quinta-feira, 18 de abril, 2013

Fundador da Blue Life ganha força na produção de tilápias

Quando o empresário paulista Ayres da Cunha Marques vendeu o plano de saúde Blue Life para a Amil, em maio de 2007, sossego era a palavra de ordem. Tão logo se livrou da dívida de R$ 100 milhões que a operadora de saúde acumulava, o cirurgião se mudou para uma fazenda às margens do rio Paraná, na pacata cidade de Aparecida do Taboado (MS). Mas não aguentou a calmaria e, poucos meses depois, já se envolvia em uma nova empreitada.
Laboratório para reprodução de alevinos na sede da Zippy
A convite de Antonio Carlos Amaral, ex-presidente da Assembleia Legislativa de Mato Grosso, Marques conheceu, em 2008, a Ambar Amaral, empresa de produção de tilápias fundada pelo amigo no município paulista de Santa Fé do Sul. A proposta era clara: criar os peixes na represa da hidrelétrica de Ilha Solteira e fornecer para a Ambar. "Ele fez uma fábrica de ração e um frigorífico e me entusiasmou", lembra-se Ayres da Cunha Marques.
Alevinos ganham peso em tanques escavados por 30 dias
Mas Amaral não contava que o entusiasmo de Marques seria tão grande. Ele não só decidiu investir na produção de tilápias em cativeiro, fundando a Zippy Alimentos, como também ergueu a própria fábrica de ração e, em fevereiro do ano passado, inaugurou um frigorífico, tornando-se um concorrente direto da Ambar. "Quando ele descobriu que eu estava construindo a Zippy, ficou um ano sem falar comigo. Mas só criar peixes não teria graça", conta Marques.
Engorda costuma demorar seis meses
Agora, quase cinco anos após iniciar os aportes de mais de R$ 20 milhões necessários para a criação do complexo da Zippy Alimentos, o empresário programa novos saltos. Com um faturamento projetado em R$ 24 milhões para este ano, a empresa de pescados já vislumbra atingir uma receita anual de R$ 60 milhões. Recentemente, a Zippy obteve a primeira autorização do intrincado processo burocrático que envolve concessão de uma nova área da hidrelétrica para a produção de peixes em cativeiro.
Processo de sangria das tilápias, mais um passo da verticalização da empresa
Sediada em Santa Clara D'Oeste (SP), na divisa com a sul-mato-grossense Aparecida do Taboado (ver mapa abaixo), o complexo da Zippy Alimentos abriga um laboratório para a reprodução de "filhotes" de tilápia - os alevinos -, uma fábrica de ração, uma graxaria e um frigorífico. "É um negócio complexo, como se eu tivesse montado cinco empresas", repete Marques.
O empresário justifica a necessidade de uma estrutura "complexa" diante da cultura brasileira ainda incipiente na produção de tilápias. Recentemente, o banco holandês Rabobank disse que a produção brasileira de pescados em cativeiro ainda está na "infância", apesar de seu imenso potencial. No governo, o ministro da Pesca e Aquicultura, Marcelo Crivella, já criticou publicamente a qualidade da ração para peixes produzida no Brasil.
Empresa cresce e projeta faturamento de R$ 60 milhões
Para Marques, verticalizar a produção da tilápia também é essencial para não ficar refém das "margens apertadas" típicas de um frigorífico, a exemplo do que acontece em unidades de bovinos, suínos e frangos. "Para produzir um quilo de filé de tilápia, preciso de três quilos do peixe", afirma ele. Nas contas do empresário, os três quilos de peixe custariam R$ 12,60, se a Zippy não produzisse os próprios peixes. Já o preço do filé de tilápia seria vendido por cerca de R$ 17. "Você tem todo o custo com mão de obra e transportes no meio disso. As margens ficam achatadas".
Na opinião do empresário, a Zippy também seria inviável se fosse apenas uma produtora de peixes, comprando a ração de terceiros e comercializando a tilápia com algum frigorífico, proposta original do amigo Amaral.
O modelo de negócios da Zippy começa na produção de alevinos. Atualmente, a empresa produz 600 mil "filhotes" por mês, mas a unidade de alevinagem tem capacidade para fornecer 2 milhões de alevinos por mês, de acordo com o gerente-geral da empresa, Cláudio Masocatto.
Produção de filé chega a quase 1,2 mil toneladas por ano
Os alevinos ficam oito dias na incubadora. Depois disso, passam 30 dias em tanques escavados, até atingirem um peso médio de 25 gramas. É só nessa etapa que a tilápia será finalmente levada para os tanques da represa, onde serão engordadas. A meta da Zippy é produzir a tilápia em seis meses. O peso ideal de abate é 800 gramas. Entretanto, a empresa leva entre seis e oito meses para fazer o peixe atingir, em média, 650 gramas, reconhece Masocatto.

Durante o período de engorda, os peixes são alimentados com a ração produzida na fábrica da Zippy, que produz 1 mil toneladas por mês. A unidade vende cerca de 500 toneladas para outros criadores de tilápias da região, obtendo uma receita adicional mensal de R$ 300 mil. A ração produzida pela Zippy é composta por farelo de soja, milho, um núcleo constituído de vitaminas e aminoácidos, além de farinha da carne e ossos e do óleo e farinha de peixe feitos na graxaria da própria companhia. Juntos, farelo e milho respondem por 95% da ração das tilápias.
No frigorífico, os peixes são insensibilidados com gelo, são finalmente abatidos manualmente e sangrados. Depois desse processo, são descamados mecanicamente, lavados, filetados e refiletados. Do total de 400 funcionários da Zippy, cerca de 300 trabalham na unidade de abate.
O processo seguinte é o de resfriamento e congelamento. Atualmente, a Zippy produz cerca de 100 toneladas de filé por mês, sendo que 80% desse volume são destinados às gôndolas das varejistas Carrefour, Pão de Açúcar e Walmart. "Vamos precisar de mais peixes, porque a demanda é crescente", diz Marques.
Produtos relacionados
Ver esta noticia em: english
Outras noticias
DATAMARK LTDA. © Copyright 1998-2024 ®All rights reserved.Av. Brig. Faria Lima,1993 3º andar 01452-001 São Paulo/SP