda, em agosto, decidiu dobrar sua capacidade de produção de automóveis no Brasil com a construção de uma fábrica em Itirapina, no interior paulista. No fim do mês passado, o chefe global da montadora japonesa, Takanobu Ito, veio ao país para apresentar o projeto à presidente Dilma Rousseff e confirmou que a Honda vai montar a nova geração do compacto Fit no local.
Dois motivos atraem esses investimentos. Primeiro, o potencial de crescimento do consumo de veículos no país, sobretudo no segmento de luxo, que hoje representa uma fração insignificante do mercado, mas com tendência de dobrar de tamanho nos próximos cinco anos, conforme previsões das próprias montadoras.
Embora as vendas de veículos no Brasil caminhem para fechar 2013 com a primeira queda em dez anos, as perspectivas ainda são otimistas no longo prazo. O nível de motorização relativamente baixo da população brasileira - inferior, por exemplo, ao de países como Argentina e México - é o principal indicador de que ainda há espaço para novos avanços do consumo, principalmente pelo interior do país.
O segundo motivo se refere às crescentes restrições impostas pelo governo às importações de carros. Com a sobretaxa de 30 pontos percentuais do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) nas importações de veículos, as marcas são forçadas a produzir localmente para ter competitividade no quarto maior mercado automotivo do mundo. Para as montadoras sem fábrica ou projeto de investimento no país, as importações livres desse IPI extra são limitadas a, no máximo, 4,8 mil carros por ano.
Os investimentos confirmados em 2013 se somam a projetos que já vinham em curso desde o ano passado, como as fábricas da BMW em Araquari (SC), da Nissan em Resende (RJ) e da própria Chery em Jacareí - todas com inauguração prevista até o fim de 2014. Fora isso, outras montadoras elevaram a programação de investimentos no Brasil para fazer frente a novas demandas do novo regime automotivo - que cobra delas melhoras na tecnologia dos carros - e, também, levar adiante projetos que já tinham sido anunciados. A Fiat, por exemplo, anunciou em maio que vai investir R$ 15 bilhões no Brasil entre 2013 e 2016, o que inclui a construção de sua fábrica em Pernambuco, cujo início das operações deve acontecer em 2015.
No total, os investimentos da indústria automobilística previstos até 2017 superam R$ 75 bilhões, de acordo com levantamento da Anfavea, a entidade que representa as montadoras instaladas no Brasil.
Esses números mostram que o país está, claramente, no centro das estratégias de expansão dos grandes grupos automobilísticos do mundo, mas também trazem receio quanto ao potencial de o mercado absorver toda essa capacidade que entrará em operação nos próximos anos.
Nos cálculos da Anfavea, a capacidade de produção da indústria subirá, após esses investimentos, de 4,5 milhões para 5,8 milhões de veículos até 2017, cerca de 1 milhão de unidades a mais do que o consumo projetado. Preencher essa capacidade exigirá que as montadoras dobrem as exportações, o que muitos, contudo, acreditam ser pouco provável. Nas contas da Ford, a indústria terá um excesso de capacidade próximo a 40% no prazo de quatro anos.
Valor Econômico - 27/12/2013
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